"A aula da dança" Edgar Degas
Por
Eliana Moraes
naopalavra@gmail.com
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@naopalavra
“Nada acontece quando você fica em casa. Eu sempre faço
disso uma razão para carregar a câmera comigo o tempo todo... Eu só fotografo o
que me interessa naquele momento.” Elliot Erwitt *
Carregar
a “câmera” consigo o tempo todo, este é um hábito que todos nós, imersos na
cibercultura, adquirimos nos últimos tempos. “Sair de casa” simboliza o olhar
para fora, ou seja, o movimento de extroversão. Eis o cenário perfeito para que
grandes experiências aconteçam aos olhares interessados naquele instante.
No
texto de hoje, vamos pensar sobre a relação histórica da fotografia com a
pintura, o diálogo dos impressionistas com a fotografia e possíveis
aplicabilidades desta amizade para a prática da Arteterapia.
O Impressionismo
“A fotografia é uma forma de ficção. É ao mesmo tempo um
registro da realidade e um autorretrato, porque só o fotógrafo vê aquilo
daquela maneira.” Gerard Castello Lopes *
A
invenção da fotografia (1839) e seu rápido processo técnico gerou um problema
entre as técnicas artísticas e as novas técnicas industriais, especialmente
para a pintura. Com a difusão da fotografia, que reduz os tempos de exposição e
permite alcançar o máximo de precisão, muitos serviços sociais passam do pintor
para o fotógrafo. A crise atinge sobretudo os pintores de ofício, que se
ocupavam dos retratos, vistas de cidades e campos, reportagens, ilustrações,
etc. (ARGAN)
A
utilização generalizada da fotografia promoveu na segunda metade do século XIX,
uma profunda influência sobre o direcionamento da pintura e o desenvolvimento
das correntes artísticas (como por exemplo a abertura do caminho para as
pinturas abstratas mais a diante).
O
impressionismo está estreitamente ligado à divulgação social da fotografia. O
ponto em comum, o interesse pela pesquisa óptica para aquele instante. De fato,
é difícil dizer se era maior o interesse do fotógrafo por aqueles pintores ou
dos pintores pela fotografia. O que é certo é que uma das motivações para a
reformulação da pintura foi a necessidade de redefinir sua essência e finalidade
diante do novo instrumento de apreensão da realidade.
Apesar
desta “inimizade”, os impressionistas utilizavam sem problema algum, materiais
de imagens fornecidas pela fotografia. Esta torna visíveis inúmeras coisas que
o olho humano, mais lento e menos preciso, não consegue captar, passando a
fazer parte do visível muitas outras coisas: por exemplo os movimentos das pernas
de uma dançarina ou um cavalo a galope, como também os universos do
infinitamente pequeno e do infinitamente grande, revelados pelo microscópio e
pelo telescópio, objetos que passam a fazer parte da experiência visual e,
portanto da “competência” do pintor.
Assim,
podemos afirmar que a fotografia contribuiu para aumentar o interesse dos
pintores pelo espetáculo social. Os fotógrafos por sua vez, mesmo se deixando
guiar de bom grado pelo gosto dos pintores na escolha e preparação dos objetos,
jamais pretenderam concorrer com a pesquisa da pintura. Nadar, um grande
fotógrafo, foi amigo dos impressionistas, tendo acolhido a primeira exposição
deles em seu próprio estúdio em 1874, mas nunca tentou fazer fotografias impressionistas.
Ele percebia que a estrutura de sua técnica era profundamente diferente da que
é própria da pintura.
Edgar
Degas não gostava de pintar paisagens, mas tinha interesse pelo mundo presente.
Por muitas vezes recorreu sem preconceitos ao auxílio da fotografia, que revela
aspectos ou momentos verdadeiros que escapam à vista. Para o
artista, como a fotografia, a pintura devia ver e tornar visíveis coisas
que o olho não vê. Mas a fotografia apresenta um instante, e a pintura uma
síntese do movimento; por isso, a pintura não poderia ser substituída pela
fotografia. (ARGAN)
Do Impressionismo à Arteterapia
“A câmera é um instrumento que ensina a gente a ver sem a
câmera.” Dorothea Lange *
O
ato de fotografar demanda que nossos olhos estejam abertos para o mundo
externo. Que sejam impressionados pelos detalhes, as sutilezas, os encantos, os
“interessantismos”, o inusitado. O que você vê? O que lhe desperta? O que te
toca?
Retomando
o contexto do primeiro texto desta série, aos pacientes introvertidos faz-se
grande estímulo quando propomos que tente fotografar aquilo que lhes chama a
atenção em seu cotidiano, por “menor” detalhe que seja. Certa vez uma paciente
fotografou e me mostrou seu prato de comida, chamando a atenção para as cores e
formas, além de me descrever seus sabores. De fato, para alguém tão embotado,
uma experiência sensorial que a convidava para a vida.
Este
despertar do olhar também pode ser feito na companhia do terapeuta em
atendimentos externos, podendo estimular a partir da relação transferencial a
exploração de diversas paisagens, imagens do cotidiano, pessoas, objetos, etc
Dentro do setting arteterapêutico, é possível enriquecer as percepções quando propomos ao paciente que fotografe seus trabalhos. Algumas surpresas se mostram quando observamos a imagem original e comparamos com a imagem na fotografia. Novas projeções podem surgir e serem trabalhadas. Este recurso torna-se mais profundo e eficaz com os trabalhos tridimensionais. Estes, por definição, constituídos de diversas perspectivas, podem ser exploradas ao olhar atento do autor/fotógrafo em seus diversos ângulos e possibilidades. escolhendo assim aquele(s) que mais lhe impressiona(m).
Dentro do setting arteterapêutico, é possível enriquecer as percepções quando propomos ao paciente que fotografe seus trabalhos. Algumas surpresas se mostram quando observamos a imagem original e comparamos com a imagem na fotografia. Novas projeções podem surgir e serem trabalhadas. Este recurso torna-se mais profundo e eficaz com os trabalhos tridimensionais. Estes, por definição, constituídos de diversas perspectivas, podem ser exploradas ao olhar atento do autor/fotógrafo em seus diversos ângulos e possibilidades. escolhendo assim aquele(s) que mais lhe impressiona(m).
Fotografar
algo que nos chama a atenção tornou-se um hábito em nossa cultura e como
arteterapeutas podemos fazer bom uso deste instrumento. Há algum tempo uma paciente
chegou para a sua consulta impactada com um objeto que havia capturado seu
olhar durante seu trajeto. Uma imagem de Nossa Senhora, virada
de costas em cima de um taco. Ainda sob o efeito deste encontro, ela
rapidamente fotografou a cena e trouxe para sua sessão impressionada com a
força da sincronicidade: ela estava justamente trabalhando em sua terapia a
necessidade de dizer não para seu filho e colocar-lhe um limite. Sua sensação
era que estava, como uma mãe, virando as costas para um filho.
Muito
haveria para falarmos com base na fotografia trazida pela paciente, mas
embasada nos impressionistas, sugeri que não ficássemos apenas com a
fotografia, mas que ela a usasse para criar a própria imagem, que fizesse um
desenho a partir daquela cena que rapidamente fotografou.
A
experiência aprofundou-se sobremaneira, pois ao transportar a imagem da
fotografia para o desenho a paciente visualizou algumas carrancas na barra do manto
de Nossa Senhora. Carranca, imagem simbólica: uma escultura de madeira a
princípio utilizadas nas proas das embarcações, compostas como expressões
endurecidas de homens ou animais, que tinham como objetivo espantar os maus
espíritos, por isso utilizada como um amuleto de sorte. Assim acolhemos as expressões
endurecidas para espantar os “maus espíritos” do caminho da relação entre mãe e
filho, buscando o retorno de sua sorte.
Estudar
História da Arte no diálogo com a Arteterapia é uma fascinante jornada. Descobrimos
verdadeiras riquezas teóricas e possibilidades práticas. Do Impressionismo,
podemos extrair como alguma das inspirações, o convite ao deixar-nos
impressionar com o externo, com a natureza, com as cores. Somos estimulados a
verdadeiras experiências de vida.
* “20
frases essenciais sobre fotografia”
Disponível
em: https://iphotochannel.com.br/inspiracao-em-fotografia/20-frases-essenciais-sobre-fotografia
Referências Bibliográficas:
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. Ed
Companhia das Letras, SP. 1988.
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Sobre a autora: Eliana Moraes
Arteterapeuta e Psicóloga.
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia.
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia. Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Autora do livro "Pensando a Arteterapia" CLIQUE AQUI
Parabéns, Eliana! Registros de excelência.
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