Por Eliana Moraes (MG) RJ
naopalavra@gmail.com
Instagram @naopalavra
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Tenho investido em minha
observação clínica sobre as singularidades de cada material, aquilo que especificamente
ele desperta naquele que o experimenta. Tenho pensado no arteterapeuta como “um
promotor de encontros” entre o paciente/cliente e o material expressivo facilitador
do seu processo de autoconhecimento e individuação. Uma referência que constrói
meu olhar são as palavras de Fayga Ostrower, quando defende que o criar é uma
“intensificação do viver”. Ouvir o pedido intuitivo pelo material pertinente,
para a intensificação do viver do sujeito que cria, eis a profundidade do
ofício do arteterapeuta.
O estudo, a experimentação, a
criação de intimidade com cada material, faz parte da construção do
arteterapeuta e só assim desenvolverá a destreza de oferecer os materiais (com
riqueza de possibilidades) com naturalidade no momento do atendimento e da
escuta clínica. Pois, como defende Cláudia Brasil:
“Todas as características dos materiais atingem diretamente quem
usa, causando determinadas emoções que serão acolhidas na relação terapêutica.
Entender essas características e as necessidades de cada pessoa é a chave para saber
escolher o material adequado à situação.” (BRASIL)
De posse das propriedades de
um determinado material, é possível também dialogá-lo com outro que lhe faça
alguma oposição. E aqui está o objeto deste texto.
Tenho observado em minha
clínica pacientes em suas singularidades e biografias, trazendo questões
inseridas no eixo flexibilizar/dar forma, diluir/dar contorno, expandir/dar limite.
Em Arteterapia, o setting terapêutico se configura como um espaço em que o
paciente não “apenas” fala de sua
questão, mas age sobre ela através do
ato criativo, a partir do material pertinente à sua demanda. Neste contexto,
dois diálogos entre materiais se mostraram eficazes em minha clínica:
Lápis
Aquarelável e Canetinha
O lápis aquarelável tem se tornado um grande instrumento em minha prática. Um material intermediário, inicialmente se dá como um material de desenho, portanto de controle. Mas através dele, o autor deposita certa quantidade de pigmento no papel, que ao contato com o pincel umedecido, será diluído, tornando-se pintura. Aquarelar significa acrescentar água, amolecer o que está enrijecido e seco, diluir, flexibilizar, expandir. Pela Psicologia Analítica ainda contamos com o simbolismo de entrar em contato com a água que aponta para o investimento da função sentimento.
Por outro lado, estruturante é
também investir no elemento linha, que é aquele que dá forma, bordas,
contornos, estabelece as fronteiras e os limites. Neste momento a canetinha
desempenha o papel de ressaltar este elemento quando há a necessidade de se
evitar misturas excessivas e transbordamentos.
O ponto de equilíbrio está na
responsabilização (por si) pelo autor de, apossar-se de seu processo criativo
(de individuação) e escolher conscientemente onde deve expandir e onde deve investir no contorno que
estrutura. Pintar, preencher e expandir respeitando os contornos e limites que
o próprio autor estabeleceu é o grande desafio.
Na
maioria das vezes tenho proposto este diálogo de materiais e cores na forma da
mandala, para encaminhar ainda mais para a proposta do equilíbrio, integração e
harmonização dos movimentos de expansão e do estabelecimento de limites:
movimentos opostos que se complementam.
Outra articulação de materiais interessante se dá com a
aquarela e o pastel oleoso devido suas composições químicas:
“[Pastel Oleoso...] Possue cores fortes,
são fáceis de controlar... São viscosos pela oleosidade presente em sua
constituição.” (URRUTIGARAY, 2011, pag 63)
“ Como a aquarela é uma tinta resultante
de pigmentos de várias cores misturados geralmente com goma arábica, ela
precisa ser dissolvida em água para
ser utilizada. Portanto é a quantidade de água presente no pincel que
determinará a variação de tons...” (URRUTIGARAY, 2011, pag 64)
O diálogo entre estes dois
matérias proporciona o contato com dois elementos: água e óleo, que não se misturam, se
respeitam. Assim, um não invade o espaço do outro, mas podem dialogar
harmonicamente.
Através da aquarela, tinta tão
aguada, abre-se a oportunidade para a expansão dos gestos, traços e sentimentos além das misturas e até mesmo nascimento de novas cores e possibilidades.
O pastel oleoso atuará como traços de contorno, contenção, estrutura. Aqui vale ressaltar a importância de um pastel de qualidade para que o óleo/cera efetivamente possa fazer a barra. Vale também instrumentalizar o paciente, dizendo-o que quanto mais grosso o traço, mais eficaz será a borda. Nasce então o
desafio de uma composição que integre os materiais e tantos movimentos físicos e
psíquicos.
A articulação entre as
demandas e quadros clínicos com os materiais em suas especificidades tem se
tornado uma grande motivação para as minhas observações e teorizações na
Arteterapia. Confiando na potência do
processo criativo como mobilizador do ser humano de forma integral – nos
campos físico, psíquico, cognitivo e espiritual – cada vez mais acredito que o criar age como fermento do processo de
autoconhecimento. Pois como nos diz Fayga Ostrower:
“Cabe ter em mente que na arte, o fazer
equivale ao saber e o saber ao fazer.” (OSTROWER, 1983, pag 242)
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Referências Bibliográficas:
BRASIL, Cláudia. Cores, formas e
expressão: Emoção de lidar e Arteterapia na Clínica Junguiana
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos
de criação
________________. Universo da Arte.
1983.
URRUTIGARAY, Maria Cristina.
Arteterapia: A transformação pessoal pelas imagens
________________________________________________________________________________
Sobre a autora: Eliana Moraes
Arteterapeuta e Psicóloga.
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia.
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.
Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Sou formada em letras e foi na pós graduação em teoria da literatura que tomei contato primeiramente com a psicanálise. Como sempre usei a escrita e as artes visuais como expressão pessoal, fazia sempre uma ponte entre arte e psicanálise, arte e psicologia. Comecei a participar dos primeiros grupos de estudo em arteterapia em Recife desde os anos 90. A prática artística me direcionou para a minha escolha profissional definitiva. Hoje sou artista visual e arteterapeuta com pós graduação em Arteteraia em linguagens corporais(2012 a 2014). Sou uma pesquisadora de materiais e me identifiquei muito com esse texto. Gostaria de trocar informações com vocês.
ResponderExcluirVirginia Neves Baptista.( VICA)
Bem vinda Virginia!
ExcluirQue bom receber seu contato!
Que belo percurso!
Eu tb estudo as articulações da Arteterapia com a Psicanálise.
Por favor, nos envie um email para naopalavra@gmail.com
Assim vc ficará atualizada sobre nossos conteúdos e também poderemos trocar ideias!
Um beijo
Eliana