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domingo, 23 de agosto de 2020

SOBRE ATENDIMENTO ARTETERAPÊUTICO ONLINE DE GRUPOS


Por Vera de Freitas (RJ)
verafguimaraes@gmail.com

Partindo de que TUDO É NOVO, e depois de perceber algumas coisas importantes nesse novo modo de trabalhar, onde mudou o protocolo, mudou a maneira de estar com o outro ou com o grupo, mudou a dinâmica da proposta e a forma de fazer arte, venho contar um pouco do que já percebi de importante pra mostrar que realmente TUDO É NOVO. E precisamos nos adaptar para conseguir seguir com nosso trabalho, com disposição de orientar, de cuidar e acompanhar o processo de cada membro de um grupo.

Trabalho com grupos arteterapêuticos desde meu primeiro estágio de Formação em Arteterapia, e segui fazendo a Pós-Graduação e outro estágio, sempre adorando acompanhar os grupos. Com muito cuidado no acompanhamento de cada membro e atenta a identidade e necessidades do grupo. Enfim, foi o trabalho que segui fazendo desde então.

E de uma hora pra outra tudo mudou, como tudo no mundo e o mundo. Era março de 2020, por causa da pandemia do COVID 19, sem qualquer aviso prévio.

Eu que muito pouco conhecia da tecnologia e informática, das possibilidades, das facilidades da Internet, no primeiro momento entrei no pânico, mas imediatamente busquei alternativas e encarei o que foi necessário. Cursava outra Pós-Graduação do Envelhecimento Ativo - Subjetividade e Arte e as aulas passaram automaticamente para o ambiente virtual, tive que aprender tudo que não sabia e nem me interessava. Ainda tenho muito medo, muitas dificuldades, mas sei que algumas vezes precisamos olhar de frente, aprender, superar e se surpreender por ter conseguido. Sim, TUDO É NOVO, tudo é desafio e adaptação. É preciso ter coragem para experimentar.

Havia feito um estudo sobre mídias digitais possíveis para o idoso, definindo o aplicativo de WHATSAPP como o mais adequado, por ser mais fácil e acessível para comunicação e interação desse indivíduo que conhece pouco das redes sociais, como de todas as possibilidades da Internet, pelo fato de não ter vivido e usado esse imenso mundo de informações quando jovem.

Com a possibilidade de assistir aulas em plataformas diversas, e inúmeras lives, percebi ser possível encontrar virtualmente com grupos. E foi assim que chamei o meu mais novo grupo, iniciado na segunda quinzena de janeiro desse ano, com sete mulheres adultas. Passamos para o encontro virtual, e apenas algumas puderam ou quiseram experimentar essa nova forma de funcionar. Mas logo nos primeiros encontros algumas desistiram, pelo fato de ser virtual. Conversamos e resolvemos convidar novos participantes. E mais pessoas aderiram a idéia de experimentar, era novo para todo mundo. Assim, esse grupo segue com encontros semanais, muitas atividades, fortes relações, muitas manifestações e importantes descobertas e constatações de cada um. A cada encontro o grupo se conhece e se fortalece. E este grupo foi de fato criado no ambiente virtual.

Outro grupo de adultos que atendo há quase quatro anos, com encontros presenciais e semanais, também resolveu experimentar as plataformas digitais para seguir com nossos encontros e atividades com artes. Desse grupo nem todos migraram para o virtual e houve uma desistência depois de experimentar. O grupo também segue com reuniões semanais. Muito interesse e comprometimento, muitas atividades plásticas e muito apoio e solidariedade. Esse grupo é, como sempre foi, uma importante experiência.

Entendi que para uns, os encontros virtuais são difíceis, desagradáveis ou desinteressantes, enquanto para outros, exatamente por serem virtuais, passam a ser possíveis e bastante interessantes.

Para algumas pessoas que não conseguem participar desse atendimento virtual, por inúmeras e diferentes questões, envio regularmente atividades de artes, para estimular o movimento das mãos, o fazer, o criar, o colorir e pintar, o produzir arte. Partindo sempre da idéia de que se não for o ideal, é o melhor nesse momento.

Recentemente recebi mensagem de uma ex-paciente, e depois de longa conversa sobre suas necessidades e dificuldades combinamos tentar fazer arte para melhorar. Encaminhei um kit preparado especialmente pra ela, com materiais, propostas e idéias, que ela recebeu e em seguida parecia mais animada e se sentindo melhor. Essa era a proposta. Acertamos o caminho, a arte.

Outro ponto que deve ser cuidado, preservado e respeitado é o espaço terapêutico virtual, onde deve-se manter a privacidade, para ser um encontro eficiente. Tive experiências importantes sobre isso, e mais uma vez, vi a necessidade de ajuste e adaptação urgente. Nesse espaço de atendimento virtual o terapeuta não tem o controle total do ambiente, o que pode ser arriscado com a interferência de terceiros, prejudicando o desenvolvimento de qualquer proposta. Além, da exposição e conseqüente bloqueio do paciente, que deixará de se expressar, por mais que necessite, devemos considerar também, a reação natural de constrangimento dos demais participantes do grupo. E qualquer interferência afetará de uma maneira ou de outra toda a atividade do grupo. Por isso se faz necessário o compromisso de cuidado com o espaço terapêutico. Em alguns casos houve a necessidade de conversar individualmente para mostrar a importância do sigilo, do respeito e da privacidade. Também presenciei manifestações inversas e imediatas de participantes do grupo impedindo interferência de terceiros. E eu, mais uma vez aprendendo com os grupos.

Coisas acontecem o tempo todo, por ser novo, por estarmos ainda conhecendo ou para conhecer, por circunstâncias que não sabemos explicar, por ter muita gente envolvida e vários fatores que precisam se ajustar para funcionar, detalhes e mais detalhes... tentamos o tempo todo, ou o tempo novo. É sempre experimentar e adaptar.

Sobre as inúmeras e não perfeitas plataformas digitais, sobre a conexão de cada um à rede, sobre as dificuldades com nossos equipamentos ou mesmo com nossos conhecimentos sobre eles, enfim, todas as dificuldades tecnológicas e nossas limitações, fazem nesse momento, sermos todos corajosos, por experimentar, superar para seguir ou, para acompanhar. E vejo meus grupos tentando, experimentando, seguindo e crescendo com isso.

Finalizo dizendo que esse texto foi escrito a partir de observações e reflexões pessoais, baseados nas vivências dos grupos que se encontram semanalmente desde o início da pandemia, com inúmeros acontecimentos, reações e adaptações. Num método possível, adaptado também, para facilitar as experiências individuais, e a importância de estar no grupo, com outros. Isolados socialmente, por prevenção, mas não sentindo solidão.

Nesse período onde TUDO É NOVO, em grupos, podemos viver coisas novas, descobrir coisas importantes, experimentar e explorar novas possibilidades com outras pessoas. Aproveitando os estímulos e a oportunidade para descobrir nossos talentos e potenciais, não exatamente novos, mas não utilizados.

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Sobre a autora: Vera de Freitas


Advogada, Fomação e Pós Graduação em Arteterapia (POMAR)

Cursando Pós Graduação Envelhecimento Ativo (POMAR)

Administradora do Instituto VENHA CONOSCO - Tijuca, RJ

Professora de Iniciação Artística - Instituto ZECA PAGODINHO

Facilitadora de Grupo de Arteterapia  para adultos, atendimento individual e Grupo de Desenho Livre.

Ateliê  de PAPEL MACHÊ


4 comentários:

  1. Amei o texto de incentivo! Mesmo sendo suspeita em falar ❤️

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  2. Ótimo texto. Como tudo q vc faz. empatia é seu nome.

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  3. Parabéns. Ótimo texto, bastante esclarecedor. Sucesso

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  4. Que riqueza de conteúdo, reflexões, experiências tão genuínas e autênticas. Ainda estamos aprendendo, desbravando e nos adaptando as novas tecnologias e plataformas. E tudo novo sim e desafiador, mas seguimos, porque a Arte nos aponta o caminho. Obrigada, Vera por.nos presentear com este texto maravilhoso! Sucesso! Tania Salete- Fortaleza.

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