segunda-feira, 12 de novembro de 2018

SÉRIE CORES: COR/LUZ = EMOÇÃO/ENERGIA PSÍQUICA


Por Eliana Moraes (MG) RJ
naopalavra@gmail.com
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Fazer uso das cores em produções é facilitar a passagem da mensagem feita pelo canal do inconsciente à consciência, dos afetos reprimidos, esquecidos ou ainda imaturos para o alcance da mesma.” (URRUTIGARAY, 2011, pag 212)
No último mês compartilhei no blog Não Palavra fragmentos de minha pesquisa e estudo sobre as cores e suas aplicabilidades no setting arteterapêutico. Até aqui trouxe referências a partir das teorias da arte, Wassily Kandinsky CLIQUE AQUI e Fayga Ostrower CLIQUE AQUI. Hoje teremos como referência teórica a Arteterapia propriamente dita, com o livro "Arteterapia: A transformação pessoal pelas imagens" de Maria Cristina Urrutigaray que no capítulo 4 aborda o "Emprego da Cor na Arteterapia". 
Conforme dito anteriormente, meu percurso com as cores iniciou-se com a busca de estímulos de fácil acesso, compreensão e potencial projetivo, visando a pluralidade de pacientes/clientes recebidos pela Arteterapia em suas diversas modalidades e campos de trabalho, contemplando principalmente aqueles que chamo de “pacientes leigos”: que não possuem qualquer histórico com a Arteterapia, técnicas expressivas e materiais. Segundo Maria Cristina, fazer uso das cores é facilitar a passagem de conteúdos inconscientes para a consciência. Creio que essa facilidade advém da “simplicidade” do estímulo, e na mesma proporção da simplicidade se faz o imenso potencial projetivo e simbólico, basta sabermos investir neste diálogo e projeção.
Em seu texto, Maria Cristina nos apresenta uma relação muito interessante entre a cor e a luz, a emoção e a energia psíquica: 
“Assim como as cores são uma variedade de ondulações da luz e provocam a sensação cromática, as emoções, do mesmo modo, também variam de acordo com a cor ou com a intensidade da energia psíquica. Poderíamos, então, por analogia, atribuir que a variação da intensidade ondulatória da luz assemelha-se ao movimento da energia psíquica e, portanto, poderíamos associar o elemento cor com a emoção de acordo com a seguinte comparação: COR/LUZ = EMOÇÃO/ENERGIA PSÍQUICA” (URRUTIGARAY, 2011, pag 121)
“Sabemos que onde há cor, há uma onda eletromagnética. Assim, do mesmo modo, onde há emoção, há energia psíquica em ativação. Desta forma, podemos vincular à presença de cores nas expressões criativas como representação de nossos afetos. (URRUTIGARAY, 2011, 127)  
Neste contexto, entendemos que o uso de cores como estímulos pode ser acionado pelo arteterapeuta, quando entende que é necessário trabalhar-se com emoções. Seja para expressar aquelas já se encontram manifestas no sujeito e necessitam de escuta e elaboração ou aquelas que se mostram latentes, adormecidas, mas buscam um caminho para a expressão e consciência:
“As cores possuem fortes propriedades expressivas e estão relacionadas aos estados emocionais... As cores por meio das emoções, são despertadas pelas estimulações sensoriais ou pela recordação de algum fato, ou de algum tipo de experiência, seja ela boa ou má, que ficou armazenada durante um tempo.” (URRUTIGARAY, 2011, pag 132) 
A prática mostra o quão interessante é quando o paciente/cliente de Arteterapia é estimulado a ter um encontro íntimo com cada cor, percebendo qual é a vibração e o impacto causado de forma singular e pessoal. Desta forma ele poderá inclusive desconstruir algumas falas do senso comum como “verde é esperança”, “preto é luto”... O mergulho e a experiência pessoal com cada cor promove a criação de um (outro) vocabulário próprio e individual para as expressões imagéticas que estão a caminho no processo arteterapêutico: 
“A intensidade da cor, de acordo com critérios de tonalidade, claridade e saturação imprime a vibração ou a frequência natural dos nossos estados psíquicos....
Por meio dessa percepção visual, conhecemos e identificamos  a cor, mas o que visualizamos como sendo cor não é tudo sobre ela, pois a sensação por ela produzida no nosso corpo é sentida em nível psicológico como sentimento, seja de amor, ódio, calor, repulsa, prazer ou desprazer.” (URRUTIGARAY, 2011, 127)  
Para esta experiência é necessário um “demorar-se” em cada cor. É necessário um tempo de mergulho, percepção, escuta e elaboração daquela vibração. Um caminho interessante é proporcionar ao paciente/cliente de Arteterapia a oportunidade de produzir as cores, ao invés de recebe-las prontas em potes de tintas. Pois segundo Maria Cristina:

“... o cliente ao fabricar cores pode ir se exercitando no controle e na adequação de sua emoção, pois, assim como dar mais luz à cor significa adicionar mais branco, para diminuir a intensidade da luminosidade, basta colocar mais preto.” (URRUTIGARAY, 2011, pag 131) 
“Poesias e Cores”: Aplicabilidades para a Arteterapia



“então o amor é verde...
ou é o elo do mais puro acaso, que só é do azul com amarelo para rimar com elo...
ou o elo da liberdade azul e da riqueza amarela...

enfim, não importa o que seja, importa que se trata de um haikai, de um verso que começa, verso que parte (definição de hokku e, posteriormente, haikai). E parte para terminar na nossa boca, seja como for, basta que ele apenas parta para chegar em nós... a mim ele chegou.”
 

Paulo Leminski


No ciclo “Poesias e Cores”, percurso experienciado por grupos arteterapêuticos que coordeno, em um dado momento tomamos como referência as palavras de Maria Cristina: "o cliente ao fabricar cores pode ir se exercitando...". Foi proposto que a cada dia os participantes criassem com as próprias mãos as cores secundárias. Ao dialogarmos as cores primárias, amarelo e azul, fomos presenteados pela poesia de Paulo Leminsky, que com o gracejo de um haikai, registrou sua experiência ao fazer o elo entre estas duas cores e dali nascer o verde que lhe despertou o amor. 


A partir de uma proposta aparentemente tão simples, quanta profundidade podemos experimentar e agir sobre: a partir das polaridades cromáticas (e da vida) fazer nascer um terceiro, a partir de uma mistura. A disponibilidade em fazer elos entre partes que parecem não dialogar, mas ao se encontrarem nasce um novo. O investimento de energia psíquica para o criar e dar forma à estas cores e comtemplar a beleza de sua integração. 

Para Leminsky, “o amor é verde” pois nasce do elo entre o azul e o amarelo.
E para você? 

Por hora, concluo esta série sobre cores, ciente que este caminho continua. Tanto teoricamente, pois outras referências ainda pretendo buscar, quanto em experiência, pois a prática sempre nos surpreende. A motivação que mantém a chama aquecida está na constatação do quão potente é o mergulho nas cores em vivências arteterapêuticas. 


 Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.

A Equipe Não Palavra te aguarda!
Referências Bibliográficas: 
URRUTIGARAY, Maria Cristina. Arteterapia: A transformação pessoal pelas imagens. Editora Wak, RJ. 2011. 
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Sobre a autora: Eliana Moraes


Arteterapeuta e Psicóloga. 


Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte. 


Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".


Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 


Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Autora do livro "Pensando a Arteterapia" CLIQUE AQUI

2 comentários:

  1. Adorei o dialogo da poesia com as cores. Lindo e muito arteterapêutico o poema de Leminsky. Parabéns, Eliana!

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  2. O texto é um convite a um mergulho nas cores. Um mergulho em si mesmo sintonizado com o "lá fora"? Um momento de encontro entre o particular e o geral? Entre o concreto e o abstrato? Entre a palavra e a não palavra? Entre a vida e a Vida Adorei o movimento, a beleza do texto Eliana! Continemos na criatividade! Coragem!

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