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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

SÉRIE CORES: A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA



Eliana Moraes (MG) RJ
Instagram @naopalavra

“... Há momentos
em que a cor nos modifica os sentimentos,
ora fazendo bem, ora fazendo mal;
em tons calmos ou violentos,
a cor é sempre comunicativa,
amortece, reaviva,
tal a sua expressão emocional...”

Gilka Machado em “Emotividade da cor”

Há algumas semanas iniciei uma série de textos ao qual compartilho alguns fragmentos do meu estudo sobre as cores e aplicações em minha prática arteterapêutica. No primeiro texto o teórico protagonista foi Kandinsky, ao qual defende que a cor exerce sobre a alma uma influência direta, provocando uma vibração psíquica. CLIQUE AQUI

Outra artista que alimenta minha pesquisa é Fayga Ostrower, que em seu livro “Universo da arte” discorre sobre os cinco elementos da linguagem visual:

“Há um dado deveras interessante! Se fôssemos perguntar de quantos vocábulos se constitui a linguagem visual, de quantos elementos expressivos, a resposta seria: de cinco. São cinco apenas: a linha, a superfície, o volume, a luz e a cor. Com tão poucos elementos, e nem sempre reunidos, formulam-se todas as obras de arte, na imensa variedade de técnicas e estilos.” (OSTROWER, 1983, pag 65)

Nesta perspectiva, tenho como projeto me aprofundar em cada um destes elementos, atualmente me debruçando sobre a cor. Conforme defende a autora “cada elemento visual configura o espaço de um modo diferente” (OSTROWER, 1983), sendo assim estrutural conhecermos as propriedades de cada um deles:

“Se compararmos, por exemplo, linhas com cores, sentimos de imediato, o clima expressivo diferente. Enquanto que a linha evoca toda uma ambiência intelectual, a cor é antes de tudo sensual.” (OSTROWER, 1983, pag 68) 

No capítulo X do livro, intitulado “Cor”, Fayga constrói um percurso pelas cores, defendendo que o tema da cor é “uma questão de relacionamentos e não de cores isoladas... O importante é entender que com poucas cores básicas – e sempre as mesmas – é possível estabelecer relações diferentes.” (OSTROWER, 1983) Aborda questões como tonalidades, cores primárias e secundárias, cores quentes e frias, cores opostas e complementares; que serviram como um embasamento para o percurso de experimentação das cores no ciclo “Cores e Poesias” que tenho oferecido em um grupo arteterapêutico. 
Sublinho aqui a importância da experiência com as cores, pois nas palavras da autora, seu conhecimento intelectual não é suficiente:
“A cor se caracteriza pela carga de sensualidade que lhe é inerente. Ao vê-la diante de nós... é que podemos dar-nos conta do quanto nosso conhecimento anterior, através das informações verbais, fora intelectual... Por maior que seja nossa experiência prática, uma coisa é imaginar cores e outra, completamente diferente, é percebê-las... Há uma excitação dos sentidos, que é própria da cor e que não existe em nenhum outro elemento visual.” (OSTROWER, 1983, pag 236)
“Poesias e Cores”: Aplicabilidades para a Arteterapia


“... Lançai olhares investigadores
para a mancha dos poentes:
há cores que são ecos de outras cores,
cores sem vibrações, cores esfalecentes,
melodias que o olhar somente escuta,
na quietude absoluta,
ao Sol se pôr...
Quem há que inda não tenha percebido
o subjetivo ruído
da harmonia da cor?
(...)
 — A Cor é o aroma em corpo e embriaga pelo olhar.
Cor é soluço, cor é gargalhada,
cor é lamento, é suspiro,
e grito de alma desesperada!
Muitas vezes a cor ao som prefiro
porque a minha emoção é igual à sua:
— parada, estatelada
dizendo tudo, sem que diga nada,
no prazer ou na dor.”
Gilka Machado em “Emotividade da Cor”

Conforme nos orienta Fayga, conhecer as cores não é suficiente. Precisamos ser atravessados por elas, e isso só se dá através da experiência. Nas palavras de Gilka Machado, devemos lançar à elas olhares investigadores, para que possamos perceber o subjetivo ruído de cada uma. 

No ciclo “Poesias e Cores” percorremos uma jornada que se iniciou com o preto e o branco, atravessamos o cinza, mergulhamos nas cores primárias, produzimos com as próprias mãos cada uma das secundárias, dialogamos as cores opostas complementares, e por fim, integramos todas as cores do círculo cromático mais o preto, branco e cinza em uma mandala. 

Todo este caminho foi importante para que proporcionasse um “demorar-se” em cada cor. Cada participante pôde experimentar um diálogo profundo com cada uma delas, percebendo suas vibrações e como cada uma o impactava de forma singular.  Creio que ao passar por esta jornada, aquele que experiencia a Arteterapia pode formar uma espécie de “vocabulário próprio”, ao qual utilizará em suas produções posteriores para criar em cores, não por combinações exteriores, mas pelo simbolismo interior. 


Quando experimentamos as cores primárias, uma referência no campo da arte foi o pintor Mondrian, que simplificou a imagem às últimas consequências, chegando ao seu característico padrão de inúmeras variações de relações entre os elementos cores primárias e linhas retas. As imagens que ilustram este texto retratam esta experiência ao qual partimos da inspiração do artista, mas cada participante pôde dar asas à sua criatividade a partir da vibração que as cores primárias os provocavam.

Esta série sobre as cores continua, mas por hora, concluo com a poesia:

Olhar a cor
é ouvi-la
,
numa expressão tranquila,
falar de todas as sensações
caladas, dos corações;
no entanto, a cor tem brados,
mas brados estrangulados,
mágoas contidas,
mudo querer,
ânsia, fervor, emotividade
de desconhec
idas
vidas,
que se ficaram na vontade,
que não conseguiram ser...


Cores são vagas, sugestivas toadas...

Cores são emoções paralisadas...”
Gilka Machado em “Emotividade da Cor”




Referências Bibliográficas:

 OSTROWER, FAYGA. Universo da Arte. 1983.
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Sobre a autora: Eliana Moraes


Arteterapeuta e Psicóloga. 
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte. 
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.

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