Por Débora
de Castro
@deborarteterapia
A vida, com todas as suas
complexidades e nuances, pode ser comparada a uma cebola, composta por camadas
sobre camadas que se entrelaçam e se revelam aos poucos. No setting arte
terapêutico, essa metáfora se torna uma ferramenta poderosa para explorar e
compreender as diferentes dimensões do ser humano.
No início, nos deparamos com as
camadas mais superficiais, aquelas que representam nossas interações diárias,
papéis sociais e responsabilidades. Essas são as faces que mostramos ao mundo,
muitas vezes protegendo o que está mais abaixo. Na arteterapia, a criação
artística dessas camadas externas nos ajuda a visualizar e compreender como nos
apresentamos ao mundo e como lidamos com as demandas externas.
À medida que avançamos, começamos a
descascar camadas mais profundas. Essas camadas guardam nossas emoções, medos e
traumas. No setting arteterapêutico, a arte se torna uma forma segura de trazer
à tona essas emoções reprimidas. Através do desenho, da pintura ou da
escultura, podemos expressar e processar sentimentos difíceis, permitindo que
essas camadas sejam exploradas e integradas.
Durante uma sessão de arteterapia
com um grupo de mulheres que atendo na modalidade continuada, propus uma
reflexão sobre o tema "CAMADAS". Utilizei essa metáfora para
ilustrar os diversos processos e fases de nossas vidas, destacando como cada
uma delas contribui para a construção de quem somos. Ao explorar o conceito de
camadas, convidei cada participante a olhar para dentro de si e identificar as
diferentes experiências, emoções e memórias que compõem sua identidade. Em
seguida propus as participantes a construir
de forma plástica utilizando material de desenho ou colagem para materializar
de forma espontânea e intuitiva as camadas da própria vida.
Fala
das participantes e a plástica arteterapêutica
Participante -H
Minhas camadas
foram divididas em quatro palavras: Acolher, Recomeçar, nascer e respeitar. Acolher meu útero maternal
nessa chuva de cores vibrantes, impulsionar as minhas escolhas camada por
camada. Recomeçar onde as feridas sangram e renascer onde tudo parece ser o
fim. Nascer nas profundezas da minha essência interior, ver luz onde estiver
escuridão. Respeitar meus limites e deixar fluir no horizonte desse azul
celestial.
Participante
– D
Minhas camadas
falam da minha essência , meu olhar está sempre atento e determinado para minha
essência/ indígena. Relação com a liberdade e a natureza é profunda. Sou ligada a religião e a família/ amor, regado
pelo sol/ energia e pelo equilíbrio e tranquilidade. Cada parte da minha camada
é reflexo da minha identidade. A
arteterapia em grupo tem me ajudado muito nesse mergulho nas minhas camadas
internas.
Foi um momento poderoso de
introspecção e conexão, onde todas as mulheres do grupo. puderam compartilhar
suas histórias e reconhecer a beleza e a complexidade de suas jornadas. A
arteterapia proporcionou um espaço seguro e acolhedor para que cada
participante pudesse explorar suas camadas de forma criativa e expressiva,
promovendo o autoconhecimento e o fortalecimento emocional.
A metáfora das
camadas permitiu que as participantes visualizassem suas vidas como um processo
contínuo de transformação e evolução, onde cada experiência, seja positiva ou
desafiadora, adiciona profundidade e riqueza à sua identidade.
No final da
sessão, ficou claro que, embora cada camada seja única, todas elas juntas
formam um todo repleto de histórias e experiências que fazem parte do nosso EU
mais profundo. Pensando na cebola e sua raiz, podemos ver como cada camada
representa diferentes fases e processos de nossa vida. Assim como a cebola,
nossas camadas se sobrepõem e se interconectam, protegendo e nutrindo o núcleo
essencial que define quem somos.
O núcleo do
nosso ser é um processo contínuo de crescimento, mudança e descoberta,
revelando a beleza e a complexidade da vida em cada camada vivida e sentida.
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Sobre a autora: Débora Castro
Sou Débora de Castro, graduada em Pedagogia, Educação Artística, com pós-graduação em Psicopedagogia e Pós-Graduação em Educação Especial e Inclusiva. Com formação em Arteterapia, AARJ/1411. Atuo na área de Educação há mais de 28 anos, como professora de Artes Visuais e História da Arte. Atualmente coordeno um grupo de Arteterapia para Mulheres e ministro oficinas Arte terapêuticas no online e presencial.
Amei o texto !
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