segunda-feira, 24 de março de 2025

A ARTE COMO CAMINHO PARA PENSAR FORA DA CAIXA

 


Por Cris Silva – RJ

 @arteterapia_crissilva

Há anos sou acompanhada por uma camisa que traz essa frase do Ferreira Gullar estampada e há anos venho refletindo em como a arte propicia o pensar fora da caixa, nos lançando para uma jornada de liberdade criativa.

No desenho, pintura, escultura, na música, dança, na escrita, no cinema, fotografia, teatro, nos palcos do tecido áspero do cotidiano, “A ARTE EXISTE PORQUE A VIDA NÃO BASTA”, frase eternizada por Gullar, que nos ajuda a perceber a importância do quanto a humanidade necessita da arte para melhor compreender o mundo e tudo que a cerca. A arte não é apenas uma forma de expressão ou um meio de comunicação, mas sim uma necessidade humana que surge da insuficiência da vida em si mesma. Com e pela arte conseguimos processar e transformar emoções, pensamentos e experiências com nossos pares.

Para Campbell (1988, p.275), citado por Duchastel (2010, p. 9), “A arte é um caminho recomendado em direção à iluminação (...)”. Em concordância com tal pensamento, complemento que 
a arte nos tira do engessamento, nos tira daquilo que estabelece limites rígidos, porque a própria essência da arte é o pensar fora caixa. É essa capacidade que nos coloca na posição de quem pode e deve explorar novas possibilidades, experimentações, estratégias para nosso fazer artístico, aqui entendido como uma centelha criativa que permeia a vida, pois são numerosas as possibilidades para a imaginação fluir livremente e criar algo com a nossa essência e autenticidade.

Vejo como importante esse pensar fora da caixa, afinal o mundo está em constante mudança, são muitos os avanços tecnológicos e nós estamos sempre em evolução, sendo fundamental ampliarmos a nossa capacidade de adaptação, inovação, criação de estratégias novas e funcionais, além é claro, de olharmos para o que nos cerca com tom questionador para as injustiças e desigualdades sociais, sempre denunciados através de obras artísticas, o que nos possibilita a avançar com resistência e buscar a transformação social.  

Dito isso, como podemos desenvolver essa capacidade de pensar fora da caixa? Eu diria que uma das primeiras coisas é a de se autorizar como ser criativo - com arte, escrita, dança, canto, pintura, bordado, uma receita com reaproveitamento de alimentos, uma customização de roupas, aquela "gambiarra" que fez algo continuar funcionando, sabe? Só permita que a sua imaginação e criação de estratégias estejam livres de julgamentos, livres daquela autocrítica severa que acaba enrijecendo e impedindo de dar passos. Diria, ainda, para curtir o processo e começar a vislumbrar-se como protagonista nessa jornada, para explorar as possibilidades e desfrutando da caminhada sem perder a viagem.

Claro que isso não acontece assim de um dia para o outro, acontece à medida que olhamos para nós com acolhimento, permissão para ser quem somos e paciência para integrar em nós aquilo que pode desagradar num primeiro olhar. É preciso encontrar formas de mostrar ao mundo quem somos, expressando nossa individualidade e o que temos a oferecer. Então, pegue a coragem pelas ventas, pratique a criatividade e lembre-se que essa centelha criativa é uma jornada e não um destino.

Acho linda a ideia de pensar na arte como uma porta aberta para a liberdade do pensamento, como um convite que, quando aceito, nos impulsiona através de cores, texturas, formas e sons, a sair dos caminhos trilhados e a explorar novos horizontes. A arte é, portanto, uma forma de resistência, de transformação pessoal e social.

 

                                                                                                                                                       

Referências Bibliográficas:

DUCHASTEL, Alexandra. O caminho do imaginário: o processo de Arteterapia. São Paulo: Paulus, 2010.

_________________________________________________________________________

Sobre a autora: Cristiane da Silva



Arteterapeuta: AARJ 1125 /08. Formada em Pedagogia (UERJ/RJ), tem trinta e três anos de regência em sala de aula – da Educação Infantil à Educação de Jovens e Adultos neurodivergentes na rede pública de ensino do Rio de Janeiro. Pós-graduada em Arteterapia em Educação e Saúde (UCAM/RJ) e formada em Arteterapia pelo Atelier de Artes e Terapias Eveline Carrano. É graduanda em Psicologia (UVA/RJ). Foi voluntária por 4 anos na ONG Anjos da Tia Stellinha, atuando no projeto CONSTRUINDO A MINHA HISTÓRIA – resgate de vínculos entre mães e filhos. Realiza oficinas e vivências em Arteterapia, é mediadora de Biblioterapia e Escrita terapêutica. Acredita que as artes, as leituras, a escrita e a cooperação mudam o sentido da vida e que, sempre, abrem caminhos para o desenvolvimento pessoal e social.



Nenhum comentário:

Postar um comentário