Por Tania Salete – RJ, atualmente
residindo em Fortaleza CE
taniasalete@gmail.com
taniasalete@gmail.com
“É
preciso enxergar o mundo com os olhos de criança”
Henri
Matisse
INTRODUÇÃO:
Dentre todas as lutas internas e externas que travamos, a
capacidade de manter um “olhar de criança” sobre as realidades da vida é um
desafio. Independente de nossa idade, preservar o olhar, a percepção infantil,
traz leveza e muita gratidão ao coração. A vida certamente tem outras cores e
formas quando conseguimos abrir este espaço em nós.
Matisse, o grande mestre e
gênio, nos estende este convite através de seus últimos anos de vida, com
belíssimos trabalhos dedicados à colagem.
Henri Matisse, nasceu na
França em 1869, foi pintor, desenhista,
gravurista, escultor e um dos fundadores do “Fauvismo” – o primeiro movimento
da arte moderna do século XX. Foram
assim denominados após a participação no Salão de Outono de 1905, em Paris, ao
lado de outros artistas que já não aderiam mais suavidade da paleta dos
impressionistas. Preferiam as cores fortes, traços mais expressivos e
pinceladas bem marcadas. A crítica detestou esta ousadia e os artistas foram
chamados de “fauves” (“bestas selvagens”). Surgiu então o Fauvismo, termo
pejorativo para definir este movimento, mas que acabou sendo benéfico para
divulgação e maior expansão das obras de Matisse, permitindo-lhe muitas viagens
pela Europa, África, Ásia, conhecendo novas tendências e sendo por elas
influenciados.
“UNE
SECONDE VIE”
Após uma carreira bem consolidada, aos 71 anos, Matisse foi diagnosticado com câncer. Após duas cirurgias e pouca expectativa de vidaa, ficou acamado e cadeirante, sem possibilidade de pintar. Foi um tempo bem difícil, de muito sofrimento e dor para o artista. Entretanto, sua capacidade de reinventar-se, a resiliência diante da situação e a imensa vontade de manter-se produzindo, criando, foi mais forte e impulsionou-o à uma das melhores fases de sua vasta produção.
Após uma carreira bem consolidada, aos 71 anos, Matisse foi diagnosticado com câncer. Após duas cirurgias e pouca expectativa de vidaa, ficou acamado e cadeirante, sem possibilidade de pintar. Foi um tempo bem difícil, de muito sofrimento e dor para o artista. Entretanto, sua capacidade de reinventar-se, a resiliência diante da situação e a imensa vontade de manter-se produzindo, criando, foi mais forte e impulsionou-o à uma das melhores fases de sua vasta produção.
“Une seconde vie”,
uma segunda vida, foi assim que ele chamou seus últimos 14 anos de vida, que
soube aproveitar como uma “fera selvagem”, aprofundando uma técnica iniciada em
1937. Matisse descrevia seu processo de criação nesta fase como “pintura com
tesouras”, o que para ele jamais deixou de ser uma renúncia a pintura ou a
escultura, mas uma espécie de aprimoramento e aprofundamento, com maior
liberdade e intensidade de expressão. Matisse disse: “Só o que eu criei depois
da doença constitui meu eu real: livre, liberado”.
Este novo estilo de viver levou-o a uma extraordinária explosão de expressão, com a simplicidade e vivacidade do olhar de uma criança. Uma revolução radical em sua carreira que lhe permitiu criar o que sempre desejou:
Este novo estilo de viver levou-o a uma extraordinária explosão de expressão, com a simplicidade e vivacidade do olhar de uma criança. Uma revolução radical em sua carreira que lhe permitiu criar o que sempre desejou:
“Eu precisei de todo esse tempo para
chegar ao estágio em que posso dizer o que quero dizer”. Henri Matisse
A técnica utilizada consistia em criar formas
espontâneas, recortadas livremente em papel, muitas vezes em grande escala,
chamadas de “guaches de découpés”. Depois eram pintadas com cores bem vivas e
coladas nas paredes de seu quarto-ateliê. Assim, Matisse criava um mundo
original, semelhante a um jardim, com formas, cores bem vivas e alegres. Uma
celebração à vida envolvia o artista!
"(...)o meu prazer
pelo recorte aumenta a cada dia que passa! Por que é que não pensei nisto
antes? Cada vez me convenço mais que com um simples recorte se pode expressar
as mesmas coisas do que o desenho e a pintura”. Henri Matisse
UNIVERSO
INFANTIL NA MENTE DO VOVÔ MATISSE
Inicialmente, as colagens de
Matisse sofreram resistência por parte dos críticos, devido a simplicidade
foram comparadas a brincadeira de criança ou “distração de um velho doente”. Na
época, as colagens não foram levadas a sério e nem se percebia a inovação
radical desse trabalho, muito menos a escolha de cores, formas e como eram
complexas e interessantes. Sobre a coragem e esforço para inovar, disse
Matisse:
“(...)o
esforço necessário para libertar-nos exige uma espécie de coragem; essa coragem
é indispensável ao artista que deve ver todas coisas como se as visse pela
primeira vez; é preciso ver a vida inteira como no tempo em que se era criança,
pois a perda desta condição nos priva da possibilidade de uma maneira original
de expressão, isto é, pessoal”.
Quando uma criança está diante de algo novo é tão
agradável perceber o maravilhamento que a envolve, quantas possibilidades
brilham em seus olhos, quanto desejo de usufruir do objeto admirado. Imagino que
este mesmo sentimento envolvia Matisse diante de seus recortes e colagens. Como
uma criança diante de algo completamente novo e cheio de possiblidades para uma
mente tão criativa.
O desenho no mundo infantil é algo natural e muito
prazeroso, assim como pintar, colar, recortar, rasgar. Porém, o desenho é uma
das maneiras que a criança tem de se comunicar, de expressar seu universo e de
como se sente no mundo que a cerca.
Outro fato é que frequentemente elas preferem desenhar ou
pintar aquilo que querem e não necessariamente aquilo lhe mandam fazer, pois
apreciam a liberdade de criar, de expressar-se do seu jeito.
Segundo Nancy Rabello, “a criança quando desenha traz imagens
mentais para o papel e cria sua obra de arte. Isso significa transformar o que
tem na sua imaginação em linguagem artística”. (p 21).
UMA
VIVÊNCIA ARTETERAPÊUTICA
Em uma oficina criativa para um grupo de
crianças, foi apresentada a obra de Matisse através da exibição de um vídeo bem
curto, em desenho animado, focado nos últimos anos de seu trabalho. As crianças
foram estimuladas a criar recortes do jeito que desejassem e depois poderiam
colar em uma folha. A proposta era: vamos pintar de maneira diferente; vamos
pintar como fez o Vovô* Matisse, usando a tesoura. Eles escolheram as folhas
coloridas de gramaturas diferentes e rapidamente a liberdade de criar tomou
conta do ambiente. Foi possível perceber o impasse de alguns quanto a forma que
escolheriam, a dificuldade de outros com a tesoura, como organizar seus
recortes na folha, o lidar com a frustração, pois nem sempre a imagem estava de
acordo com o que imaginavam fazer, as inúmeras tentativas de cortar, o papel
rasgar por aplicar mais força do que deveria, como colar desta ou daquela forma. Os resultados
foram muito interessantes, mas a melhor parte foi o prazer que as crianças
sentiram em fazer uma obra de arte com a liberdade e com um instrumento
diferente, no caso a tesoura.
A vida
de Matisse é uma inspiração em muitos aspectos, pela sua obra grandiosa, por
sua capacidade de superação e por não abrir mão de seu olhar de criança sobre o
mundo, as cores e as formas da vida.
“Meu
papel é apaziguar. Porque de minha parte, eu também preciso de
apaziguamento."
Henri
Matisse
*Pelo
fato de Matisse, no vídeo ser um idoso, as crianças o chamaram de Vovô Matisse.
Bibliografia:
Rabello, Nancy – O desenho infantil – Ed Wak, 2013
Oaklander, Violet – Descobrindo crianças – 17ª
edição – Summus Editorial
Textos na internet: www.henri-matisse.net/photographs.ttml
Textos do Blog Não Palavra
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Sobre a autora: Tania Salete
Graduação em fonoaudiologia, pós graduação em psicopedagogia. Especialização em Arteterapia pela POMAR, Rio de Janeiro, atuando com grupos terapêuticos e de apoio em casa de recuperação feminina e masculina. Atualmente residindo em Fortaleza.
Facebook: https://www.facebook.com/Caminhartes
Instagram: .instagram.com/caminhartes.arteterapia/
Blog: caminhartesarteterapia.blogspot.com/
Vovô Matisse e crianças.
ResponderExcluirPerfeita integração.
Linda inspiração.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito interessante. Foi uma fonte de inspiração para uma de minhas atividades. Gratidão.
ResponderExcluirAdoro Matisse pela liberdade que expressa. Obrigada Tania por lembra-me dele. Saudades
ResponderExcluirBjs
Parabéns! Tania, você proporcionou às crianças momentos de construção interior e da poética visual! Muito bom! E também, celebrou um dos maiores artistas, com sua delicadeza de alma! Ótimo trabalho! Bjs.
ResponderExcluirFantástico ver como podemos expor criancas à arte sem o pedantismo que os adultos têm com esse tema.
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