segunda-feira, 1 de julho de 2019

A ESCUTA CLÍNICA DO MASCULINO E A ARTETERAPIA

Por Juliana Mello – RJ
entrelinhas.artepsi@gmail.com


Como tenho falado em textos anteriores, a terapia cognitivo-comportamental trabalha com a identificação de pensamentos, sentimentos e comportamentos disfuncionais, para que estes possam ser flexibilizados e, consequentemente, tornarem-se mais funcionais. Porém, em muitos casos, é difícil identificar o que estamos pensando ou sentindo. A expressão somente por palavras parece insuficiente para alcançar a descrição do que nos incomoda e gera angústia. 
Tenho recebido em meu consultório, uma demanda de pacientes do sexo masculino de grande relevância, visto que este público apresenta grande dificuldade de se enxergar e expressar sentimentos, que, de certo modo, os fazem se sentir vulneráveis. Em muitos casos, conseguem descrever através do diálogo todas as suas queixas. Porém somente as palavras não dão conta de resolver os conflitos internos. O trabalho lúdico realizado com esse público tem se mostrado muito eficaz.   
C., 17 anos, chegou ao consultório com a demanda das escolhas que precisava fazer em seus últimos anos no colégio. Precisava tomar uma decisão entre voltar a estudar o ensino regular e se preparar para o Enem ou continuar no preparatório para uma área específica. Trabalhamos algumas técnicas da TCC, porém algo não o permitia avançar e agir nas escolhas. Ao realizarmos uma colagem, C. pode perceber que seu comportamento estava disfuncional e que o mesmo “esquivava-se” de atitudes que apresentavam obstáculos aparentemente difíceis, não conseguia arriscar. Seu desejo ao fazer a colagem era criar um personagem com partes de cada figura. Posteriormente, tomou sua decisão e está cursando o preparatório de seu interesse.
Colagem refletindo o comportamento de C.

V., 21 anos, apresentava dificuldades na escolha do curso da faculdade e para se preparar para o Enem. Estava há 3 anos tentando aprovação e não alcançava um resultado satisfatório. Iniciamos a Arteterapia, para trazer a reflexão sobre seus interesses, desejos e conseguir fazer suas próprias escolhas, além de se organizar para os estudos, dentro do prazo que era permitido. Dentro deste processo, V. percebeu que havia outras questões pessoais que precisavam ser trabalhadas, para que ele pudesse se sentir mais funcional. Em um momento da terapia, V. informou que precisava de um tempo só para falar, que gostaria de pausar o processo da Arteterapia. Prosseguimos com a TCC somente. Porém as palavras foram perdendo suas forças, o progresso do agir foi paralisando e então sugeri que voltássemos a Arteterapia, quando V. ressaltou: “Eu ia mesmo te pedir isso”. Atualmente, está cursando uma faculdade pública e adaptando-se a novos hábitos. Em seus movimentos em Arteterapia, sempre expressa que as imagens e palavras de revistas passam exatamente como ele se sente.  

Trabalho com mandalas para organização de V.



Colagem sobre sentimentos de V.


G., 28 anos, chegou ao consultório com quadro depressivo moderado à grave, esvaziado de sentimentos e com pensamentos disfuncionais que o paralisavam em todas as áreas de sua vida. Iniciamos o processo de Arteterapia e nos primeiros trabalhos foi possível perceber fisicamente a dificuldade de movimentar-se, através da respiração ofegante e desconforto com os materiais. No exemplo desta colagem, o mesmo ressaltou que “estas imagens relatam exatamente o que eu estava querendo dizer e não estava conseguindo”.

Colagem sobre pensamentos de G.
Atualmente, G. trabalha como professor, retornou a faculdade e está trabalhando suas habilidades sociais. Em suas palavras: “A Arteterapia tem esse lado que para se expressar você tem que estar em contato com suas emoções. E muitas das vezes esse contato força o resgate e a reflexão de coisas importantes que esquecemos ou reprimimos”.
 

Pintura para expressão de sentimentos e para a agir de G.


Continuidade do trabalho de tintas, em papel vegetal e giz de cera de G.
Ainda é muito pequena a procura por atendimento por pessoas do sexo masculino em relação a procura feminina. Porém, é muito importante a promoção de saúde também para o público masculino e um olhar mais atento a estes, visto que é alto o índice de “acidentes” emocionais neste público.

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Sobre a autora: Juliana Mello

Psicóloga, Arteterapeuta e Coach
Atendimento clínico  individual e grupo om criança, adolescente, adulto e idoso.
Abordagem em Terapia Cognitivo- Comportamental e Arteterapia
Palestras e Workshop motivacionais.



6 comentários:

  1. Muito bacana o trabalho de arteterapia e a forma das pessoas acharem o caminho para se expressar. Muitas vezes o caminho do cérebro à boca pode ter quilômetros, mas com certeza, passa pelo coração. Parabéns Juliana pelo trabalho diferencial!!!!

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  2. Sempre muito interessante seu trabalho! Parabéns.

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  4. Por vezes é difícil por em palavras o que realmente estamos sentindo,achar a palavra será para definir aquele momento...mas na arteterapia tudo vai fluindo mais levemente e quando percebemos está tudo alí...exposto...um espelho do que estava guardado lá dentro🌸

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  5. Parabéns Juliana.Sou muito admiradora do seu trabalho porque vejo de perto sua dedicação e o resultado só pode ser dessa forma, maravilhoso!!!!

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