Por Helen
Faria - RJ
“Mais do que de máquinas precisamos
de humanidade. Mais do que de inteligência precisamos de afeição e doçura.”
Charles
Chaplin
Quando eu tinha meus 20 anos de idade, ou seja, há
23 anos, tinha acabado de me formar em bailarina e em teatro e estava fazendo
faculdade de fisioterapia. O corpo sempre foi a minha grande paixão e entendia
que a arte através do movimento era transformadora. Foi então que comecei a
realizar preparação corporal para atores e depois comecei a ficar muito
incomodada de como os corpos dos trabalhadores e dos empresários funcionavam,
eles não sabiam que tinham corpos, não sabiam sorrir e muito menos se
movimentar.
Nessa época o Brasil estava em pleno crescimento e
os trabalhadores eram massacrados fisicamente gerando grandes constrangimentos
físicos levando ao stress. Foi quando teve grande ascensão as tendinites
ocupacionais (DORT – doenças osteomusculares).
Stress e doenças ocupacionais:
“Movimento é vida, sem movimento a vida é inconcebível.”
Moshe Feldenkrais
Stress, tensões musculares e doenças ocupacionais
começaram a crescer no Brasil e grandes afastamentos pelo INSS começaram a
acontecer principalmente no ramo de telemarketing / Call Center, onde a
produção era pelos movimentos repetitivos. As empresas começaram a se preocupar
com as perdas financeiras que estavam tendo pelo alto índice de rotatividade e
absenteísmo. Aqui então iniciava os investimentos de grandes empresas em
implantação de programas de qualidade de vida em especial com a Ginástica
Laboral.
Entrei nesse ramo com a intenção não só de diminuir
os impactos físicos gerados pelo sistema empresarial, mas também gerar um
ambiente mais relaxado e despertar o brincar dentro das empresas, acreditando
que o movimento lúdico e mais humano fosse curador.
Nesse momento era importante provar para as empresas
que a implantação de programas como a Ginástica Laboral diminuía a
sinistralidade dos planos de saúde, a rotatividade e o absenteísmo, promovendo
assim um lucro maior tendo funcionários mais produtivos e felizes no ambiente
de trabalho. E hoje em dia, é mais do que sabido que isso funciona e a maioria
das empresas já tiveram ou tem algum tipo de programa implantado com esse
propósito.
Comecei a observar que a Ginástica Laboral também
passou a ser um movimento repetitivo e começou a gerar grande desinteresse dos
participantes. Nesse momento comecei a inserir o teatro, arte e técnicas
expressivas utilizando vários materiais diferenciados para tornar a atividade
de Ginástica Laboral ainda mais prazerosa. Criamos aulas temáticas, jogos
corporais utilizando vários materiais lúdicos (fitas, bolinhas, barbantes,
bexigas, bambolês, colher de pau etc.) para despertar a criatividade e resgatar
a criança interior.
O movimento corporal pelo lúdico e pela arte começou
a ser o meu grande diferencial dentro do ambiente coorporativo chegando a
atender mais de 120 mil vidas. O nosso foco era muito mais do que prevenir
doenças mas tornar o ambiente de trabalho mais humanizado e prazeroso levando
um maior equilíbrio entre mente e corpo, coisas que são inseparáveis.
Aula de Ginástica
Laboral na plataforma da empresa Modec em uma SIPAT (semana interna de
prevenção de acidente de trabalho)
A Crise, Saúde Mental e Arte:
“Um corpo inteligente é um corpo que consegue se adaptar aos mais
diversos estímulos e necessidades, ao mesmo tempo que não se prende a nenhuma
receita ou fórmula pré-estabelecida, orientando-se pelas mais diferentes
percepções conscientes dessas sensações. ”
Klaus Vianna
Há mais ou menos 4 anos começamos a sentir uma
grande crise se instalando em nosso país. A crise gera grandes sofrimentos, mas
também gera um lugar de pesquisa interna, de reinvenção e co-criação. Observei
grandes demissões e escutei muitas pessoas falando: “agora que fui mandada embora e não tenho mais nada a perder posso
fazer o que eu sempre quis.”
Isso me causou grande impacto de como as pessoas
estavam sendo máquinas e se movimentando pelo medo e não pela sua potência e
desejo interno. Onde estava escrito que não poderia fazer o que sempre quis
fazer? E agora está livre? Não somos livres? Somos, mas o sistema gera essa
consciência que somos dependentes e uma educação cultuando o medo da escassez.
O adulto de forma geral
adquire regras e convenções limitantes do seu jogo autêntico e se fecha no seu
mundo materialista e consumista, prisioneiro da rotina e “obrigações”, e
o jogo das relações passa a ser rígido e violento.
Como o sistema materialista
e consumista entrou em crise as pessoas começaram forçosamente a entender quem
eram e quais eram seus principais valores e com isso começaram a se
desestabilizar, a entrar em crise também por estarem muito desconectadas de si
mesmas. As doenças mentais começaram a ser o grande problema dentro do ambiente
coorporativo. As questões físicas que antes eram o grande foco passou a
ficar em segundo plano dos problemas dentro das empresas.
Comecei a ser chamada para dentro de grandes empresas para apoiar e cuidar da saúde mental pois a maioria das delas está com problemas de alta rotatividade, absenteísmo e baixa
produtividade por questões mentais, além de estarem todos sobrecarregados
porque muitos foram desligados das empresas e os que ficaram estão trabalhando
em dobro, em um clima de tensão e medo instalado pela hipótese de a qualquer momento
serem mandados embora também.
Diante desse quadro de
questões mentais comecei a realizar a arte como o meu principal recurso, onde
as palestras não eram mais em power point e nem teóricas. Aqui nasceu os "Jogos
de Conexão", que são jogos terapêuticos, corporais, lúdicos e colaborativos
utilizando ferramentas de mindfulness, arte e técnicas expressivas para
despertar o autoconhecimento e falar de temas importantes para atualidade: resiliência, empatia, comunicação, presença, coragem,
desapego, afetividade, gratidão e outras habilidades sócio emocionais tão
importantes para a vida no dia a dia.
Acredito que cada vez mais as empresas estão
enxergando essa ferramenta como um grande suporte e temos um lindo caminho pela
frente para acolher grandes grupos resgatando o seu Eu e realizando o grande
jogo da vida, se relacionando com o outro e com o mundo.
Palestra
sobre auto-relaxamento na empresa Osklen inspirada nas obras de Lygia Clark
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Referências
Bibliográficas:
BROTTO, Fábio Otuzi. – Jogos cooperativos: se o importante é competir, o fundamental é
cooperar. Santos: Projeto Cooperação, 1997.
MILLER, Jussara. Qual é o corpo que dança? São Paulo: Summus, 2012.
Yozo, Ronaldo Yudi k. 100 jogos para grupos: uma abordagem psicodramática para empresas,
escolas e clínicas: Ágora, 1998.
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Sobre a
autora: Helen Faria
Facilitadora de grupos, consultora em Qualidade de
Vida para as empresas há mais de 20 anos, sócia fundadora da empresa Reabily
Qualidade de Vida e da empresa VemSer movimento.
Atriz, bailarina, terapeuta holística, fisioterapeuta e
facilitadora de programas de resiliência, meditação e mindfulness.
É apaixonada por arte e pelos jogos corporais, pela
potência do movimento e das grandes
transformações que vem a partir dele.
Idealizou o “Jogos
de Conexão” para que os grandes insights venham da potência do
grupo, do lúdico, do corpo através e de uma experiência vivida, experimentada e
sentida. Assim, ministra cursos de formação dos "Jogos de Conexão" em várias cidades do país.
Para saber da agenda de cursos escreva para helen@reabily.com.br
Maravilhoso! Sou func pub e arteterapeuta em formação. Esse texto me deu uma luz, vivencio essa problemática no meu dia a dia e sempre penso como mudar a minha rotina! Gratidão!
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