Por Eliana Moraes – MG
naopalavra@gmail.com
“Eu
te desejo não parar tão cedo
Pois toda idade tem prazer e medo
E com os que erram feio e bastante
Que você consiga ser tolerante
Quando
você ficar triste, que seja por um dia
E não o ano inteiro
E que você descubra que rir é bom
Mas que rir de tudo é desespero.”
2021 começou como um ano
estranho, indiferenciado de 2020, ainda pairando no ar uma brisa de
instabilidade e incerteza. Desde 2010 tenho o hábito de ao final de cada ano
criar a minha “Mandala dos desejos” para o ano seguinte. Esta prática muito já
me ajudou no reconhecimento, escuta, legitimação, até mesmo ressignificação e
apropriação dos meus reais desejos. E
pela primeira vez em dez anos, não consegui constelar em imagem meus desejos para
2021, pois em um cenário tão nebuloso, não me era possível fazer contato com
meus desejos mais profundos.
O percurso de 2021 foi tomando
forma de maneira intuitiva, a medida que fui caminhando. E me deparei com a
oportunidade de fazer uma grande mudança em minha vida, talvez a maior de
todas: a oportunidade de encerrar o ciclo de estrangeirismo e me reintegrar nas
terras de minhas origens. Percebi que intuitivamente estava vivenciando aquilo
que Viktor Frankl, criador da Logoterapia e autor do best seller “Em Busca de sentido: um psicólogo no campo de
concentração”, chamou de liberdade interior:
Onde fica a liberdade
humana? Não haveria um mínimo de liberdade interior no comportamento, na
atitude frente às condições ambientais ali encontradas?...
Haveria suficientes exemplos... que demonstram ser possível superar a apatia e reprimir a irritação; e continua existindo, portanto um resquício de liberdade do espírito humano, de atitude livre do eu frente ao meio ambiente, mesmo nessa situação de coação aparentemente absoluta, tanto exterior como interior... se pode privar a pessoa de tudo, menos da liberdade última de assumir uma atitude alternativa frente às condições dadas... (FRANKL, 2019, 87-88)
A liberdade interior foi algo que
trabalhei com meus pacientes em 2021, pois diante de uma realidade tão dura e
aparentemente absoluta, ao final do ano percebemos que cada sujeito escreveu
seu ano a partir da sua capacidade de “assumir uma atitude alternativa frente
às condições dadas”.
Neste contexto, sustentar o
território do Não Palavra também se deu como um ato de resistência frente às
instabilidades, desesperança e cansaço momentâneos. Sustentar um espaço de
compartilhamento, trocas teóricas e afetivas fez parte do exercício de minha
liberdade interior frente aos movimentos do coletivo.
Observo
uma grande resposta ao meu movimento através do nosso blog. Cumprimos mais um
ano de missão ao publicar semanalmente textos sobre a Arteterapia e temas
associados. Desta forma o blog Não Palavra se solidifica cada vez mais como um
espaço colaborativo, que só se sustenta a partir de nossa rede (cada vez maior,
de várias partes de Brasil) de coautores que generosamente compartilham suas
práticas e aprendizados. Neste ano foram quarenta e quatro textos das autoras:
Mercedes Duarte, Silvia Quaresma, Clarice Almeida, Isabel Pires, Claudia Abe,
Vera de Freitas, Tania Salete, Tania Freire, Andréa Goulart, Vera Lucia
Gavazza, Juliana Mello e Ana Paula Oliveira. Registro aqui minha mais profunda
gratidão! Sem vocês o ano de publicações neste blog não seria possível!
Por
meio deste texto o blog Não Palavra abre seu período de recesso e retomamos
nossas atividades no dia sete de fevereiro de 2022, contando com estes e novos
coautores que queiram integrar à nossa rede!
Fechando 2021, fiquei
contente pois finalmente consegui refazer contato com meus desejos e criei minha
mandala para 2022! Entretanto, por hora, desejo que possamos nos recolher, descansar,
nos reabastecer e nos alimentar para retornarmos para o próximo ciclo com uma
disponibilidade de alma para exercermos nossa liberdade interior e assumirmos
uma atitude alternativa ao coletivo, que seja fiel aos nossos valores e reais
desejos. Por diversos motivos, acredito que 2022 será um ano extremamente
desafiador em territórios brasileiros. Desta forma, expresso meu desejo aos
amigos do Não Palavra, através dos versos de Frejah:
“Desejo que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda exista amor pra recomeçar.”
Até 2022!
Referência teórica:
FRANKL, Viktor. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de
concentração. Editora Vozes, 47ª edição, Petrópolis-RJ, 2019.
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Sobre a autora: Eliana Moraes
Ainda na prática do "estrangeirismo", habitando nas "terras do sol eterno", deixo meu registro de gratidão ao Não Palavra e à voce, Eliana, que com tanta valentia e amor sustentou este espaço e tantos outros, em oportunidades de crescimento e esperança, através das palestras, cursos, grupo de estudos (queridas companheiras de quase 2 anos), do Grupo Quiron (minha melhor fonte de nutrição neste tempo de pandemia), pelos textos variados, profundos, ricos, com experiências diversificadas, mas que nos abasteceram e impulsionaram a seguir em frente, caminhando, um dia de cada vez, mesmo diante das perdas ( que em mim gerou o texto do Calder (https://nao-palavra.blogspot.com/2021/08/entre-os-mobiles-e-stabiles-de-calder.html), enfim, gratidão por tanto e por tudo! Que venha 2022 com todos os desafios que já prevemos, mas que corajosamente e unidas(os) enfrentaremos, porque a Arte continua nos apontando as saídas possíveis!
ResponderExcluirMais um ano terminado. Lendo seu texto, vou relembrando tudo o que passamos em 2021.
ResponderExcluirE o que eu posso dizer é que a vontade de escrever mais textos está gritando dentro de mim. Agradeço a grande oportunidade que me surgiu, para escrever textos no blog Não Palavra. No início achei que fosse “loucura”; precisei amadurecer a ideia e então me lançar para esta nova experiência.
Preciso confessar que adorei ver o meu nome citado aqui no seu texto!
E que em 2022 possamos cada vez mais nos inspirarmos e nos aprimorarmos.
É isso aí! Tamo junto!
Um forte abraço, Claudia Abe