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segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

AMOR PRA RECOMEÇAR

 


Por Eliana Moraes – MG

naopalavra@gmail.com

“Eu te desejo não parar tão cedo
Pois toda idade tem prazer e medo
E com os que erram feio e bastante
Que você consiga ser tolerante

Quando você ficar triste, que seja por um dia
E não o ano inteiro
E que você descubra que rir é bom
Mas que rir de tudo é desespero.”

 

2021 começou como um ano estranho, indiferenciado de 2020, ainda pairando no ar uma brisa de instabilidade e incerteza. Desde 2010 tenho o hábito de ao final de cada ano criar a minha “Mandala dos desejos” para o ano seguinte. Esta prática muito já me ajudou no reconhecimento, escuta, legitimação, até mesmo ressignificação e apropriação dos meus reais  desejos. E pela primeira vez em dez anos, não consegui constelar em imagem meus desejos para 2021, pois em um cenário tão nebuloso, não me era possível fazer contato com meus desejos mais profundos. 

O percurso de 2021 foi tomando forma de maneira intuitiva, a medida que fui caminhando. E me deparei com a oportunidade de fazer uma grande mudança em minha vida, talvez a maior de todas: a oportunidade de encerrar o ciclo de estrangeirismo e me reintegrar nas terras de minhas origens. Percebi que intuitivamente estava vivenciando aquilo que Viktor Frankl, criador da Logoterapia e autor do best seller “Em Busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração”, chamou de liberdade interior:

Onde fica a liberdade humana? Não haveria um mínimo de liberdade interior no comportamento, na atitude frente às condições ambientais ali encontradas?...

 

Haveria suficientes exemplos... que demonstram ser possível superar a apatia e reprimir a irritação; e continua existindo, portanto um resquício de liberdade do espírito humano, de atitude livre  do eu frente ao meio ambiente, mesmo nessa situação de coação aparentemente absoluta, tanto exterior como interior... se pode privar a pessoa de tudo, menos da liberdade última de assumir uma atitude alternativa frente às condições dadas... (FRANKL, 2019, 87-88) 

A liberdade interior foi algo que trabalhei com meus pacientes em 2021, pois diante de uma realidade tão dura e aparentemente absoluta, ao final do ano percebemos que cada sujeito escreveu seu ano a partir da sua capacidade de “assumir uma atitude alternativa frente às condições dadas”.

Neste contexto, sustentar o território do Não Palavra também se deu como um ato de resistência frente às instabilidades, desesperança e cansaço momentâneos. Sustentar um espaço de compartilhamento, trocas teóricas e afetivas fez parte do exercício de minha liberdade interior frente aos movimentos do coletivo.

Observo uma grande resposta ao meu movimento através do nosso blog. Cumprimos mais um ano de missão ao publicar semanalmente textos sobre a Arteterapia e temas associados. Desta forma o blog Não Palavra se solidifica cada vez mais como um espaço colaborativo, que só se sustenta a partir de nossa rede (cada vez maior, de várias partes de Brasil) de coautores que generosamente compartilham suas práticas e aprendizados. Neste ano foram quarenta e quatro textos das autoras: Mercedes Duarte, Silvia Quaresma, Clarice Almeida, Isabel Pires, Claudia Abe, Vera de Freitas, Tania Salete, Tania Freire, Andréa Goulart, Vera Lucia Gavazza, Juliana Mello e Ana Paula Oliveira. Registro aqui minha mais profunda gratidão! Sem vocês o ano de publicações neste blog não seria possível!

Por meio deste texto o blog Não Palavra abre seu período de recesso e retomamos nossas atividades no dia sete de fevereiro de 2022, contando com estes e novos coautores que queiram integrar à nossa rede! 

Fechando 2021, fiquei contente pois finalmente consegui refazer contato com meus desejos e criei minha mandala para 2022! Entretanto, por hora, desejo que possamos nos recolher, descansar, nos reabastecer e nos alimentar para retornarmos para o próximo ciclo com uma disponibilidade de alma para exercermos nossa liberdade interior e assumirmos uma atitude alternativa ao coletivo, que seja fiel aos nossos valores e reais desejos. Por diversos motivos, acredito que 2022 será um ano extremamente desafiador em territórios brasileiros. Desta forma, expresso meu desejo aos amigos do Não Palavra, através dos versos de Frejah:

“Desejo que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda exista amor pra recomeçar.”

Até 2022!

Referência teórica:

FRANKL, Viktor. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Editora Vozes, 47ª edição, Petrópolis-RJ, 2019.

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Sobre a autora: Eliana Moraes



Arteterapeuta e Psicóloga.


Pós graduada em História da Arte
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 
Dá aula em cursos de formação em Arteterapia em SP e MS. 
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia online, sediada em Belo Horizonte, MG. 

Autora dos livros "Pensando a Arteterapia" Vol 1 e 2

Organizadora do livro "Escritos em Arteterapia - Coletivo Não Palavra"

2 comentários:

  1. Ainda na prática do "estrangeirismo", habitando nas "terras do sol eterno", deixo meu registro de gratidão ao Não Palavra e à voce, Eliana, que com tanta valentia e amor sustentou este espaço e tantos outros, em oportunidades de crescimento e esperança, através das palestras, cursos, grupo de estudos (queridas companheiras de quase 2 anos), do Grupo Quiron (minha melhor fonte de nutrição neste tempo de pandemia), pelos textos variados, profundos, ricos, com experiências diversificadas, mas que nos abasteceram e impulsionaram a seguir em frente, caminhando, um dia de cada vez, mesmo diante das perdas ( que em mim gerou o texto do Calder (https://nao-palavra.blogspot.com/2021/08/entre-os-mobiles-e-stabiles-de-calder.html), enfim, gratidão por tanto e por tudo! Que venha 2022 com todos os desafios que já prevemos, mas que corajosamente e unidas(os) enfrentaremos, porque a Arte continua nos apontando as saídas possíveis!

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  2. Mais um ano terminado. Lendo seu texto, vou relembrando tudo o que passamos em 2021.
    E o que eu posso dizer é que a vontade de escrever mais textos está gritando dentro de mim. Agradeço a grande oportunidade que me surgiu, para escrever textos no blog Não Palavra. No início achei que fosse “loucura”; precisei amadurecer a ideia e então me lançar para esta nova experiência.
    Preciso confessar que adorei ver o meu nome citado aqui no seu texto!
    E que em 2022 possamos cada vez mais nos inspirarmos e nos aprimorarmos.
    É isso aí! Tamo junto!
    Um forte abraço, Claudia Abe

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