Por Vera de Freitas (RJ)
verafguimaraes@gmail.com
Partindo de que TUDO É NOVO, e depois de perceber algumas coisas
importantes nesse novo modo de trabalhar, onde mudou o protocolo, mudou a
maneira de estar com o outro ou com o grupo, mudou a dinâmica da proposta e a
forma de fazer arte, venho contar um pouco do que já percebi de importante pra mostrar
que realmente TUDO É NOVO. E precisamos nos adaptar para conseguir seguir com
nosso trabalho, com disposição de orientar, de cuidar e acompanhar o processo
de cada membro de um grupo.
Trabalho com grupos arteterapêuticos desde meu primeiro estágio de
Formação em Arteterapia, e segui fazendo a Pós-Graduação e outro estágio,
sempre adorando acompanhar os grupos. Com muito cuidado no acompanhamento de
cada membro e atenta a identidade e necessidades do grupo. Enfim, foi o
trabalho que segui fazendo desde então.
E de uma hora pra outra tudo mudou, como tudo no mundo e o mundo. Era
março de 2020, por causa da pandemia do COVID 19, sem qualquer aviso prévio.
Eu que muito pouco conhecia da tecnologia e informática, das
possibilidades, das facilidades da Internet, no primeiro momento entrei no
pânico, mas imediatamente busquei alternativas e encarei o que foi necessário.
Cursava outra Pós-Graduação do Envelhecimento Ativo - Subjetividade e Arte e as
aulas passaram automaticamente para o ambiente virtual, tive que aprender tudo
que não sabia e nem me interessava. Ainda tenho muito medo, muitas
dificuldades, mas sei que algumas vezes precisamos olhar de frente, aprender,
superar e se surpreender por ter conseguido. Sim, TUDO É NOVO, tudo é desafio e
adaptação. É preciso ter coragem para experimentar.
Havia feito um estudo sobre mídias digitais possíveis para o idoso,
definindo o aplicativo de WHATSAPP como o mais adequado, por ser mais fácil e
acessível para comunicação e interação desse indivíduo que conhece pouco das
redes sociais, como de todas as possibilidades da Internet, pelo fato de não
ter vivido e usado esse imenso mundo de informações quando jovem.
Com a possibilidade de assistir aulas em plataformas diversas, e
inúmeras lives, percebi ser possível
encontrar virtualmente com grupos. E foi assim que chamei o meu mais novo grupo,
iniciado na segunda quinzena de janeiro desse ano, com sete mulheres adultas.
Passamos para o encontro virtual, e apenas algumas puderam ou quiseram
experimentar essa nova forma de funcionar. Mas logo nos primeiros encontros
algumas desistiram, pelo fato de ser virtual. Conversamos e resolvemos convidar
novos participantes. E mais pessoas aderiram a idéia de experimentar, era novo
para todo mundo. Assim, esse grupo segue com encontros semanais, muitas
atividades, fortes relações, muitas manifestações e importantes descobertas e
constatações de cada um. A cada encontro o grupo se conhece e se fortalece. E
este grupo foi de fato criado no ambiente virtual.
Outro grupo de adultos que atendo há quase quatro anos, com encontros
presenciais e semanais, também resolveu experimentar as plataformas digitais
para seguir com nossos encontros e atividades com artes. Desse grupo nem todos
migraram para o virtual e houve uma desistência depois de experimentar. O grupo
também segue com reuniões semanais. Muito interesse e comprometimento, muitas
atividades plásticas e muito apoio e solidariedade. Esse grupo é, como sempre
foi, uma importante experiência.
Entendi que para uns, os encontros virtuais são difíceis, desagradáveis
ou desinteressantes, enquanto para outros, exatamente por serem virtuais,
passam a ser possíveis e bastante interessantes.
Para algumas pessoas que não conseguem participar desse atendimento
virtual, por inúmeras e diferentes questões, envio regularmente atividades de
artes, para estimular o movimento das mãos, o fazer, o criar, o colorir e
pintar, o produzir arte. Partindo sempre da idéia de que se não for o ideal, é
o melhor nesse momento.
Recentemente recebi mensagem de uma ex-paciente, e depois de longa
conversa sobre suas necessidades e dificuldades combinamos tentar fazer arte para
melhorar. Encaminhei um kit preparado especialmente pra ela, com materiais,
propostas e idéias, que ela recebeu e em seguida parecia mais animada e se sentindo
melhor. Essa era a proposta. Acertamos o caminho, a arte.
Outro ponto que deve ser cuidado, preservado e respeitado é o espaço
terapêutico virtual, onde deve-se manter a privacidade, para ser um encontro
eficiente. Tive experiências importantes sobre isso, e mais uma vez, vi a
necessidade de ajuste e adaptação urgente. Nesse espaço de atendimento virtual
o terapeuta não tem o controle total do ambiente, o que pode ser arriscado com
a interferência de terceiros, prejudicando o desenvolvimento de qualquer
proposta. Além, da exposição e conseqüente bloqueio do paciente, que deixará de
se expressar, por mais que necessite, devemos considerar também, a reação
natural de constrangimento dos demais participantes do grupo. E qualquer
interferência afetará de uma maneira ou de outra toda a atividade do grupo. Por
isso se faz necessário o compromisso de cuidado com o espaço terapêutico. Em
alguns casos houve a necessidade de conversar individualmente para mostrar a
importância do sigilo, do respeito e da privacidade. Também presenciei
manifestações inversas e imediatas de participantes do grupo impedindo
interferência de terceiros. E eu, mais uma vez aprendendo com os grupos.
Coisas acontecem o tempo todo, por ser novo, por estarmos ainda
conhecendo ou para conhecer, por circunstâncias que não sabemos explicar, por
ter muita gente envolvida e vários fatores que precisam se ajustar para
funcionar, detalhes e mais detalhes... tentamos o tempo todo, ou o tempo novo.
É sempre experimentar e adaptar.
Sobre as inúmeras e não perfeitas plataformas digitais, sobre a conexão
de cada um à rede, sobre as dificuldades com nossos equipamentos ou mesmo com
nossos conhecimentos sobre eles, enfim, todas as dificuldades tecnológicas e
nossas limitações, fazem nesse momento, sermos todos corajosos, por experimentar,
superar para seguir ou, para acompanhar. E vejo meus grupos tentando,
experimentando, seguindo e crescendo com isso.
Finalizo dizendo que esse texto foi escrito a partir de observações e
reflexões pessoais, baseados nas vivências dos grupos que se encontram
semanalmente desde o início da pandemia, com inúmeros acontecimentos, reações e
adaptações. Num método possível, adaptado também, para facilitar as
experiências individuais, e a importância de estar no grupo, com outros.
Isolados socialmente, por prevenção, mas não sentindo solidão.
Nesse período onde TUDO É NOVO, em grupos, podemos viver coisas novas,
descobrir coisas importantes, experimentar e explorar novas possibilidades com outras
pessoas. Aproveitando os estímulos e a oportunidade para descobrir nossos
talentos e potenciais, não exatamente novos, mas não utilizados.
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Sobre a autora: Vera de Freitas
Amei o texto de incentivo! Mesmo sendo suspeita em falar ❤️
ResponderExcluirÓtimo texto. Como tudo q vc faz. empatia é seu nome.
ResponderExcluirParabéns. Ótimo texto, bastante esclarecedor. Sucesso
ResponderExcluirQue riqueza de conteúdo, reflexões, experiências tão genuínas e autênticas. Ainda estamos aprendendo, desbravando e nos adaptando as novas tecnologias e plataformas. E tudo novo sim e desafiador, mas seguimos, porque a Arte nos aponta o caminho. Obrigada, Vera por.nos presentear com este texto maravilhoso! Sucesso! Tania Salete- Fortaleza.
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