segunda-feira, 3 de novembro de 2025

A ÁRVORE DOS SENTIMENTOS

 

Anderson Amaral & Adriana Limeira do Nascimento - CE

 

A Arteterapia tem se mostrado uma ferramenta valiosa no cuidado de idosos institucionalizados, favorecendo a expressão emocional, a socialização e o estímulo cognitivo. Por meio das atividades artísticas, os participantes são convidados a resgatar memórias, refletir sobre suas vivências e ressignificar emoções, fortalecendo o bem-estar e a qualidade de vida.

A institucionalização de idosos segundo AMARAL e NASCIMENTO (2025) aumentou nos últimos anos no Brasil. Espaços terapêuticos dentro das instituições de longa permanência para idosos (ILPIs) têm como propostas o envolvimento entre profissionais e idosos, desenvolvendo e fortalecendo vínculos entre eles, promovendo um ambiente de humanização, estimulação e interação entre usuários institucionalizados.

O simbolismo da árvore seca assume um papel central nesta proposta, representando a vida como um ciclo contínuo de transformações. Ao preencher os galhos com folhas que simbolizam emoções, as participantes puderam visualizar e reorganizar seus sentimentos, compreendendo o que desejam manter e o que precisam deixar ir, em um processo simbólico de renovação emocional e existencial.

 

Objetivos da atividade

·         Promover o reconhecimento, a compreensão e a expressão dos sentimentos.

·         Explorar o simbolismo da vida como um ciclo de experiências emocionais.

·         Estimular a reflexão sobre emoções que fortalecem e aquelas que desejamos transformar.

·  Favorecer a ressignificação de experiências e a liberação de sentimentos negativos, promovendo bem-estar emocional.

 

Materiais utilizados

·         Desenho grande de uma árvore seca (tronco e galhos) em uma folha A4

·         Treze faces das emoções impressas numa folha A4

·         Lápis de cor, tesoura e cola

Passo a Passo da Dinâmica

1. Recepção e Relaxamento

O grupo nesse dia foi composto pela presença de mulheres da ILPI Amantino Camara em Mossoró RN. Elas foram convidadas a participar da sessão de arteterapia e acolhidas de forma afetuosa, sendo organizadas ao redor da mesa. Para favorecer a atenção plena e o relaxamento inicial, foi colocada uma música suave de sons da floresta, com o murmúrio de riachos e o balanço das árvores ao vento.
Durante cinco minutos, as participantes foram orientadas a inspirar e expirar lentamente, criando um ambiente calmo, introspectivo e propício à escuta interior. A música permaneceu durante toda a atividade, sustentando a atmosfera de serenidade e conexão.

2. Apresentação da Árvore

Após o relaxamento, foi apresentada a árvore seca e as imagens das faces das emoções. Explicou-se que a árvore simboliza a vida e suas transformações, enquanto as faces representam sentimentos bons e ruins, que fazem parte da trajetória humana. As participantes foram convidadas a refletir sobre as emoções que desejavam cultivar e aquelas que precisavam transformar ou deixar para trás.


 

3. Colorindo as Emoções

Em seguida, foram distribuídas as folhas com as faces das emoções. Cada idosa foi orientada a colorir as expressões com as tonalidades que melhor representassem seus sentimentos. O ato de colorir se mostrou um momento de expressão individual, introspecção, criatividade e liberdade simbólica, no qual cada cor traduzia afetos e lembranças.

 


       

4. Emoções como Folhas

Após o colorido, as participantes recortaram as faces. Aquelas com dificuldades motoras receberam auxílio dos mediadores, assegurando a inclusão de todas as participantes.
Posteriormente, elas escolheram quais emoções desejavam manter na vida, colando-as nos galhos da árvore — representando as folhas vivas. As emoções que desejavam deixar para trás foram coladas no chão ou no tronco da árvore, como folhas caídas, simbolizando a liberação de sentimentos que já não fazem parte de suas trajetórias.
Ao final, a árvore tornou-se um reflexo coletivo das vivências do grupo — um mosaico emocional que unia cores, lembranças, experiências e vivencias e escolhas pessoais.

     


 


Reflexão Coletiva

Para concluir, foi realizada uma roda de conversa, na qual as participantes compartilharam seus trabalhos e as suas percepções e descobertas. As falas revelaram profundidade, sensibilidade e consciência emocional:

“Foi bom colocar no galho só os sentimentos que quero para minha vida. Me senti leve ao deixar os ruins caírem.”

“Percebi que guardo muita alegria e amor dentro de mim, e não preciso ficar segurando a raiva e a tristeza.”

“Essa árvore me fez lembrar de momentos felizes e que quero continuar cultivando e carregando para vida.”

“Ao ver os sentimentos ruins no chão, senti que posso deixar para trás mágoas que me faziam mal.”

“Colorir minhas emoções me ajudou a entender o que é importante e o que posso mudar na minha vida.”

“O passar dos anos temos dificuldades de deixar as árvores secas para trás… às vezes carregamos elas como correntes. Foi bom deixar elas hoje.”

Esses depoimentos traduzem o efeito terapêutico e simbólico da atividade, demonstrando como a arteterapia pode abrir caminhos para o autoconhecimento, a aceitação e o alívio emocional.

 

Considerações Finais

A experiência descrita reafirma o potencial humanizador e transformador da arteterapia no contexto das instituições de longa permanência. A atividade A Árvore dos Sentimentos mostrou-se uma prática rica em simbolismos, capaz de favorecer o contato com o eu emocional, o resgate de memórias e a ressignificação da própria existência.

Durante a vivência, observou-se o envolvimento afetivo das idosas, a concentração, o despertar de lembranças e a reflexão sobre as emoções que desejam preservar ou libertar. A metáfora da árvore seca — que ganha novas cores e folhas — tornou-se imagem viva da capacidade de renascer emocionalmente, mesmo diante das limitações do envelhecimento e da institucionalização.

É importante ressaltar que ressignificar a vida é um processo possível em todas as fases da existência, e ganha ainda mais relevância nesta etapa marcada pela finitude, pelas perdas funcionais e pela reconstrução da identidade. A arteterapia oferece um espaço de acolhimento e expressão, permitindo que sentimentos reprimidos encontrem lugar e significado.

Mais do que uma atividade artística, esta experiência revelou-se um gesto de cuidado integral, em que cada cor e cada escolha expressaram o desejo de continuar sendo. Assim, a arteterapia se reafirma como um instrumento de cuidado emocional, cognitivo e existencial, capaz de devolver ao idoso o protagonismo e o sentido de ser autor de sua própria história.

 


       

 

Referência:

AMARAL, A.; NASCIMENTO, A. L. Gerontoteca como espaço de humanização e estimulação lúdica: o jogo de regras como mantenedor da saúde. In: GIMENES, A.; FONSECA, R. (Orgs.). Tratado do jogo de regras às regras em jogo: dos espaços lúdicos aos tabuleiros da vida. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2025. p. 669–681.

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Sobre os autores:



Anderson Amaral

Arteterapeuta formado pelo Espaço Psi Rio de Janeiro. Mestre em Tecnologia no Espaço Hospitalar, Pós-graduação em Neurociência com ênfase em Envelhecimento. Pós-graduado em Geriatria e Gerontologia, Pós-graduação em Neuropsicologia ênfase em Reabilitação Cognitiva. Arteterapeuta do lar Am

antino Câmara. Autor dos Livros Jogos de Estimulação Cognitiva e Motora; Jogos cognitivos: Um olhar multidisciplinar - WAK Editora e Co autora do livro Tratado do jogo: das regras às regras em jogo - WAK Editora

 Adriana Limeira do Nascimento – Arteterapeuta, Terapeuta Ocupacional, Pós-graduação em Saúde Menta, Pós-graduação em Saúde Pública e Brinquedista pela ABBri – Autora do Livro Jogos de Estimulação Cognitiva e Motora - WAK Editora e Co autora do livro Tratado do jogo: das regras às regras em jogo e do livro Jogos cognitivos: Um olhar multidisciplinar - WAK Editora




Adriana Limeira do Nascimento 

Arteterapeuta, Terapeuta Ocupacional, Pós-graduação em Saúde Menta, Pós-graduação em Saúde Pública e Brinquedista pela ABBri – Autora do Livro Jogos de Estimulação Cognitiva e Motora - WAK Editora e Co autora do livro Tratado do jogo: das regras às regras em jogo e do livro Jogos cognitivos: Um olhar multidisciplinar - WAK Editora