Por Valéria Diniz – RJ
valdiniz.td@gmail.com
Instagram @valeriadiniz50
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“...a Gestalt não reivindica o estatuto de ciência, mas tem
a honra de permanecer uma arte.” Ginger
Era
uma das primeiras sessões com Jhony. Tinha 34 anos, profissional da área de
finanças. Veio encaminhado por seu psiquiatra com diagnóstico de “Transtorno de
ansiedade”.Levantava da poltrona umas 5 vezes para beber água e consequentemente ir ao banheiro.
Cruzava
e descruzava as pernas na tentativa de disfarçar sua dificuldade em ficar
parado.
Em Gestalt, a proposta de
estar em contato ou entrar em contato com o que sente, o que diz, o que percebe
é sempre um convite desconhecido. Pode ser assustador, menosprezado, incompreensível,
dentre tantas outras estranhezas, mas, sei que, no primeiro momento não é nada
fácil.
Fazer contato é uma forma de
trazer à consciência os conteúdos desconhecidos, sentimentos, sensações, partes
importantes da psique que ajudam na
compreensão do modo de funcionar, de se relacionar consigo e com o meio.
Gosto de explicar aos clientes
a proposta do contato, qual o objetivo e importância desse aprendizado, não só
no espaço terapêutico, mas para a vida de modo geral.
Então
o convite:
-
Jhony , quero te propor que faça contato com o que você está sentindo agora.
-
Eu to muito ansioso!
-
Estou vendo, mas quero te convidar a fazer contato com o que você chama de
ansiedade.
-
Como assim??”
A resposta inicial do convite
costuma vir em forma de explicação ou repetição de uma palavra ou um conceito
já predeterminado.
Fazer contato com a ansiedade,
aqui no caso de Jhony, é uma possibilidade de ampliar a consciência e entender
o que a palavra “ansiedade” significa para ele. O que ela traz de percepção e
consciência. É aprofundar-se para além do conceito. É tornar consciente e
conhecida suas emoções, compreender, aprender de si e do seu modo de
relacionar-se com o meio.
Não temos o hábito em nossa
cultura ocidental de conhecer sobre nossa subjetividade e, não fomos ensinados,
ou melhor, não somos alfabetizados na linguagem das emoções.
A proposta de “fazer contato
com o que sente” é um novo aprendizado e, como tal, cada pessoa aprende a seu
modo e a seu tempo.
Em minha prática clínica tenho
percebido que as Técnicas Expressivas facilitam e suavizam esse aprendizado de
estar em contato. O que soa estranho e abstrato nas palavras fica mais concreto
e visível através da arte.
O que me leva a mudar o
convite:
-
Jhony , “sinta “ as imagens e separe aquelas que sobressaem para você.
Essa forma de convidar ao
“sentir” através de variadas figuras é como “uma alfabetização”. Primeiro,
sentir através das imagens diminui a ansiedade do desconhecido, do novo aprendizado.
As figuras são nossas conhecidas e quando voltamos a atenção para a escolha
temos a “ilusão” de estar fazendo algo fora de nós mesmos, o que diminui
consideravelmente a angústia (natural) de começar uma viagem para dentro de nós.
Com Jhony escolhi trabalhar
inicialmente com as figuras que posteriormente foram coladas em um fundo.
A colagem é uma técnica
simples usando apenas imagens diversas, cola e cartolina. Separo apenas três
cores de papel cartão (branco, preto e o lado avesso que oferece uma textura
rústica.
Na própria escolha do fundo já
estamos trabalhando o contato com suas emoções, de um modo mais sutil.
-
Escolhi o fundo rústico porque parece a terra.
É o máximo que ele consegue
dizer, no primeiro momento. Durante a escolha das imagens sua inquietação foi
diminuindo, conseguiu sentar no chão e passear pelas figuras, soltava suspiros
e sua respiração foi desacelerando. Escolheu e colou rapidamente, sem domínio
da quantidade de cola que acabava “borrando” sua criação.
E trabalhamos colagens por
algum tempo. Colagem de figuras, de papéis, de sobreposições variadas. Como foi
ganhando controle na quantidade de cola assim como ganhava controle sobre sua vida.
E, no caminho do aprendizado
fomos (eu e ele) conhecendo um pouco mais de seu movimento. Percebemos que
conseguiu ficar mais focado quando escolhia porque entrou em contato com seus
conteúdos internos. Que a respiração tranquilizou porque, finalmente, não
estava com a cabeça a “’mil por hora’, perdido em tantas preocupações”.
Posteriormente, ele mesmo
escolhia o material que desejava trabalhar. Com as cores aprendeu a fazer
contato com suas emoções. Com as colagens aprendeu a fazer contato com seu
movimento de priorizar, organizar. Com a cola aprendeu a fazer contato com sua
impotência em fazer tudo certinho, que é possível errar e tudo bem.
E através da arte foi
aprendendo a fazer contato consigo. A estar em contato no aqui e agora com
consciência do que sente e do que faz. Já alfabetizado na linguagem das emoções
percebeu que sua ansiedade tem muito a ensinar e agora, podemos dar mergulhos
mais profundos.
Em um dos nossos últimos
encontros antes de escrever esse texto, fizemos um desenho cego. Onde o contato
externo é quase nenhum, apenas os lápis em suas mãos encontram o papel. De olhos
fechados aos estímulos externos o referencial é seu próprio interior. O contato
é ampliado com a riqueza de sua subjetividade e meu objetivo é despertar seu
potencial criativo. Em Gestalt Terapia, para além do sintoma ou da doença, valorizamos
a potência criativa, o ajustamento criativo e saudável do ser humano.
Mas, sobre ajustamento
criativo vou falar em outro texto.
Para finalizar quero usar duas
frases:
“..que
a Arte nos aponte um caminho....” de Oswaldo Montenegro, que
nos indica uma possibilidade. A possibilidade de oferecer uma clínica mais
suave utilizando a riqueza das técnicas expressivas para facilitar o caminhar,
nosso e de nossos clientes.
“Se a
gente cresce com os golpes duros da vida, também podemos crescer com os toques
suaves na alma” de Cora Coralina, que nos mostra uma forma de tocar com
delicadeza, respeito e suavidade. Tocar a nós mesmos e aqueles que confiam em
nosso trabalho.
Que através da arte a minha
forma de fazer contato seja tocar com suavidade a alma daqueles que me colocam
em suas histórias.
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
________________________________________________________________________________Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Sobre a autora: Valéria Diniz
Psicóloga
Gestalt terapeuta
Mestra em Saúde Mental
Atendimento individual e casal .
Oficinas de Técnicas Expressivas em Gestalt
Muito maravilhoso estou ,encanta com a sutileza do trabalho, fiquei com gosto de "quero mais "...
ResponderExcluirGratidão pelo feedback.Esse é o primeiro texto de uma série. Teremos mais.
Excluir"Alfabetizar na linguagem das emoções." Gostei muito dessa proposta! Você, como em tudo que faz,se revela eficiente! Grato por compartilhar comigo. Beijos querida!
ResponderExcluirValeria querida, sensacional e estimulador!
ResponderExcluirFiquei emocionada em ler seu texto e também com gostinho de quero mais...
Parabéns pela delicadeza e sensibilidade, habilidades tão importantes em nosso trabalho.
Bjao!!
Obrigada pelo carinho !Bjs
ExcluirLindo texto! Parabéns! E obrigada por compartilhar. Bjs
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