segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

CAMADAS DA VIDA - UMA PERSPECTIVA ARTETERAPËUTICA

 

Por Débora de Castro

@deborarteterapia

A vida, com todas as suas complexidades e nuances, pode ser comparada a uma cebola, composta por camadas sobre camadas que se entrelaçam e se revelam aos poucos. No setting arte terapêutico, essa metáfora se torna uma ferramenta poderosa para explorar e compreender as diferentes dimensões do ser humano.


 

No início, nos deparamos com as camadas mais superficiais, aquelas que representam nossas interações diárias, papéis sociais e responsabilidades. Essas são as faces que mostramos ao mundo, muitas vezes protegendo o que está mais abaixo. Na arteterapia, a criação artística dessas camadas externas nos ajuda a visualizar e compreender como nos apresentamos ao mundo e como lidamos com as demandas externas.

À medida que avançamos, começamos a descascar camadas mais profundas. Essas camadas guardam nossas emoções, medos e traumas. No setting arteterapêutico, a arte se torna uma forma segura de trazer à tona essas emoções reprimidas. Através do desenho, da pintura ou da escultura, podemos expressar e processar sentimentos difíceis, permitindo que essas camadas sejam exploradas e integradas.

Durante uma sessão de arteterapia com um grupo de mulheres que atendo na modalidade continuada, propus uma reflexão sobre o tema "CAMADAS". Utilizei essa metáfora para ilustrar os diversos processos e fases de nossas vidas, destacando como cada uma delas contribui para a construção de quem somos. Ao explorar o conceito de camadas, convidei cada participante a olhar para dentro de si e identificar as diferentes experiências, emoções e memórias que compõem sua identidade. Em seguida propus  as participantes a construir de forma plástica utilizando material de desenho ou colagem para materializar de forma espontânea e intuitiva as camadas da própria vida.

                                            Fala das  participantes e a plástica arteterapêutica

 


Participante -H

Minhas camadas foram divididas em quatro palavras: Acolher, Recomeçar, nascer  e respeitar. Acolher meu útero maternal nessa chuva de cores vibrantes, impulsionar as minhas escolhas camada por camada. Recomeçar onde as feridas sangram e renascer onde tudo parece ser o fim. Nascer nas profundezas da minha essência interior, ver luz onde estiver escuridão. Respeitar meus limites e deixar fluir no horizonte desse azul celestial.



Participante – D

Minhas camadas falam da minha essência , meu olhar está sempre atento e determinado para minha essência/ indígena. Relação com a liberdade e a natureza é profunda. Sou  ligada a religião e a família/ amor, regado pelo sol/ energia e pelo equilíbrio e tranquilidade. Cada parte da minha camada é reflexo da minha identidade.  A arteterapia em grupo tem me ajudado muito nesse mergulho nas minhas camadas internas.

Foi um momento poderoso de introspecção e conexão, onde todas as mulheres do grupo. puderam compartilhar suas histórias e reconhecer a beleza e a complexidade de suas jornadas. A arteterapia proporcionou um espaço seguro e acolhedor para que cada participante pudesse explorar suas camadas de forma criativa e expressiva, promovendo o autoconhecimento e o fortalecimento emocional.

A metáfora das camadas permitiu que as participantes visualizassem suas vidas como um processo contínuo de transformação e evolução, onde cada experiência, seja positiva ou desafiadora, adiciona profundidade e riqueza à sua identidade.

No final da sessão, ficou claro que, embora cada camada seja única, todas elas juntas formam um todo repleto de histórias e experiências que fazem parte do nosso EU mais profundo. Pensando na cebola e sua raiz, podemos ver como cada camada representa diferentes fases e processos de nossa vida. Assim como a cebola, nossas camadas se sobrepõem e se interconectam, protegendo e nutrindo o núcleo essencial que define quem somos.

O núcleo do nosso ser é um processo contínuo de crescimento, mudança e descoberta, revelando a beleza e a complexidade da vida em cada camada vivida e sentida.


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Sobre a autora: Débora Castro



Sou Débora de Castro, graduada em Pedagogia, Educação Artística, com pós-graduação em Psicopedagogia e Pós-Graduação em Educação Especial e Inclusiva. Com formação em Arteterapia, AARJ/1411. Atuo na área de Educação há mais de 28 anos, como professora de Artes Visuais e História da Arte. Atualmente coordeno um grupo de Arteterapia para Mulheres e ministro oficinas Arte terapêuticas no online e presencial.

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