Quando se pensa em um
setting psicanalítico automaticamente nossa mente remete-se à um divã. Tão
criticado ou tão adorado, este é um dos pilares desta técnica. Bem a grosso
modo, a importância do divã está no fato de que deitado, de costas para o
analista, o paciente não poderá buscar em seu olhar qualquer sinal, seja de
aprovação, espanto, decepção, ou que busque nele uma “resposta”. Isto faz com
que o paciente vá trilhando um caminho muito próprio e que a partir da
associação livre vá adentrando por caminhos desconhecidos e profundos que lhe
pertencem. Ao analista cabe o papel de fazer algumas intervenções, como que se
estivesse balizando este caminhar. Fica aí o desafio do paciente de se
responsabilizar por sua caminhada e o desafio de analista de que com suas teorias e técnicas (e ansiedades) não
atropele os passos de seus pacientes.
Eis
aí algo que aprendi com a psicanálise! Dar passagem para que cada vez mais meus
pacientes caminhem com as próprias pernas em suas reflexões no processo
terapêutico. A medida que vão encontrando o caminho, vou me calando,
permitindo-os a “ir”. Neste contexto, de fato, a ausência do “olho no olho” faz
diferença.
Minha
motivação para escrever este texto veio ao atender uma paciente com queixas de
sintomas depressivos e psicossomáticos.
Esta paciente já havia ido a várias especialidades médicas. “Nenhum
remédio faz efeito, nada melhora”. Após
algumas sessões comigo, minha sensação era de que a consulta comigo era como mais um
médico ao qual ela se queixava de seus sintomas e em seguida perguntava: “E então,
o que eu tenho que fazer para melhorar?” Os atendimentos eram difíceis, o
discurso “cortado”, limitando-se à responder minhas perguntas. As sessões
estavam tornando-se sem sentido para a paciente e confesso, eu mesma me
questionava sobre meu trabalho com ela.
Até
que um dia decidi lançar mão de um simples desenho em branco e lápis de cor. E
pedi que enquanto conversávamos, que fosse colorindo a imagem...
Que
sessão interessante!!!! Enquanto a paciente olhava para o desenho e o pintava,
pôde me dizer coisas nunca antes ditas, como seu medo de ficar sozinha desde
quando criança e como tem medo de ficar sozinha agora na velhice. Tenho a
impressão que não estar olhando nos meus olhos, aguardando meu “parecer”,
possibilitou que ela pudesse dar os primeiros (próprios) passos em seu caminho
de autoconhecimento.
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