Por
Laila Alves de Souza - Curitiba/ Rio de Janeiro
lai_ajt@hotmail.com
Heinrich
Karl Fierz elucidou em seu livro “Psiquiatria Junguiana” questões sobre a
clínica psiquiátrica dentro de uma perspectiva da psicologia analítica de C.G.
Jung. Inclusive, teve seu treinamento analítico e psicológico com o próprio.
Fierz iluminou questões como o manejo e o olhar (assim como a escuta) dentro
desse campo da psiquiatria. Em sua vasta experiência como médico e diretor de
instituições psiquiátricas, ele dirigia sua metodologia para um campo mais
psicoterápico do que a chamada “psiquiatria normal”. Esta, como bem conhecemos,
inclina-se mais para a linha de pesquisa no campo da farmacologia, enquanto
Fierz abria-se para outras esferas, indagando o conceito de diagnóstico,
loucura, trabalho da equipe dentro de uma instituição entre outras coisas,
todas elas sendo estudadas sob a ótica da psicologia junguiana.
Nessa
linha, vamos dar atenção a um capítulo especial sobre “o uso da escultura no
tratamento das psicoses”. Fierz afirmou que a expressão artística é uma das
formas de imaginação ativa; esta, por sua vez, consiste no diálogo do
consciente com um conteúdo psíquico. Esse diálogo junto com a atividade física
“(...)fornece um apoio positivo à estabilidade da situação psíquica.”
(p. 433). É como se, a partir da
atividade criativa, fosse reforçado tal diálogo.
No
caso da psicose, ele observou que a expressão artística através da escultura
seria de grande importância terapêutica. Por mais que a expressão escultural seja
uma técnica mais difícil que o desenho e a pintura, o trabalho físico com as
mãos pode expressar o conteúdo psíquico em um objeto sólido e tridimensional e
este objeto oferece ao paciente um ponto de apoio.
Além
dessa dificuldade apontada por Fierz, ele colocou outras que merecem atenção na
clínica da “terapia criativa”. Uma das
dificuldades é o problema da interpretação. De acordo com o autor: “Mesmo no
caso das imagens, temos que tomar cuidado para não debilitar a linguagem da
imaginação criativa e ativa com a linguagem interpretativa dos conceitos,
privando a imagem de seu efeito terapêutico direto.” (p. 434). A única
coisa importante o é comentário do paciente e falar muito sobre o objeto
significa matá-lo. Fierz, no entanto, reforça o apreciar o trabalho, e "com
freqüência, o importante não é sequer o resultado, e sim o processo da execução."
(p. 435)
O autor traz quatro aspectos, baseado em casos
clínicos, sobre o lugar que a escultura pode ocupar na psicoterapia:
1)
O autodiagnóstico;
O autor descreveu que uma paciente, ao
apresentar uma escultura, conseguiu representar sua condição psíquica. Através
da imagem, a paciente conseguiu mostrar seu próprio diagnóstico. Ela e o
terapeuta puderam observar em que pé estavam as coisas da sua situação psíquica
e encaminhar o processo terapêutico.
2)
A transferência;
Fierz contou que uma paciente deu a ele uma
escultura de presente. Ao ampliar o significado daquela imagem, o presente
revelou a situação da transferência, e, dessa forma, gerou material psicológico
para ser trabalhado no processo terapêutico.
3)
O trabalho escultural como instrumento da
terapia;
Em um relato de caso, Fierz apontou que um
paciente conseguiu romper a barreira de sua doença através do fazer esculturas.
O paciente não realizava nada de real em sua vida e nesse fazer, ou seja, na
atividade pessoal e criativa, ele conseguiu realizar algo e assim se libertar
da sua condição patológica. “Era apenas uma coisa pequena, uma coisa muito
pequena, mas muito pouco é infinitamente mais do que nada.” (FIERZ, p. 439)
4)
A escultura como expressão de um ponto crítico
na psicoterapia;
Em um outro caso clínico, uma escultura também
dada de presente a Fierz, teve um efeito terapêutico decisivo para o paciente.
O dar a escultura para o terapeuta, para um outro, fez com que ele saísse do
seu isolamento psíquico pessoal. E para essas situações em que uma escultura
foi ofertada a um outro, afirmou Fierz: “Desse modo, não apenas ‘alguma coisa
é feita’, mas ‘algo criativo’ é feito para uma outra pessoa. Uma ação modesta
destinada a outra pessoa também protege contra o excesso e inflação(...)”.
(p. 446-447)
Fierz, portanto, conclui em seu capítulo que a
escultura na psicoterapia não precisa ser ensinada, mas existe a necessidade de
um certo estímulo por parte do terapeuta. E que a criação de uma tem efeito
direto sobre o processo do paciente, sendo que a escultura tem que ser
compreendida e também apreciada, lembrando que a interpretação pode ser
perigosa.
“(...) É fundamental que o terapeuta reconheça a importância e o
significado da escultura no processo terapêutico. Esse conhecimento pode guiar
suas reações e favorecer seu relacionamento com o paciente.” (p. 447)
Através da leitura (e releituras) desse livro, pude encontrar, além de descrições dos conceitos da teoria da psicologia analítica, um olhar e uma escuta atenciosos às diversas manifestações que ocorrem dentro do campo clínico. Encanta-me esse olhar atencioso que Fierz tem pela alma, ainda mais pela alma considerada "doente" pelos olhos da psiquiatria clássica. Surpreende-me também que junto a esse olhar da alma (ou podemos dizer, uma alma que estuda outras) seja descrita de forma tão didática e com uma linguagem próxima. Recomendo, assim, a leitura dos outros capítulos que, junto com esse, mostra que a psiquiatria pode ter lentes mais humanas, ou poderíamos dizer, que tenta captar a dinâmica da alma nas suas diversas facetas.
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Referência
Bibliográfica:
FIERZ, H. K. (1997) Psiquiatria Junguiana.
São Paulo: Paulus.
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Sobre a Autora: Laila Alves de Souza
Psicóloga
Pós- graduada em psicologia clínica na abordagem da Psicologia Analítica.
Atendimentos clínicos pela abordagem da Psicologia Analítica no Rio de Janeiro.
Atualmente compõe a Equipe Não Palavra na gestão dos projetos.
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