Por Cris Silva – RJ
Há
anos sou acompanhada por uma camisa que traz essa frase do Ferreira Gullar
estampada e há anos venho refletindo em como a arte propicia o pensar fora da
caixa, nos lançando para uma jornada de liberdade criativa.
No
desenho, pintura, escultura, na música, dança, na escrita, no cinema,
fotografia, teatro, nos palcos do tecido áspero do cotidiano, “A ARTE EXISTE
PORQUE A VIDA NÃO BASTA”, frase eternizada por Gullar, que nos ajuda a perceber
a importância do quanto a humanidade necessita da arte para melhor compreender
o mundo e tudo que a cerca. A arte não é apenas uma forma de expressão ou um
meio de comunicação, mas sim uma necessidade humana que surge da insuficiência
da vida em si mesma. Com e pela arte conseguimos processar e transformar
emoções, pensamentos e experiências com nossos pares.
Para
Campbell (1988, p.275), citado por Duchastel (2010, p. 9), “A arte é um caminho
recomendado em direção à iluminação (...)”. Em concordância com tal pensamento,
complemento que
a arte nos tira do engessamento, nos tira daquilo que estabelece limites rígidos,
porque a própria essência da arte é o pensar fora caixa. É essa capacidade que
nos coloca na posição de quem pode e deve explorar novas possibilidades,
experimentações, estratégias para nosso fazer artístico, aqui entendido como
uma centelha criativa que permeia a vida, pois são numerosas as possibilidades
para a imaginação fluir livremente e criar algo com a nossa essência e autenticidade.
Vejo
como importante esse pensar fora da caixa, afinal o mundo está em constante
mudança, são muitos os avanços tecnológicos e nós estamos sempre em evolução,
sendo fundamental ampliarmos a nossa capacidade de adaptação, inovação, criação
de estratégias novas e funcionais, além é claro, de olharmos para o que nos
cerca com tom questionador para as injustiças e desigualdades sociais, sempre
denunciados através de obras artísticas, o que nos possibilita a avançar com
resistência e buscar a transformação social.
Dito
isso, como podemos desenvolver essa capacidade de pensar fora da caixa? Eu
diria que uma das primeiras coisas é a de se autorizar como ser criativo - com
arte, escrita, dança, canto, pintura, bordado, uma receita com reaproveitamento
de alimentos, uma customização de roupas, aquela "gambiarra" que fez
algo continuar funcionando, sabe? Só permita que a sua imaginação e criação de
estratégias estejam livres de julgamentos, livres daquela autocrítica severa
que acaba enrijecendo e impedindo de dar passos. Diria, ainda, para curtir o
processo e começar a vislumbrar-se como protagonista nessa jornada, para explorar
as possibilidades e desfrutando da caminhada sem perder a viagem.
Claro
que isso não acontece assim de um dia para o outro, acontece à medida que
olhamos para nós com acolhimento, permissão para ser quem somos e paciência
para integrar em nós aquilo que pode desagradar num primeiro olhar. É preciso
encontrar formas de mostrar ao mundo quem somos, expressando nossa
individualidade e o que temos a oferecer. Então, pegue a coragem pelas ventas,
pratique a criatividade e lembre-se que essa centelha criativa é uma jornada e
não um destino.
Acho
linda a ideia de pensar na arte como uma porta aberta para a liberdade do
pensamento, como um convite que, quando aceito, nos impulsiona através de
cores, texturas, formas e sons, a sair dos caminhos trilhados e a explorar
novos horizontes. A arte é, portanto, uma forma de resistência, de
transformação pessoal e social.
Referências Bibliográficas:
DUCHASTEL, Alexandra. O
caminho do imaginário: o processo de Arteterapia. São Paulo: Paulus, 2010.
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Sobre a autora: Cristiane da Silva
Arteterapeuta: AARJ 1125 /08. Formada em Pedagogia (UERJ/RJ), tem trinta e três anos de regência em sala de aula – da Educação Infantil à Educação de Jovens e Adultos neurodivergentes na rede pública de ensino do Rio de Janeiro. Pós-graduada em Arteterapia em Educação e Saúde (UCAM/RJ) e formada em Arteterapia pelo Atelier de Artes e Terapias Eveline Carrano. É graduanda em Psicologia (UVA/RJ). Foi voluntária por 4 anos na ONG Anjos da Tia Stellinha, atuando no projeto CONSTRUINDO A MINHA HISTÓRIA – resgate de vínculos entre mães e filhos. Realiza oficinas e vivências em Arteterapia, é mediadora de Biblioterapia e Escrita terapêutica. Acredita que as artes, as leituras, a escrita e a cooperação mudam o sentido da vida e que, sempre, abrem caminhos para o desenvolvimento pessoal e social.
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