Por Nanda Paggioli - SP
@habitarte.atelier (Instagram)
Bem vindo 2025! Um ano novinho para nós
caminharmos juntos. Pensei nesta potência que é o momento da chegada de um novo
ano, um novo ciclo que se revela para nós. Um convite para o vislumbre de nossas
vontades no horizonte, o nosso vir a ser e fazer neste 2025. Quantas energias são mobilizadas, ideias e sentimentos
pulsam em nossos corações e pensamentos. E pensando nas infinitas
possibilidades de abordar este início de ciclo e trazer a nossa autorresponsabilidade
sobre um universo inteirinho a ser desvelado, chega de forma espontânea, a
imagem de uma criança em seu berço observando um mobile com curiosidade e
atenção. Fui capturada pela imagem.
Em Arteterapia, sermos capturados por uma
imagem, é um processo comum e muito potente. Decidi ampliar este diálogo, e
algumas perguntas norteadoras chegaram em minha mente: Quais os benefícios de
usarmos um mobile? Existem diferentes tipos de mobile? O ato de contemplar o
movimento do mobile mobiliza quais forças psíquicas? Acolhi estas indagações e
resolvi pesquisar este assunto com uma visão terapêutica e artística.
O mobile é muito mais do que apenas um objeto
decorativo, ele é algo que estimula o desenvolvimento cognitivo da criança,
pois estimula a visão, tato e a audição. E em cada fase, sua forma, tipo de
materiais e o uso das cores, nos mobiles tem sua função para o desenvolvimento
cognitivo e psicomotor (1). Pensando no setting arteterapêutico, podemos
ampliar este diálogo sobre a percepção dos nossos sentidos, usando diferentes
tipos de materiais na confecção dos mobiles, que trará diferentes percepções do
sujeito no ato de produzir o seu móbile, bem como o de contemplá-lo.
A citação de Carrano, complementa este diálogo:
“A arte é sensorial, pois no ato da criação, ela conecta o homem com seus
sentidos, ao se relacionar com o material. E é nessa manipulação que a
percepção se manifesta agindo por meio do tato, da visão, da audição;
despertando a imaginação, que é esculpida, lapidada e incentivada a cada
momento (2).
Na arte visual, o termo "mobile" é
usado para nomear esculturas compostas por materiais leves, suspensos no espaço
por meio de fios. Essas peças são movimentadas pelo ar e se caracterizam
pelo equilíbrio, leveza e harmonia. Existem diferentes materiais utilizados
para fazer um mobile. Quando falamos de mobiles no meio artístico, destaca-se o
artista Alexander Calder, que é considerado um precursor deste tipo de
estrutura na arte. Eliana MoraEs, nos traz informações valiosas deste artista em
seus estudos publicados no blog Não Palavras (3). Em seu texto, ela também relata
duas propostas arteterapêuticas muito interessante com o uso dos móbiles e dos stábiles
como proposta de trabalho no setting terapêutico.
Tania Salete, também traz sua experiência ao
trabalhar com a fluidez delicada e flexível do mobile durante um processo de
ressignificação da dor. (4)
Prática Arteterapêutica
Inspirada na imagem recebida e nos trabalhos
de minhas colegas arteterapeutas, a proposta foi trabalhar inicialmente com
algo simples mas que trouxesse a energia do novo porvir, de um novo ciclo. Por
isso a proposta foi trabalhar com a construção de um mobile de papel em forma
de uma espiral, para mobilizar primeiro a leveza, o contraste visual (pelas
cores e linhas), e o movimento que esta forma espiralada nos remete sobre as
vontades e expectativas desejadas para este novo ano.
A proposta foi realizada em quatro etapas. Na
primeira, cortamos o papel A4 branco no formato de um círculo. E então é feito
o convite para expressar suas vontades intencionados para este ano, na forma de
imagens (abstratas ou figurativas) ou palavras utilizando o riscante pastel
oleoso neste círculo. Em uma segunda
etapa, no verso do papel, o convite é expressar simbolicamente com cores que
representassem a “força” complementar a ser trabalhada, que traz o apoio para as
vontades conseguirem nascer no mundo.
Verso
Na
terceira etapa, com auxílio de uma tesoura, recortar o círculo no formato de
uma espiral. Suspendemos esta espiral, com um fita de cetim. A espiral que
antes estava no plano bidimensional ganha volume e vai para o tridimensional.
A ideia de usarmos a forma espiralada é para
trazer um movimento natural e delicado dos ciclos da vida.
“A espiral é um símbolo de evolução e de
movimento ascendente e progressivo, normalmente positivo, auspicioso e
construtivo, sobretudo na sua forma. Enquanto plana, a espiral pode ter
associado o movimento de evolução e de involução. O psiquiatra e psicanalista
suíço Carl Jung escreveu que a espiral significa que, quando você faz uma
espiral, você passa sempre pelo mesmo ponto em que esteve antes, mas nunca
exatamente o mesmo verticalmente (5).”
Na última etapa, a espiral pode então ser
contemplada, e o movimento espiralado que surge pode vir da corrente de ar do
ambiente ou do sopro dos nossos pulmões.
Quando a espiral sai do plano bi para o
tridimensional, um convite visual é feito para o participante refletir, sobre
um aspecto de verticalização que realizamos na vida, perante o nosso processo
de individuação, trazendo forças estruturantes, que no futuro podem ser usadas
para trazer equilíbrio e harmonia em nosso fazer na vida. Por hora, a proposta é
de nos conectarmos com a energia da presença, leveza, concretude, movimento e
subjetividade para esta escultura flutuante criada. A escolha de onde iremos dependurar o móbile,
também pode entrar no processo de diálogo arteterapêutico, sobre o ritmo que
queremos dar a este movimento espiralado em nossas vidas.
Conclusão:
Este trabalho arteterapêutico, intenciona no
fazer artístico sensorial e contemplativo do móbile, trazer a mobilização de
força motivacional e de esperança na realização de nossas vontades no mundo. Um
diálogo com as forças de apoio e de sustentação que precisamos trabalhar em nós
para trazermos os enfrentamentos de novos ciclos, e vislumbrar um horizonte com
mais firmeza de proposito.
Referências
Bibliográficas:
(1)
Móbiles de berço: como usá-los para beneficiar o desenvolvimento dos bebês. https://www.reab.me/mobiles-de-berco-entenda-porque-e-como-usa-los-para-beneficiar-o-desenvolvimento-dos-bebes/
(2)
CARRANO, Eveline, REQUIÃO, Maria Helena. Materiais de Arte – Sua linguagem
subjetiva para o trabalho terapêutico e pedagógico. WAK Editora, Rio de
Janeiro, 2013.
(3)
Eliane Moraes: GRANDES ARTISTAS NAS PRÁTICAS DA ARTETERAPIA: ALEXANDER
CALDER, blog Não Palavras. (https://nao-palavra.blogspot.com/2021/08/grandes-artistas-nas-praticas-da.html)
(4) Tania Salete: ENTRE OS MÓBILES E STÁBILES
DE CALDER – LIDANDO COM A DOR NA ARTETERAPIA, blog Não Palavras. (https://nao-palavra.blogspot.com/2021/08/entre-os-mobiles-e-stabiles-de-calder.html)
(5)https://www.google.com/search?q=espiral+e+seu+significado&rlz=1C1GCEA_enBR1124BR1124&oq=espiral+e+seu+&gs_lcrp=EgZjaHJvbWUqBwgBECEYoAEyBggAEEUYOTIHCAEQIRigATIHCAIQIRigATIHCAMQIRigAdIBCjE3OTU3ajBqMTWoAgiwAgHxBQg5WE3LioMW&sourceid=chrome&ie=UTF-8
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Sobre
a autora: Nanda Paggioli
Graduação
em Química, Mestrado em Agroquímica. Especialização em Arteterapia
pela Nape, São Paulo. Atendimentos individuais e grupais em Arteterapia online
e presencial sediada em Americana, SP.
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