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segunda-feira, 10 de junho de 2024

ESTUDOS SOBRE TRAUMA: UM COMPARTILHAMENTO

 


Rita Finotti Pardi – SP

@finottirita 

Sou Rita Finotti Pardi, pós-graduada em Arteterapia pelo Instituto Freedom-SP e Arte Educadora formada pela Faculdade Belas Artes-SP. Tendo em vista meu interesse latente pelo tema trauma, mesmo não tendo essa especialização formal, venho estudando e buscando entender de forma espontânea e autodidata o trauma e suas consequências. Apresento aqui alguns fragmentos de minhas pesquisas pessoais, baseadas em lives e aulas através do canal do YouTube dadas pelas professoras e terapeutas Cecília Lauriano (@cecilia.laurianooficial) e Liana Netto (@liananetto). Sendo um assunto atual e pertinente, compartilho este artigo na expectativa de contribuir de alguma forma. 

Trauma pode ser definido como uma resposta psicológica e emocional avassaladora a eventos ou experiências que ameaçam a integridade física, emocional ou psicológica de uma pessoa. Trauma é o que nos acontece na vida, é o incontrolável, o imponderável, como a morte, doenças, acidentes, rompimentos de relacionamentos, eventos naturais. Esses eventos são percebidos como inesperados, avassaladores e muitas vezes estão além da capacidade de enfrentamento da pessoa envolvida. É importante ressaltar que o trauma não está apenas no evento em si, mas a forma como o sistema nervoso reage a ele. Esta reação pode ser altamente subjetiva e influenciada pela história de vida, experiências passadas e capacidade de adaptação do indivíduo. 

O trauma pode assumir diferentes formas e manifestar-se de várias maneiras, desde eventos únicos e graves, como acidentes ou agressões, até experiências prolongadas de abuso emocional, negligência ou violência. Além disso, o trauma pode ser resultado de exposição repetida e prolongada a situações estressantes, especialmente durante a infância, conhecido como trauma complexo. 

É essencial compreender que o impacto do trauma vai além do evento inicial. Pode afetar profundamente a maneira como uma pessoa se percebe, como se relaciona com os outros e como enfrenta o mundo ao seu redor. Os sintomas do trauma podem incluir uma ampla gama de manifestações físicas, emocionais, comportamentais e cognitivas, que podem variar em gravidade e duração. É uma experiência que transcende a mera adversidade e pode deixar marcas duradouras na vida de um indivíduo. É um fenômeno complexo que requer compreensão, sensibilidade e intervenção terapêutica adequada para promover a cura e a resiliência emocional. 

Resumidamente, o trauma é um conceito que pode ser definido de maneira simples: ocorre quando o tempo não consegue curar uma ferida. Independentemente de quanto tempo tenha passado, seja desde o útero materno, desde o nascimento, ou em qualquer fase da infância ou adolescência, até mesmo a fase adulta, se a ferida não foi adequadamente amparada e não avançou para a cicatrização, isso resulta em traumatização.  

A Traumatização é a cronificação, paralisação, fixação, é o desfecho provocado pelo evento traumático. Esse senso de desconexão e desamparo é o ambiente para sua instalação. Quando não conseguimos elaborar, quando esses eventos rompem os nossos limites, não são incorporados na correnteza da autorregulação da nossa resiliência e criam fixações.

Tipos de trauma: 

- Trauma Agudo: resulta de um evento único e muitas vezes repentino, como acidentes graves, agressões físicas, assaltos, desastres naturais ou eventos violentos.

Este tipo de trauma geralmente ocorre de forma inesperada e pode ter um impacto imediato e avassalador na pessoa afetada, (Ex: o caso RS). 

- Trauma Crônico: refere-se a experiências prolongadas de estresse ou adversidade ao longo do tempo. Pode incluir situações como abuso emocional, negligência, violência doméstica, exposição a conflitos armados ou condições de vida precárias. O trauma crônico pode causar danos duradouros à saúde mental e emocional, afetando a capacidade da pessoa de funcionar no dia a dia. 

- Trauma Complexo: é resultado da exposição repetida e prolongada a eventos traumáticos, especialmente durante a infância. Geralmente está associado a situações de abuso ou negligência crônicos, onde a pessoa enfrenta múltiplos traumas ao longo do tempo. Este tipo de trauma pode causar danos profundos no desenvolvimento emocional e psicológico da pessoa, afetando sua autoestima, relacionamentos e capacidade de confiar nos outros. 

- Trauma Vicariante (ou "fadiga por compaixão"): ocorre pela exposição às histórias traumáticas de outras pessoas. Mesmo que não tenham vivenciado diretamente os eventos traumáticos, a empatia e a conexão com as experiências dos outros podem causar estresse emocional e sintomas semelhantes aos do trauma direto. O trauma vicariante pode resultar em esgotamento emocional, ansiedade, depressão e outros sintomas semelhantes aos do trauma direto, exigindo cuidados terapêuticos específicos É quando nos falta “musculatura” emocional. Além disso, pode desenvolver-se em familiares das pessoas afetadas diretamente, voluntários e profissionais que atuam na linha de frente 

Abordagens Terapêuticas utilizadas no tratamento do trauma: 

- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): a TCC é uma abordagem baseada na identificação e modificação de padrões de pensamento negativos e comportamentos disfuncionais associados ao trauma. Ajuda os pacientes a reconhecer e desafiar crenças distorcidas sobre si mesmos e o mundo, promovendo uma visão mais realista e adaptativa das experiências traumáticas. Estratégias como dessensibilização sistemática e reprocessamento cognitivo são frequentemente usadas para ajudar os pacientes a lidar com memórias traumáticas e reduzir sintomas de estresse pós-traumático. 

- Terapia de Exposição Gradual: esta abordagem envolve a exposição controlada e gradual às lembranças ou situações que desencadeiam sintomas de trauma. O terapeuta ajuda o paciente a enfrentar gradualmente as memórias traumáticas, permitindo-lhes processar e integrar essas experiências de uma maneira segura e terapêutica. A exposição gradativa pode ajudar a reduzir a intensidade e a frequência dos sintomas de estresse pós-traumático ao longo do tempo. 

- Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares (EMDR): O EMDR é uma abordagem terapêutica que combina técnicas de exposição com estímulos bilaterais, como movimentos oculares, toques táteis ou estímulos sonoros. Ajuda os pacientes a processar lembranças traumáticas de forma menos intensa, facilitando a reestruturação cognitiva e a redução dos sintomas de ansiedade e estresse. 

- Terapia Centrada no Trauma: Esta abordagem terapêutica concentra-se na compreensão e na validação das experiências traumáticas do paciente, criando um espaço seguro para explorar e processar o trauma. O terapeuta trabalha em parceria com o paciente para reconstruir um senso de segurança e autonomia, promovendo a resiliência emocional e a recuperação do trauma. 

- Arteterapia: Ela oferece uma forma não verbal de comunicação que pode ser especialmente útil para pacientes que tenham dificuldades em expressar suas emoções e experiências verbalmente. Pode ajudar os pacientes a acessar e integrar memórias traumáticas de uma maneira segura e terapêutica, promovendo a cura emocional e a resiliência. Utilizar a arte e outras formas de expressão criativa pode oferecer ao paciente uma maneira alternativa e não verbal de processar suas experiências traumáticas. Isso permite que se expressem de maneira mais livre e autêntica, respeitando sua demanda de fala ou por silêncio. 



Cuidados Terapêuticos para o Tratamento de Trauma: 

No tratamento de pacientes de trauma, é fundamental adotar uma abordagem sensível e centrada no cliente, levando em consideração suas necessidades individuais e respeitando sua demanda de fala ou de silêncio. Aqui estão alguns cuidados terapêuticos importantes a serem considerados: 

- Estabelecimento de uma Relação de Confiança: construir uma relação terapêutica sólida e de confiança é fundamental. Isso envolve demonstrar empatia, aceitação incondicional e respeito pelo ritmo do paciente. 

- Respeito à Autonomia e Autodeterminação: reconhecer e respeitar a autonomia do paciente é essencial. Isso inclui permitir que o paciente tome decisões sobre seu próprio tratamento e respeitar seus limites individuais. 

- Validação e Empoderamento: validar as experiências do paciente e reconhecer a coragem que ele demonstra ao enfrentar o trauma pode ser extremamente capacitador. Isso ajuda a fortalecer a autoconfiança e promover um senso de controle sobre sua própria narrativa. 

- Foco no aqui e agora: embora seja importante explorar e processar as experiências passadas, é igualmente importante manter um foco no presente. Isso ajuda o paciente a desenvolver habilidades de enfrentamento eficazes para lidar com desafios atuais. 

- Flexibilidade e Adaptabilidade: reconhecer que cada pessoa responde ao trauma de maneira diferente e estar preparado para adaptar as abordagens terapêuticas de acordo com as necessidades individuais do paciente é essencial.

 - Uso de Técnicas de Regulação Emocional: ensinar e praticar técnicas de regulação emocional pode ajudar o paciente a lidar com sintomas de ansiedade, estresse e disfunção emocional. Isso pode incluir exercícios de respiração, mindfulness, técnicas de relaxamento, entre outros. 

Ao adotar esses cuidados terapêuticos, de respeito, de presença, de escuta, podemos criar um ambiente seguro e solidário que promova a autorregulação, cura e a resiliência nos pacientes de trauma, respeitando sua jornada individual de recuperação. 

Finalizo com uma frase que muito fez sentido para mim: Trauma – “Muitas vezes no terrível que a gente encontra o incrível. ” De Liana Netto. 

Deixo uma sugestão de livro para quem quiser maior entendimento: “UMA VOZ SEM PALAVRAS” de Peter A. Levine, que aborda como o corpo libera o trauma e restaura o bem-estar.


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Sobre a autora: Rita Finotti Pardi



Pós-graduada em Arteterapia pelo Instituto Freedom-SP e Arte Educadora formada pela Faculdade Belas Artes-SP. 

Frequanta ativamente a rede Não Palavra e Crisântemo, se preparando para novos vôos na Arteterapia. 


3 comentários:

  1. Ótima abordagem, bastante lúcida.

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  2. Rita Finoti, parabéns! Valeu a pena esperar pelo tempo de amadurecimento do tema porque está sensacional. Coerente, consistente, sugestivo e incentiva ao estudo. Bastante esclarecedor e com a devida amplitude e atenção que o tema merece. Que as pesquisas continuem, pois é um tema vasto e muito importante, afinal, como voce concluiu com tanta beleza: “Muitas vezes no terrível que a gente encontra o incrível. ” Bem-vinda ao circuito colaboradores da Rede Não Palavra! Tania Moreira, Caminhartes.

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