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segunda-feira, 13 de abril de 2020

TEMPO DE CORONA VÍRUS, TEMPO DE SE REINVENTAR




Por Claudia Maria Orfei Abe - São Paulo/SP
leonardo.claudia@gmail.com


O mundo parou...

O mundo parou diante de um ser invisível...

O mundo parou, mas o meu mundo interno parece que acelerou...

Meu mundo interno, um chamado, uma vontade, um desejo... de ajudar...

Quarentena... significa ficarmos trancados em casa? Significa que estamos trabalhando mais do que o habitual, apenas com as tarefas domésticas? Significa período para revermos nossos conceitos? Significa usarmos novas estratégias para não enlouquecermos? O que isto significa afinal? Proteção? Esconderijo? Fuga? Aquietação? Meditação...

Tinha um texto prontinho para ser publicado aqui no blog, sobre mais um atendimento arteterapêutico com meu pai e minha tia materna, mas Degas (pintor francês que usamos como inspiração) terá que esperar. Não cabe aqui, neste momento.

E então comecei a repensar sobre muitas coisas. A primeira delas: “Como assim, vou ter que parar de ir à casa do meu pai? Ah, mas eu não quero parar de ir lá. Sem contar as sessões de arteterapia com eles, indescritíveis, divertidíssimas!”

Esse corona... Uma enxurrada de informações, pelo WhatsApp, pela televisão, que resultaram numa labirintite: isso mesmo, o mundo girando, minha cabeça girando, logo assim que eu acordava. E o lado bom disso? Uma irmã fonoaudióloga, me orientando, dando dicas para eu melhorar e... melhorei!

Estamos mudando todos os nossos comportamentos. Com a ajuda da minha outra irmã, faço ligações por vídeo no celular quando ela já retornou do seu trabalho, também farmacêutica, área da saúde, fazer o quê, né? Converso com meu pai, minha tia, com os cuidadores, que só me falam “FICA EM CASA!”.  Minha tia ri ao falar comigo no vídeo. Meu pai fala que vai morrer, dando risadas.... Estão lidando bem com a situação.

Rolou um estresse no grupo de família, quando postei que o meu marido, também farmacêutico, e em grupo de risco (pois completou 60 anos), continuava a trabalhar no centro da cidade, todos os dias, correndo o risco de se contaminar. Só o tempo me ajudou a compreender o sentimento dele, em continuar o seu serviço, essencial para a área da saúde.

Mas eu quero ajudar... você, o outro, os outros, o planeta...

Aos poucos vamos derrubando as barreiras, enfrentando nossas resistências e colocando tudo a nosso favor: os contatos no WhatsApp, por escrita, por vídeo; as vídeo conferências; as plataformas eletrônicas, o Zoom, o Google Hangouts...

Fui descobrindo que é possível fazer terapia por vídeo neste momento, oferecer experiências de arteterapia com o auxílio do celular, fazer cursos on line, participar de tudo quanto é roda de conversa, virtual, claro.

Estou aprendendo a cozinhar e até a fazer máscaras, o que está sendo uma alegria para minha irmã e minhas amigas costureiras mesmo que costurem apenas por hobby. Minha outra irmã (nossa, quantas irmãs!) me ensinou a fazer máscara só com dobradura de tecido e elástico.

A rotina mudou: tomar sol na sacada do apartamento, fazer exercícios físicos (isso ainda tá difícil), alimentação saudável, cozinhar, costurar máscaras de tecido. Para mim é uma alegria o dia que posso sair para ir ao mercado. Agora contemplo o céu azul e agradeço.
É preciso parar, respirar, priorizar, se preservar...

Eu escolhi ser farmacêutica e a vontade em ajudar se estende também agora como arteterapeuta.

Não tem como a gente não se emocionar com os amigos do grupo da Faculdade de Farmácia no Whatsaap. Uma amiga enviou um áudio onde ela contou a loucura do número de exames do corona vírus, aguardando análise no instituto, e ao mesmo tempo a sensação da escolha certa da profissão e sensação de dever cumprido. A foto por ela postada, toda paramentada foi emocionante. O relato de outras amigas que adiaram a aposentadoria quase que pressentindo este momento e o chamado para ajudar. Muitos na linha de frente, nos hospitais, nas farmácias. Ajudando de todas as formas, até mesmo um amigo oferecendo coaching gratuito para quem precisar. Sem contar os inúmeros amigos trabalhando no SUS!!!

Nessa guerra, até o momento, nenhuma baixa! Estão todos bem, familiares e amigos, no Brasil, na Itália, na Inglaterra, nos Estados Unidos... Ah, e os nossos amigos portugueses...
É, já dizia minha vizinha: “Tudo passa”, isto também vai passar. Sairemos mais fortalecidos, diferentes, conscientes, abertos.

Sorte e saúde para todos nós!

Nota: Todos que lerem esse texto, mesmo sem os seus nomes mencionados, saberão o quanto contribuíram para essa escrita. Portanto, deixo aqui o meu sincero “Muito Obrigada”!

Se você quiser ler meus textos anteriores:

Minha Origem: Itália e Japão CLIQUE AQUI
Salvador Dali e “As Minhas Gavetas Internas” CLIQUE AQUI
“’O olhar que não se perdeu’: diálogos arteterapêuticos entre pai e filha” CLIQUE AQUI


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Sobre a autora: Claudia Maria Orfei Abe





Arteterapeuta e Farmacêutica

Farmacêutica-Bioquímica graduada pela UNESP Araraquara-SP.
Especialista em Farmácia Homeopática pela USP-SP.
Especialista em Organização de Serviços em Dependência Química pela UNIFESP-SP.
Especialista em Gestão da Assistência Farmacêutica pela UFSC-Universidade Federal de Santa Catarina-SC
Especialista em Arteterapia e Criatividade pela Faculdade Vicentina-PR  
Focalizadora de Danças Circulares pela Prefeitura do Município de São Paulo-SP
Atuei em instituição com o projeto “Cuidando do Cuidador”, para familiares e acompanhantes dos atendidos.
Atuei em instituição de longa permanência para idosos com o projeto “Mandalas”, sua maioria com Doença de Alzheimer.
Atendo em domicílio.

17 comentários:

  1. Este texto produziu uma profunda reflexão em mim e creio que o fará também em muitas pessoas.
    O momento é atual e totalmente novo para todos nós. Caberá ao final um aprendizado e aquele comentário " O Moral da história é que..."
    Bem, onde iremos chegar parece preocupante e incerto, mas a única coisa que parece certa é a que cada um pode fazer a sua parte e se fazer melhor.
    Parabéns!
    Do seu admirador e marido.

    Leonardo

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  2. Simplesmente Emocionante... seu relato de Alma
    A imagem que eço na minha mente é a força,a honra e dignidade de um SAMURAI em uma Opera Italiana... com todas as suas dimensões artisticas.

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  3. Belo texto que remete a igualdade de situações, de experiências vividas nestes dias de isolamento. A mesma sensação, angustias, ansiedades e tantas outras semelhanças nós fazem perceber que não estamos sós neste isolamento.

    Todos vivem as mesmas sensações em locais e personagens diferentes. Bom que nos faz refletir sobre pontos que antes eram ignorados e esquecidos...

    Abraços
    Mauro Ota

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  4. Que lindo Claudia, vc conseguiu colocar um pouco de cada um de nós com esse texto. Estamos dessa maneira, alguns perdidos com tanta informação, informações de todos os lados e sim respiramos e vamos pois "tudo passa" . Obrigada pela linda homenagem, que Deus cuide de todos nós. Beijinhos.

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  5. Claudia que bom dividir suas experiências com olhar de aprendiz, o texto mostra a pessoa bacana que você é. Obrigada pela homenagem!

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  6. Fico sempre emocionada, quando leio o que escreve, Claudia! Tudo vem de encontro ao que eu penso e às minhas experiencias de vida. Aprendo sempre algo, com o que escreve. Deve continuar! Muito obrigada. Beijinho,de uma das suas amigas portuguesas, Ivone

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  7. Oi Claudia p mim parece que não tem rotina p vc, td é surpreendente e com td vc se encanta. Parabéns por esse seu olhar tão diferente dos outros !
    M. Teresa de Paula

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  8. CLaudia, gostei de ler um pouco da sua história. A direção de nossa caminhada é ao encontro da nossa própria relação com a vida. Parabéns por todos momentos especiais nestes encontros. Abraços!

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  9. Obrigada por compartilhar sua sabedoria ser de luz e amor, lindo texto inspirador, você ilumina com suas palavras o dia de todos!
    Bjs Kamile

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  10. Oi Cláudia bom dia. Parabéns pelo texto. Você conseguiu dizer tudo que estamos sentindo. Hoje é um dia a menos nessa guerra..... mas nós vamos respirar fundo....levar a cabeça.......e continuar.....sempre em frente. Afinal somos fortes. Somos de escorpião kkkkk. Beijo grande Terezinha

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  11. Eu gostaria de exprimir os meus sentimentos, mas a dificuldade é muita, olho lá para fora e vejo uma multidão de nada por entre os bandos de pardais. Começo a sentir falta de tudo que não é nada, mas que neste momento atravessamos passou a ter muito mais valor. Tenho saudades do cheiro a mar, tenho saudades do vento na cara, tenho saudades do cheiro dum dia quente depois de um aguaceiro, tenho saudades do cheiro a cinzento de um dia de nevoeiro, tenho saudades de muitas coisas mais, enfim, tenho saudades de não ter saudades de tudo isto. Parece que temos que escavar muito no tempo para encontrar as coisas boas que ainda “ontem” tínhamos com fartura; agora por muito que escavemos não encontramos nada. E realmente não há nada como um beijo num filho ou num neto, não há nada como um abraço apertado, não há nada como um cumprimento de mão a um amigo, não há nada que nos faça tão bem como andar, correr e saltar, enfim, não há nada. Olho pela janela,, vejo uma multidão de nada a acotovelar-se por entre os bandos de pardais e sinto saudades dos pequenos nadas
    Um abraço grande. Álvaro (Porto, Portugal)

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  12. Claudia, muito lindo seu texto.
    Vc soube retratar muito bem, seu olhar de farmacêutica, seu olhar de um ser humano, q de repente teve q aprender, retirar lá do fundo coisas q estavam esquecidas ou eram desnecessários. Aliado a tudo isso, tantas informações q nos deixam apreensivas, com medo, q momento é esse hein amiga ? A gente, respira fundo, calma, temos q ter paciência, até consigo mesmo. Mas tudo isso vai passar e sairemos fortalecidos e vc será abençoada pelo carinho e cuidado q tem dedicado aos seus entes queridos. Beijos no seu coração. Cecilia Massuyama

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  13. Que gostoso ler suas palavras minha querida amiga.Além de dizer muito do que gostaríamos,o seu jeito especial de escrever, conforta o nosso coração.Que bom que a vida não lhe tirou a sensibilidade,e que está cada vez mais produtiva. Estamos vivendo uma fase de muita reflexão,e com ela nos tornando mais sensíveis e mais humanos.Com certeza veremos muitos exemplos de amor ao próximo como temos visto no nosso grupo de farmacêuticos.Parabéns ao Leo pela coragem e dedicação.Exemplo de que não viemos ao mundo só a passeio. Abraços a todos vocês.

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  14. Lindo texto! Esse texto me conforta ao saber que não estou só nesta luta! Obrigada pela parceria! Me inspira a seguir em frente! Enfrente! Beijos Cibele

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  15. É sempre um aprendizado ler os textos da Cláudia!

    Sairemos melhores dessa crise!

    Sairemos globalizados em essência !

    E mais humildes!

    Quantas pessoas não lutaram bravamente contra o câncer e outras doenças e, de repente, foram pegas pelo vírus atual.

    É um momento de valorizarmos o dia de hoje, a alegria de hoje, o contato com as pessoas no momento presente!
    Efetivamente, só temos o HOJE para viver.

    Boa sorte a todos nós!

    E mais uma vez, muito obrigado , Cláudia!

    Abraços a você, seu pai e todos da família!!!

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  16. Parabens Claudia, boa reflexão, gostei, vc mostrou as dificuldades e mostrou tbem como sair dessa quarentena sem grandes traumas e sim fortalecidos se tomarmos atitudes sabias
    Maria do Carmo

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  17. Seu texto nos fortalece. Obrigada Cláudia. Essa é a hora de de nos aproximarmos pelo o que nos aproxima.

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