Regina
Célia Rasmussen – São Paulo
reginaceliacz@gmail.com
A Psicopedagogia atende
crianças, adolescentes e adultos que demandam uma atenção em situação de
aprendizagem. Não se trata de um trabalho que busca a transmissão de
conhecimento, mas sim do auxílio ao indivíduo como um todo, partindo do
princípio de que a aprendizagem é inerente à condição humana.
Para Alícia Fernández –
referência fundamental na Psicopedagogia -, o problema de aprendizagem se
encontra na anulação das capacidades e bloqueio das possibilidades e, nesse
contexto, a expressão artística surge como um suporte não só para o
atendimento, mas também para o fortalecimento do potencial criador do próprio
psicopedagogo.
Como professora de
oficinas de Arteterapia em pós-graduação de Psicopedagogia, tenho observado que
os vínculos formados com os meus alunos costumam extrapolar as minhas aulas. Em
cada término de módulo, muitos demonstram a necessidade de dar continuidade às
vivências proporcionadas pelo conteúdo oferecido, não só que os auxiliem em
seus futuros atendimentos, mas que também os ajudem na sua própria saúde mental
para que possam exercer a profissão com mais significado.
Ao ensinar algumas
técnicas de estimulação da expressão artística aos estudantes de psicopedagogia
com o objetivo de acessarem em seus pacientes a criatividade, ficou evidente a
oportunidade desses alunos desenvolverem o seu próprio processo criativo a
partir das sensibilizações vivenciadas.
Visualizações criativas,
poemas, contos, músicas e filmes foram as formas apontadas de sensibilizar,
mover e estimular o fazer artístico, e que favoreceram uma expansão do
potencial psíquico na realização do objeto das oficinas, ou seja: a imagem
simbólica na arte - por eles produzidas – trouxe uma reflexão sobre a própria
atuação e as singularidades dos seus autores.
Segundo Fayga Ostrower:
“(...) criar representa uma intensificação do
viver, um vivenciar-se no fazer; (...) é uma realidade nova que adquire
dimensões novas pelo fato de articularmos, em nós e perante nós mesmos, em
níveis de consciência mais elevados e mais complexos. Somos, nós, a realidade
nova. Daí o sentimento do essencial e necessário no criar, o sentimento de um
crescimento interior, em que nos ampliamos em nossa abertura para a vida.”
(p.28)
As oficinas criativas
foram oferecidas como uma noção de técnicas importantes, como um suporte para o
trabalho do psicopedagogo na sua missão de ser o facilitador da integração do
emocional e do cognitivo na situação de aprendizagem, mas foi além ao provocar
a experiência e a expressão artística com a diversidade de materiais naqueles
que aprendiam.
O que era apenas uma
aprendizagem sobre a utilização das sensibilizações e as propriedades e
possibilidades dos materiais expressivos para fins da terapêutica
psicopedagógica provocou a necessidade de um maior autoconhecimento para atuação
como psicopedagogo. Esse desdobramento endossa a importância da arte como ferramenta
para compreender melhor o mundo, as pessoas, e a si mesmo, pois traduz e
ressignifica as experiências de vida.
Esses ex-alunos se mostraram
motivados a se desenvolver psiquicamente e a procurar uma autonomia mais plena
em sua nova prática. Sabem que são capacitados para a profissão que abraçaram, mas
percebem que o novo caminho requer saúde mental, disponibilidade para o outro,
concentração, acessibilidade à criação e a todo o processo que a envolve para a
possibilidade de se (re)conhecerem e serem os protagonistas do seu fazer
psicopedagógico.
Para atender a esse
desdobramento do início do percurso dos profissionais de Psicopedagogia nas
suas inquietações e constatações que permeiam a realização efetiva do
atendimento em clínicas psicopedagógicas, faz-se necessário um espaço gerador
de possibilidades de criatividade e expressividade.
Nesse contexto, a
Arteterapia propicia a construção desse espaço para desvelar e transformar os
novos “cuidadores da aprendizagem prazerosa” em profissionais mais harmônicos, onde
o arteterapeuta funciona como o guia que organiza, estimula e conduz as
atividades em consonância com o funcionamento do grupo.
Da
interdisciplinaridade, surge a configuração de um ciclo de encontros arteterapêuticos
que visa proporcionar a esses novos profissionais e seus pares um encontro com
a arte - em atividades de criação e reflexão - para essa nova jornada: a ressignificação de sua própria
aprendizagem, a melhora da autoestima, a ampliação do seu (auto)conhecimento, e,
assim, qualificar de maneira mais segura o “ser psicopedagogo”.
Bibliografia:
FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisionada: abordagem
psicopedagógica clínica da criança e de sua família. 2ª ed. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1991.
LACAVA, Lídia. Eros e Psiquê:
um caminho possível para pensar a docência. São Paulo: Porto de Ideias, 2018.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 25ª ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
PHILIPPINI, Angela. Grupos em Arteterapia: redes criativas para colorir vidas
Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011
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Sobre
a autora: Regina Célia Rasmussen
Pedagoga, psicopedagoga e
arteterapeuta
Professora em pós-graduação de
Psicopedagogia
Coordenadora do Espaço Crisântemo
- onde atende e gerencia workshops e oficinas criativas.
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