O Não Palavra têm recebido importantes colaborações nos últimos anos e, em especial. nos últimos meses. É com grande satisfação que reconhecemos também a intensificação nos acessos aos nossos textos no blog, que atualmente ultrapassam a marca de 1.000 por publicação além das visitas à nossa fan page. Importante neste momento lembrarmos que há pouco tempo comemorávamos 10 leitores, choramos quando chegamos a 100!!!!
Na última semana estávamos aborrecidas por não ter sido possível a nenhuma de nós estar presente no 12º Congresso Brasileiro de Arteterapia, em Salvador. Mas, como não poderíamos deixar um evento tão importante sem um registro no nosso blog, convidamos nossa colega arteterapeuta Luciana Pellegrini Baptista para compartilhar conosco o que viu por lá e nos contar sobre a sua oficina "Vestida de sua História" inspirada na artista mexicana Frida Khalo.
Seja bem-vinda Luciana!!!!
Flávia Hargreaves
(Equipe Não Palavra)
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UM OLHAR SOBRE O 12º CONGRESSO BRASILEIRO DE ARTETERAPIA
Por
Luciana Pellegrini Baptista
contato: lucianapellegrinibr@yahoo.com.br
A
abertura oficial do 12º Congresso Brasileiro de Arteterapia de Salvador ocorreu
em 13 de outubro de 2016, à noite com apresentação de uma atividade cultural e
palestra com Kaká Werá, que falou sobre a Natureza Integral do Ser. Representantes
de vários estados participaram do evento.
Na
manhã desse dia foram oferecidos vários minicursos de 8:30h às 17:30h. Um dos
minicursos de que participei foi O Corpo
Secreto: Técnicas expressivas coligadas ao trabalho corporal, de Irene Gaeta.
A experiência fala de técnicas de relaxamento que promovem a amplificação da
consciência, facilitando a expressão.
No dia 14, antes do início das mesas
redondas, fomos recepcionados por um conjunto musical que espontaneamente nos
levou a formar uma grande roda. Vejo este momento como a abertura artístico
expressiva do Congresso. Nessa oportunidade cantamos “modinhas” populares,
entrando no clima dos estudos sobre a terapêutica através da Arte, que ensina
que a Arte pode aliviar sintomas, pode curar e levar o paciente a melhor
entender o que o aflige, possibilitando novos olhares, novas posturas, nova
forma de viver.
Após
esse ritual de abertura, iniciaram-se os trabalhos com a palestra: Arteterapia no Brasil: 30 anos de Formação e
Transformação, proferida por Angela Philippini e Selma Ciornai, duas das
precursoras da Arteterapia no Brasil, a primeira no Rio de Janeiro e a segunda
em São Paulo. Dentre
os fatos narrados na construção desse projeto foram destacadas algumas ações, como
o 1º Congresso de Arteterapia do Mercosul, de âmbito internacional, ocorrido no
Rio de Janeiro, em 2005; a criação da UBAAT (União Brasileira das Associações
de Arteterapia), que teve seu Manifesto
de Fundação criado em 2003 e oficialmente fundada em abril de 2006 em fórum de
São Paulo[1]
e o cadastro da Arteterapia como ocupação, sob o nº 2263-IO. Uma
das curiosidades sobre as experiências iniciais com a Arteterapia ocorreram
após a Segunda Grande Guerra, com Viktor Lowenfeld, devido ao grande número de
pessoas traumatizadas com os sofrimentos por que passaram.
Encerrada
a palestra, assistimos a uma performance que concluiu aquele momento inicial
com uma poesia de Fernando Pessoa, emocionando a plateia. Após
breve intervalo, os participantes dirigiram-se às salas cujos temas lhes
interessavam. Minha opção foi a mesa temática 3, que abordava questões
referentes aos Desafios na formação
profissional do Arteterapeuta, tema que se subdividiu em três falas: a primeira, de Cristina Lopes, A criatividade como alimento para a atuação
em Arteterapia. A palestrante deu
apoio à sua fala, recorrendo a artistas e escritores ligados ao tema,
oferecendo opções de leituras, filmes, como "O
abraço da serpente", músicas como as de Flávio Venturini e Adriana
Calcanhoto e citações valiosas. A segunda, de Andrea Graupen, Éticas- circunscrevendo processos de
cuidado, falou sobre a geração beat,
pela liberdade de expressão que os caracterizava, identificando-os com o
Surrealismo, em suas manifestações expressivas. A terceira, de Edna Lopes, Educação continuada: reconstruções no
cotidiano, propõe reflexões sobre rupturas e reconstruções e o faz, trazendo-nos
Guimarães Rosa que recria a língua, de forma personalíssima e a coloca na boca
de seus personagens, dando outro vigor ao discurso.
Também
participei de outras mesas temáticas com temas como: Arteterapia e diversidade; Expressão mítica do inconsciente: Os orixás; O caminho de Avalon: Simbologia e
Amplificação Simbólica; Arteterapia, Saúde e Educação; Significado da Arte na evolução
do Ser; Arteterapia desenvolvendo a criatividade para o bem estar do idoso e do
tema livre com os temas: A Arteterapia como caminho para sensibilizar, acolher
e aprender com as diferenças e Estimulação cognitiva de idosos com Alzheimer
através da Arte.
Sobre Oficinas em Arteterapia
No segundo dia, coordenei a oficina Vestida de sua História. Acerca dessa proposta apresento minhas motivações. Oficinas são recursos utilizados de forma a proporcionar experiências de determinados conceitos terapêuticos, através de processos de criação sugeridos, e recorrer aos mitos sociais, conhecendo suas trajetórias. Estes elementos dão sentido à proposta da terapia através da Arte. Mitos sociais são pessoas do nosso cotidiano que têm em suas habilidades maior facilidade na utilização de materiais artísticos e expressivos. Segundo Schaverien, em seu livro The Revealing Image: Analytical Art Psychotherapy in Theory and Practice [2] “as pessoas com certo treino em arte são geralmente mais conscientes dos processos inconscientes que emergem durante seus trabalhos.” Ele diz ainda que “seus sensores internos são muito mais vigilantes” e complementa: “Um artista pode se defender com sua arte tanto quanto uma pessoa que é boa com as palavras pode defender-se com o uso das mesmas”.
No segundo dia, coordenei a oficina Vestida de sua História. Acerca dessa proposta apresento minhas motivações. Oficinas são recursos utilizados de forma a proporcionar experiências de determinados conceitos terapêuticos, através de processos de criação sugeridos, e recorrer aos mitos sociais, conhecendo suas trajetórias. Estes elementos dão sentido à proposta da terapia através da Arte. Mitos sociais são pessoas do nosso cotidiano que têm em suas habilidades maior facilidade na utilização de materiais artísticos e expressivos. Segundo Schaverien, em seu livro The Revealing Image: Analytical Art Psychotherapy in Theory and Practice [2] “as pessoas com certo treino em arte são geralmente mais conscientes dos processos inconscientes que emergem durante seus trabalhos.” Ele diz ainda que “seus sensores internos são muito mais vigilantes” e complementa: “Um artista pode se defender com sua arte tanto quanto uma pessoa que é boa com as palavras pode defender-se com o uso das mesmas”.
Na
oficina proporciona-se em menor tempo e intensidade o que acontece no processo
terapêutico em Arteterapia, ou até demonstra-se alguma condução sobre determinado conceito
quando esta é direcionada para um público de profissionais do meio. Nesta
modalidade de terapia com a Arte, a comunicação verbal tão costumeiramente
conhecida é substituída pela atividade expressiva, junto com o material
artístico. Um terceiro elemento entra, pois, nesta relação, o material. Portanto a proposta da Arteterapia com as
técnicas expressivas e os materiais artísticos possibilitam uma outra forma de
terapia: “propiciar a posse de uma outra forma de comunicação (entre sujeito e
seus conteúdos internos, entre o sujeito e a expressão destes conteúdos e entre
o sujeito e o arteterapeuta). A oficina
vai utilizar a expressão e material artístico promovendo uma pequena
experiência do que ocorre no processo arteterapeutico. Arteterapia implica uma situação de
ajuda, auxílio a um outro que está em situação de sofrimento ou desconforto.
Entre
os materiais artísticos conhecemos os de Artes Plásticas, como tinta, argila,
lápis pastel, aquarela, papéis de diferentes texturas, massa de modelar, etc. Quanto às técnicas expressivas, as artísticas, corporal, relaxamento, imaginação ativa, imaginação dirigida, etc.
Enfim, o coordenador da oficina escolhe um tema para ser vivenciado pelo
grupo, utilizando técnicas expressivas e materiais artísticos, para que o mergulho
no tema lhes permita o aprendizado e o aproveitamento em benefício próprio,
resignificando seus próprios conflitos e sofrimentos. A escolha do tema é
intencional e pode se dar a partir de um conceito de Psicologia que mais faça
sentido ao coordenador (no meu caso a Psicologia Analítica), a história de vida
de um artista, pintor, ator, de modo geral, pessoas ligadas à Arte e que as
vivenciaram como forma de superação.
Em
15/10, dando continuidade ao meu relato, segundo dia do Congresso, apresentei minha
oficina: Vestida de sua história,
que traz como tema um pouco da história de Frida Kahlo, pintora que teve saúde
frágil, motivada por doenças da infância e grave acidente em sua juventude, que
comprometeram toda a sua vida. Nesta oficina minha intenção era que os
participantes se utilizassem da performance para vivenciar alguma experiência
sobre Frida Kahlo e que, nesta condição, superassem como ela o fez, através da
Arte, seus conflitos e complexos mais latentes. Frida, a partir de suas
pinturas e características no vestir-se tipicamente, dando identidade ao que
arquetipicamente cultuava, superou anos de sofrimento em cirurgias e
tratamentos para em sua condição de existência sofrida e dolorosa,
ressignificá-la através dos pincéis, tintas e telas. Precursora, que rompeu com
padrões estabelecidos e criou sua própria história, Frida foi uma mulher
adiante do seu tempo. Nascida em 07 de julho de 1907, filha de pai alemão e mãe
mexicana, descendente da cultura indígena Terruana, do México, teve atuação
como militante política. Casada com o muralista Diego Rivera, manteve sempre
suas convicções.
Tanto
no vestir-se como no ato de pintar buscava a salvação da frágil condição de
saúde que a vida lhe reservara e apesar de ter suas obras indicadas para fazer
parte do movimento Surrealista, então em voga, recusou a oferta. Dizia que
pintava sua realidade, marcada por muito sofrimento, conforme as telas
demonstram. Para Frida que tinha uma boa relação com o pai, pintar aliviava suas
dores. Pintando, a artista dava outro sentido à sua existência, superando a
fragilidade e os tratamentos dolorosos.
Minha
intenção ao compartilhar neste texto meu olhar sobre as oficinas de Arteterapia, tendo participado no Congresso dos dois lados desta experiência, coordenando e vivenciando, foi levar ao conhecimento das pessoas um pouco do que significa esta prática tão comum na Arteterapia e que são oferecidas ao público por diversos ateliês profissionais e ateliês formadores de arteterapeutas. Convido a todos aqueles que ainda não a vivenciaram que fiquem atentos aos eventos promovidos pela Arteterapia para que possam experimetá-la.
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Luciana
Pellegrini Baptista é Psicóloga CRP-0514647, especialista em Arteterapia,
membro da diretoria da AARJ, com experiência em atendimentos no Hospital Naval
de Natal/RN, APAE/RN e, atualmente, no Hospital dos Servidores, no projeto do INCORPORARSE. Coordena, ainda, o projeto
Criatividade e Arteterapia na Aprendizagem,
na Fundação das Operárias de Jesus.
Referências
Bibliograficas:
SEI, Maíra Bonafé e GONÇALVES, Tatiana Fecchio
- Arteterapia com grupos: aspectos teóricos e práticos. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2010
Gostaria de parabenizar a autora do texto pela clareza e simplicidade com que descreveu o seminario de arte terapia.
ResponderExcluirCom conhecimento agudo da materia, descreveu com intensidade as diversas fases do evento, transportando a nos, leitores, para vivenciarmos a sua ocorrencia.
Merece atencao, ainda, a exemplificacao com a vida atribulada da famosa pintora mexicana, Frida Kalo, cujo curso de sofrimentos foi dissertado pela autora.
Por tudo isso e por mais que nao tenha alcancado, parabenizo-me com
O assunto tao bem conduzido pela brilhante estudiosa