segunda-feira, 10 de março de 2025

MÓBILE: MOVIMENTANDO NOSSA VONTADE INTERNA

 


Por Nanda Paggioli - SP

@habitarte.atelier (Instagram)


Bem vindo 2025! Um ano novinho para nós caminharmos juntos. Pensei nesta potência que é o momento da chegada de um novo ano, um novo ciclo que se revela para nós. Um convite para o vislumbre de nossas vontades no horizonte, o nosso vir a ser e fazer neste 2025.  Quantas energias são mobilizadas, ideias e sentimentos pulsam em nossos corações e pensamentos. E pensando nas infinitas possibilidades de abordar este início de ciclo e trazer a nossa autorresponsabilidade sobre um universo inteirinho a ser desvelado, chega de forma espontânea, a imagem de uma criança em seu berço observando um mobile com curiosidade e atenção. Fui capturada pela imagem.

Em Arteterapia, sermos capturados por uma imagem, é um processo comum e muito potente. Decidi ampliar este diálogo, e algumas perguntas norteadoras chegaram em minha mente: Quais os benefícios de usarmos um mobile? Existem diferentes tipos de mobile? O ato de contemplar o movimento do mobile mobiliza quais forças psíquicas? Acolhi estas indagações e resolvi pesquisar este assunto com uma visão terapêutica e artística.

O mobile é muito mais do que apenas um objeto decorativo, ele é algo que estimula o desenvolvimento cognitivo da criança, pois estimula a visão, tato e a audição. E em cada fase, sua forma, tipo de materiais e o uso das cores, nos mobiles tem sua função para o desenvolvimento cognitivo e psicomotor (1). Pensando no setting arteterapêutico, podemos ampliar este diálogo sobre a percepção dos nossos sentidos, usando diferentes tipos de materiais na confecção dos mobiles, que trará diferentes percepções do sujeito no ato de produzir o seu móbile, bem como o de contemplá-lo.

A citação de Carrano, complementa este diálogo: “A arte é sensorial, pois no ato da criação, ela conecta o homem com seus sentidos, ao se relacionar com o material. E é nessa manipulação que a percepção se manifesta agindo por meio do tato, da visão, da audição; despertando a imaginação, que é esculpida, lapidada e incentivada a cada momento (2).

Na arte visual, o termo "mobile" é usado para nomear esculturas compostas por materiais leves, suspensos no espaço por meio de fios. Essas peças são movimentadas pelo ar e se caracterizam pelo equilíbrio, leveza e harmonia. Existem diferentes materiais utilizados para fazer um mobile. Quando falamos de mobiles no meio artístico, destaca-se o artista Alexander Calder, que é considerado um precursor deste tipo de estrutura na arte. Eliana MoraEs, nos traz informações valiosas deste artista em seus estudos publicados no blog Não Palavras (3). Em seu texto, ela também relata duas propostas arteterapêuticas muito interessante com o uso dos móbiles e dos stábiles como proposta de trabalho no setting terapêutico.

Tania Salete, também traz sua experiência ao trabalhar com a fluidez delicada e flexível do mobile durante um processo de ressignificação da dor. (4)

Prática Arteterapêutica

Inspirada na imagem recebida e nos trabalhos de minhas colegas arteterapeutas, a proposta foi trabalhar inicialmente com algo simples mas que trouxesse a energia do novo porvir, de um novo ciclo. Por isso a proposta foi trabalhar com a construção de um mobile de papel em forma de uma espiral, para mobilizar primeiro a leveza, o contraste visual (pelas cores e linhas), e o movimento que esta forma espiralada nos remete sobre as vontades e expectativas desejadas para este novo ano.

A proposta foi realizada em quatro etapas. Na primeira, cortamos o papel A4 branco no formato de um círculo. E então é feito o convite para expressar suas vontades intencionados para este ano, na forma de imagens (abstratas ou figurativas) ou palavras utilizando o riscante pastel oleoso neste círculo.  Em uma segunda etapa, no verso do papel, o convite é expressar simbolicamente com cores que representassem a “força” complementar a ser trabalhada, que traz o apoio para as vontades conseguirem nascer no mundo.



             Frente




Verso

 Na terceira etapa, com auxílio de uma tesoura, recortar o círculo no formato de uma espiral. Suspendemos esta espiral, com um fita de cetim. A espiral que antes estava no plano bidimensional ganha volume e vai para o tridimensional.

A ideia de usarmos a forma espiralada é para trazer um movimento natural e delicado dos ciclos da vida.

“A espiral é um símbolo de evolução e de movimento ascendente e progressivo, normalmente positivo, auspicioso e construtivo, sobretudo na sua forma. Enquanto plana, a espiral pode ter associado o movimento de evolução e de involução. O psiquiatra e psicanalista suíço Carl Jung escreveu que a espiral significa que, quando você faz uma espiral, você passa sempre pelo mesmo ponto em que esteve antes, mas nunca exatamente o mesmo verticalmente (5).”

Na última etapa, a espiral pode então ser contemplada, e o movimento espiralado que surge pode vir da corrente de ar do ambiente ou do sopro dos nossos pulmões.

Quando a espiral sai do plano bi para o tridimensional, um convite visual é feito para o participante refletir, sobre um aspecto de verticalização que realizamos na vida, perante o nosso processo de individuação, trazendo forças estruturantes, que no futuro podem ser usadas para trazer equilíbrio e harmonia em nosso fazer na vida. Por hora, a proposta é de nos conectarmos com a energia da presença, leveza, concretude, movimento e subjetividade para esta escultura flutuante criada.  A escolha de onde iremos dependurar o móbile, também pode entrar no processo de diálogo arteterapêutico, sobre o ritmo que queremos dar a este movimento espiralado em nossas vidas.

Conclusão:

Este trabalho arteterapêutico, intenciona no fazer artístico sensorial e contemplativo do móbile, trazer a mobilização de força motivacional e de esperança na realização de nossas vontades no mundo. Um diálogo com as forças de apoio e de sustentação que precisamos trabalhar em nós para trazermos os enfrentamentos de novos ciclos, e vislumbrar um horizonte com mais firmeza de proposito.

Referências Bibliográficas:

(1) Móbiles de berço: como usá-los para beneficiar o desenvolvimento dos bebês. https://www.reab.me/mobiles-de-berco-entenda-porque-e-como-usa-los-para-beneficiar-o-desenvolvimento-dos-bebes/

(2) CARRANO, Eveline, REQUIÃO, Maria Helena. Materiais de Arte – Sua linguagem subjetiva para o trabalho terapêutico e pedagógico. WAK Editora, Rio de Janeiro, 2013. 

(3) Eliane Moraes: GRANDES ARTISTAS NAS PRÁTICAS DA ARTETERAPIA: ALEXANDER CALDER, blog Não Palavras. (https://nao-palavra.blogspot.com/2021/08/grandes-artistas-nas-praticas-da.html)

 (4) Tania Salete: ENTRE OS MÓBILES E STÁBILES DE CALDER – LIDANDO COM A DOR NA ARTETERAPIA, blog Não Palavras. (https://nao-palavra.blogspot.com/2021/08/entre-os-mobiles-e-stabiles-de-calder.html)

(5)https://www.google.com/search?q=espiral+e+seu+significado&rlz=1C1GCEA_enBR1124BR1124&oq=espiral+e+seu+&gs_lcrp=EgZjaHJvbWUqBwgBECEYoAEyBggAEEUYOTIHCAEQIRigATIHCAIQIRigATIHCAMQIRigAdIBCjE3OTU3ajBqMTWoAgiwAgHxBQg5WE3LioMW&sourceid=chrome&ie=UTF-8

 

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Sobre a autora: Nanda Paggioli

 


Graduação em Química, Mestrado em Agroquímica.  Especialização em Arteterapia pela Nape, São Paulo. Atendimentos individuais e grupais em Arteterapia online e presencial sediada em Americana, SP.    


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