segunda-feira, 28 de outubro de 2019

UNIVERSO ARTETERAPÊUTICO EM RODA DE CONVERSA I: IMAGINAÇÃO ATIVA

Por Andréa Goulart de Carvalho – BH/MG
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Ascenção Florescente – Cartão de SoulCollage®
Andréa Goulart de Carvalho


Falar em Universo Arteterapêutico não é nenhum exagero. A Arteterapia é multidisciplinar. Conjuga saberes da arte, da psicologia, filosofia, mitologia, das ciências em geral. Tece sua história e seu trajeto através da experiência e vivências embasadas em literatura de qualidade e vem atuando, de maneira eficaz, em áreas da saúde, da educação, na empresarial, entre outras.


Com uma visão aberta e inovadora a AMART, Associação Mineira de Arteterapia, me convidou para mediar a 1a Roda de Conversa, realizada no dia 5 de setembro último, com o objetivo promover debates para troca de saberes e fazeres referentes ao imenso universo Arteterapêutico.

A perspectiva é promover a nossa profissão/atividade, embasar profissionais arteterapeutas, estudantes e interessados na gama da Arte/Saúde, com conteúdos pertinentes, em seus muitos aspectos.

As Rodas de Conversa são ferramentas didáticas, utilizadas principalmente na educação e também em grupos diversos, para diferentes fins como aprendizagem, busca de soluções econômicas, politicas, etc. Para esta 1a Roda de Conversa da AMART foram escolhidos a Imaginação Ativa e a Visualização Criativa como temas.

Me atenho aqui ao tema da Imaginação Ativa e tentarei relatar um pouco do que foi apresentado para o grupo. Tarefa desafiadora com um assunto tão vasto e de difícil compreensão, abordado apenas teoricamente, sem uma prática vivencial, a qual deve ser conduzida por um profissional psicólogo/analista, habilitado para tal.

Nos posicionamos em círculo, respiramos profundamente e iniciamos o nosso encontro com uma a Visualização Criativa – tema da atividade e uma das formas de acesso ao inconsciente, que difere da Imaginação Ativa e poderá ser abordada, com mais detalhes, numa próxima oportunidade.

Como mediadora pedi que cada um buscasse uma imagem com a qual gostaria de ser apresentado naquele momento. No centro da roda, sobre uma toalha estendida no chão, há uma vela, alguns papeis de desenho e giz de cera.

Terminado o breve momento de introspecção os participantes representaram plasticamente a imagem vinda da imaginação. Flor, sol, animal, objetos, formas e cores diversas. Cada desenho é observado e apresentado pelo seu criador, dizendo: Eu sou um sol brilhante; Eu sou uma bonita flor; Eu sou um elefante colorido e engraçado, e assim por diante.

Pedi que reservassem os desenhos e que “ficassem com as imagens”.
O que é ficar com a imagem? Isto é a Imaginação Ativa? Respirar e deixar vir uma imagem? E o que fazer com ela? Em que isto me auxilia? Como atua em minha vida, em minhas questões?

Com estes pertinentes questionamentos a Roda de Conversa efetivamente foi iniciada com a apresentação, em Power Point, de alguns dados sobre Jung e o surgimento da Imaginação Ativa. Enquanto mostro as lâminas seguimos conversando sobre a coragem do médico psiquiatra e cientista que, corajosamente, se submeteu ao próprio experimento e, através da vivência, estruturou a teoria da Psicologia Analítica e a própria IA. Outro aspecto importante  é o fato de Jung ter sidr filho de pastor protestante e que sua mãe sofreu a perda de três filhos antes do seu nascimento, dados interessantes e muito relevantes em sua formação. Sabemos que desde muito criança era criativo, curioso, introspectivo, solitário e, com sua enorme capacidade imaginativa, se envolvia em pensamentos e brincadeiras fantásticas e surpreendentes. Por vezes sentia possuir duas personalidades, uma de criança e outra de um velho sábio. Esculpiu um pequeno boneco de madeira e fez um pergaminho com um alfabeto criado por ele mesmo. Tinha visões e experiências diversas, incomuns para sua idade. Era culto, desde cedo teve acesso à vasta biblioteca de seu pai. Tais visões e brincadeiras foram, mais tarde, constatadas como experiências de conteúdo arquetípico.

Ainda jovem, ao se especializar em psiquiatria, elaborou os estudos com as Associações Livres de Palavras originando a teoria dos Complexos o que favoreceu, em 1906, o contato com Freud.

O contato foi intenso e perdurou até que, em 1913, quando divergiram a respeito do conceito de libido, acarretando uma ruptura do contato, uma forte crise existencial e muitos questionamentos internos, inspirando-o na busca de seu mito pessoal.

A crise gerada pela ruptura com Freud nos presenteou com o que conhecemos como O Livro Vermelho – Liber Novus, com as experiências das Imaginações Ativas, as ilustrações maravilhosas e enigmáticas.

Alguns dos participantes da Roda de Conversa conheciam, outros não, a publicação do Livro Vermelho que esteve guardada por mais de 40 anos.

Os comentários sobre o conteúdo das experiências de Jung, o formato exótico do livro, sobre Jung ser ou não ser um artista, qual o significado das pinturas e da escrita gótica, foram sendo colocados gerando interesse ainda maior sobre o tema da Imaginação Ativa e as suas singularidades.

Em resposta aos comentários e questionamentos conversamos sobre vários aspectos da vida e obra de Jung que mostram um homem habilidoso e criativo que teve aulas de arte em Paris, apesar do foco não ser a arte. Vimos que anotava suas experiências e estudos em cadernos de capa preta, relatos de suas visões e fantasias e que o Liber Novus é o registro da profunda experiência psíquica na qual Jung mergulhou, durante meses, e elaborou nos 16 anos seguintes, originando a Psicologia Analítica.

Indagamos sobre os motivos de o livro ter ficado guardado, a pedido do próprio Jung, por mais de 40 anos, para ser liberado quando sua obra já tivesse sido mais difundida, finalizando esta parte da conversa indagamos sobre a interrupção da elaboração do Livro Vermelho quando Jung teve contato com a Alquimia, constatando a semelhança da sua experiência com o processo de transformação alquímico denominado o Processo da Individuação.

A  realização de uma IA possibilita, sem garantia, entrarmos em acordo com o inconsciente. Não é uma tarefa fácil. Estamos diante do desconhecido e devemos tomar os devidos cuidados.

Coube a Robert Johnson, na década de 80, a sistematização e publicação do livro: Inner Work: A Chave do Reino Interior (1989), no qual descreve uma forma mais facilitada de como experimentar uma IA.

Uma Imaginação Ativa, para ser verdadeira, requer a participação efetiva do consciente na experiência imaginativa e deve acontecer um diálogo real, livre, espontâneo com as imagens trazidas do inconsciente, que representam as diferentes partes de nós mesmos.


Tempo para conexão – Cartão de SoulCollage®
Andréa Goulart de Carvalho

As imagens podem ser acessadas através e além dos sonhos, por visualização e imaginação criativa, fantasias passivas, através da arte com suas inúmeras formas e técnicas de expressão como a dança,  a pintura, o desenho, o SoulCollage®, o cinema, teatro e a literatura em geral, nos contos de fadas e nos mitos.

A observação quanto aos valores humanos e a ética pessoal, com relação ao conteúdo do inconsciente foi bem frisada, pois as imagens internas são expressão de forças instintivas, como se fossem deuses internos, coletivos, uma vez que tais forças, os arquétipos, são amorais e atemporais.

O surgimento de imagens de pessoas conhecidas e ainda vivas em nossas imaginações deve também ser cuidado. A medida a tomar é modificar a aparência e/ou nome para que as energias e vibrações  emanadas não se transformem em uma espécie de magia.

Após a apresentação do material sobre Jung e IA retomamos as imagens surgidas na Visualização Criativa, como dito anteriormente, uma das formas de acesso às imagens do inconsciente. Cada participante da Roda de Conversa se debruçou em sua representação plástica da imagem buscando reflexões sobre qual e quanta emoção surgiu naquele momento, dando sentido ao comando inicial de “ficar com a imagem”, de cuidar do que é parte de nós, uma faceta do que nos compõe e nos faz sermos quem somos, com nossos acertos e desacertos.


Bad Idea – Cartão de SoulCollage®
Andréa Goulart de Carvalho

As imagens e diálogos foram compartilhadas e as questões referentes a conceitos como a Sombra, a Persona, os Complexos, os Arquétipos e demais aspectos da Psicologia Analítica foram sendo comentados, proporcionando maior entendimento do que surge e é trabalhado quando acessamos nosso inconsciente, através das várias ferramentas de que dispomos.

Encerramos a 1a Roda de Conversa ávidos por mais encontros como este, para mais ricas trocas de conhecimento e saberes.

A Arteterapia é instigante, abrangente e a iniciativa da AMART tem grande potencial, prometendo ficar cada vez melhor!
Grata pela oportunidade!

Indicações de leituras
- Johnson, Robert A. , 1989, (Inner Work) A Chave do Reino Interior
- Boechat, Walter , 2014, O Livro.14 Vermelho de C.G,. Jung – Jornada para as profundezas desconhecidas.
- Cadernos Junguianos, v. 14, n. 14, setembro 2018. São Paulo: AJB,2018.
- Sanford, John A.,1987, Os Parceiros Invisiveis: o masculino e o feminino dentro de cada um de nós.
Jung, Carl G., O Homem e seus símbolos. Edição Especial brasileira- 3a Edição.
_____________ O Desenvolvimento da Personalidade, OC.
- Kast, Verena, 2019, Jung e a Psicologia Profunda, um guia de  orientação prática.
  ___________ 2016, O caminho para o si mesmo.
- Hillman, James, 2010, Ficções que Curam , Psicoterapia e imaginação em Freud, Jung e Adler.
- Barcellos, Gustavo,2012, Psique e imagem , estudos de psicologia arquetípica.
- Franz, Marie-Louise von, 1988, O caminho dos Sonhos.
- Shamdasani, Sonu, 2015, O livro Vermelho, Liber Novus.
- Lyra, Sonia (Org.)[et. al.], 2016, Imaginação Ativa e Criativa, Ichthys.
   ___________2017, Imaginação Ativa, matéria – prima da cura e quintessência da Arte, Ichthys.
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Sobre a autora: Andréa Goulart de Carvalho


Bacharel em Desenho e Gravura pela EBA/UFMG; 
Arteterapeuta - AMART 107/0112, afiliada a UBAAT. 
Facilitadora de SoulCollage®/2015; Artista Plástica; 
Atendimento arteterapêutico individual e em grupos no AME – Arteterapia
Ministrante de curso introdutório de SoulCollage® e aulas de desenho no Ateliê de Artes AGC Artes & Arteterapia. 
Pós graduanda em Psicologia Analítica na USCS.



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