Suzane Guedes - RJ
olharparasi@gmail.com
F. chega ao espaço terapêutico relatando diversas questões
e sensações, entre elas, angústia, falta de ar, excesso de pensamentos e de
preocupações, falta de tempo para si, sentindo-se perdido.
Normalmente quando alguém chega até a mim para um
acompanhamento terapêutico, seja pela via da psicologia ou da arteterapia,
tenho sempre o cuidado de investigar sobre o estado de seu sono e sua
alimentação.
Se pudermos observar, muitas das questões difíceis que
vivemos aparecem nos padrões de nossa forma de dormir e na qualidade de nosso
sono.
A música popular brasileira na voz de Beto Guedes já nos alertou sobre a
importância da nossa capacidade de “sair de cena” para uma renovação para a
vida. “Lembra que o sono é sagrado e alimenta de
horizontes o tempo acordado de viver”.
Sendo universal e acessível a todos,
a música já faz seu papel de alerta para nossa saúde integral: não se esqueça,
sono é sagrado.
Tão sagrado que Clarissa Pinkola Estes dissertou sobre este estado que ela chamou
de “sábia inocência”, pois considera o sono como um momento de retorno ao
deslumbramento, doçura, onde há um refazer do ser no qual é possível o descarte
das atitudes defensivas que normalmente carregamos na vida diária, no dia a
dia, muitas vezes por sobrevivência.
Observo que um estado de ser de “sábia inocência” é também
vivenciado no setting terapêutico.
Costumo dizer aos meus clientes que fazer psicoterapia é um ato de coragem, é
permitir-se desnudar a alma.
Este aspecto tão valioso consentido
pela psicoterapia e arteterapia em laços que envolvem vínculos e confiança, vem
sendo tema de discussões no grupo de estudos “Teorias da Arte e Arteterapia” do Não Palavra. Nestes encontros
singulares estamos pensando constantemente nosso lugar enquanto arteterapeutas
e psicoterapeutas. E nesse pensar, intuir e agir, sempre nos encontramos com a
sensibilidade e com a nossa missão de resgatá-la e cultivá-la em nós mesmos ao
encontro do amparo e resgate do outro, assim como no caminho de despertá-lo para
sua própria sensibilidade.
Voltando à Pinkola, ela acrescenta
que este estado de inocência do sono é um jeito de se aproximar da natureza da
morte. Apesar de o termo inocente ser usado muitas vezes para indicar uma
pessoa sem conhecimento, um simplório, a palavra inocente em sua origem,
significa inocente de dano ou de lesão. E mais, em espanhol descreve uma pessoa
que tenta não prejudicar o outro, mas que também é capaz de curar qualquer
lesão ou dano causado a si mesmo. Lindo, não? Viva Clarissa!
Acredito que a humanidade necessita
cada vez mais de sonos restauradores, de desconstruções de armaduras humanas, e
ainda como descreve a autora de Mulheres
que correm com os lobos, de uma inocência alerta.
Cada dia aparecem mais aplicativos
de encontro, ferramentas eletrônicas, redes sociais num emaranhado virtual e
cada vez menos encontros que tocam a alma como conversas inteiras, pois percebo
as pessoas cada vez mais partidas. E partidas em si mesmas, mais angustiadas, correndo
contra o tempo e através dele, mas estas mesmas pessoas surgem desejantes de um
resgate do seu próprio universo, das suas raízes, de suas peculiaridades que
muitas vezes foram engolidas pelas rotinas, tarefas e buscas diárias.
Trabalho pelo resgate dos encontros,
e primeiramente para os encontros com si mesmos, com a própria história, com as
vivências pessoais mais singulares e profundas, afinal, este é um dos nossos
papéis.
E em um desses encontros, propiciados pela arteterapia,
propus a materialidade do velho, simples e sábio giz de cera. Estávamos
trabalhando a infância, eu como terapeuta observando seus movimentos e a
amplificação do inconsciente através do seu desenho, entendendo que este se
deriva do mesmo lugar que surgem os sonhos. Do outro lado, um homem, iluminado
com as possibilidades que aquela materialidade lhe trazia, me revela após a
conclusão de sua produção: o encontro com o resgate de um lugar pessoal que
traz a “atmosfera do céu”.
Faço minha parte reverberando e
acreditando nas possibilidades de cuidar do ser humano de uma forma integral,
entendendo que somos mente e corpo, psique e soma, continuamente interligados.
E venho sendo feliz, entendo que também ajudando a reconstruir pedaços inteiros
de seres em construção.
Com amor e gratidão, Suzane.
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Referências Bibliográficas:
ESTES, Clarissa P. Mulheres que correm com os lobos. Mitos e histórias do arquétipo da Mulher
Selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.
FURTH, Gregg M. O mundo secreto dos desenhos. Um
abordagem junguiana da cura pela arte. São Paulo: Paulus, 2004.
_________________________________________________________________________________Sobre a autora: Suzane Guedes
Suzane
Guedes é Psicóloga (CES-JF), Especialista em Psicologia e Desenvolvimento
Humano (UFJF) e Arteterapeuta (POMAR).
Colunista
no blog O psicólogo Online, no qual escreve sobre Autoestima.
Atua
nas cidades do Rio de Janeiro e Três Rios-RJ com atendimento clínico presencial
a crianças, jovens, adultos e idosos; ministra grupos e oficinas terapêuticas.
Também trabalha como orientação psicológica online.
Suzane
acredita na psicoterapia e arteterapia como grande ferramenta de auxílio à
transformação e desenvolvimento pessoal e social.
Facebook: https://www.facebook.com/olharparasi/Atendimento online: http://www.atendimento.opsicologoonline.com.br/suzane-guedes
Instagram: @olharparasi
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