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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

GESTALT E ARTE: AJUSTAMENTO CRIATIVO


Por Valéria Diniz – RJ
valdiniz.td@gmail.com
Instagram @valeriadiniz50

Ajustamento Criativo - É o processo utilizado para alcançar uma autorregulação saudável.
“...todo contato é um ajustamento criativo. Ele não pode ser rotineiro, estereotipado ou simplesmente conservador porque tem de enfrentar o novo, uma vez que só este é nutritivo” (Perls, Heferline e Goodman).
Ajustamento Criativo é o método pelo qual a pessoa sobrevive e cresce, atuando de forma a se manter ativa e responsável, providenciando seu próprio desenvolvimento, suas necessidades físicas e psicossociais” (Orgler).
Em Gestalt Terapia, para além do sintoma ou doença, busca-se descobrir onde está a potência criativa. Ela é o lado saudável, presente em todos nós.
Quando criança somos absolutamente criativos e facilmente encontramos novas formas de agir e lidar com o meio. Um bebê quando aprende a engatinhar contorna obstáculos, passa por cima ou por baixo do que estiver em seu caminho. Rapidamente descobre que precisa descer um pequeno degrau com apoio das mãozinhas. Ele interage com o meio a seu favor. E, conforme se desenvolve e cresce cria nova formas de brincar, inventa novas estórias, se experimenta. Cai, rala o joelho, chora e volta a insistir. Escorrega, cria um galo, mais choro e volta a tentar. Recomeça, de novo, segura de outra forma, com novo apoio. 
Então podemos pensar, talvez um pouco melancólicos ou até meio desanimados:
Já fui assim. Cresci. Tudo mudou!”
Verdade. Sim é verdade! Mudamos, ficamos enrijecidos, engessados em repetições, pesados com os fracassos, ansiosos, medrosos, depressivos, tristes, adoecidos, conformados, presos na rotina que a dureza da vida nos apresenta.
Como nos ajustar criativamente ? 
A Arte nos aponta um caminho. A criatividade está dentro de nós. Talvez um pouco adormecida ou esquecida. Ou até mesmo escondida em um cantinho de difícil acesso.
Mas, sim. Está aqui dentro. Aí dentro e em todos nós.
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Em minha prática clínica e nas oficinas de Técnicas Expressivas, vejo essa criatividade emergir poderosamente, com toda sua potência. E, nesse texto, especificamente, escolhi compartilhar produções das oficinas.
Em uma das primeiras oficinas de Colagem que ofereci a proposta era cortar os papéis sem uso de tesoura, apenas com as mãos. Havia uma jovem com deficiência que a impedia de usar uma das mãos (se eu tivesse visto antes teria mudado a proposta). Percebendo que seria difícil para ela sugeri que quem sentisse necessidade poderia pedir ajuda.
 Ela não pediu. Construiu um cenário colorido de pequenas bolinhas amassadas.
Quando você falou que não tinha tesoura, que era para usar as mãos... pensei que ia ter dificuldade. Mas eu me adaptei e consegui fazer. Foi importante para mim, um novo desafio.” ( TH.LB )
Que bom não ter mudado a proposta. Ela teve a oportunidade de ajustar-se criativamente para realizar a atividade e seu modo de usar as mãos trouxe a possibilidade de fazer novas experiências e a descoberta de capacidades escondidas.
Ainda com a mesma proposta da oficina anterior, escolher o material e criar livremente usando as mãos. Dentre as participantes havia uma médica e, pela profissão, habituada com protocolos, regras e métodos.
“No primeiro momento fiquei pensando como iria cortar o papel para confeccionar desenhos. Para mim foi estranho não ter um objeto facilitador e ter que usar apenas minhas mãos. Eu amei o meu trabalho.” (NT)  .

Descobrir que podia ajustar-se criativamente e produzir sozinha trouxe nova percepção, inclusive, de poder ampliar sua área de trabalho.
Em outra oficina a proposta era partir de uma imagem que simbolizasse o momento da história pessoal e posteriormente fazer intervenções com novos materiais.
“Percebi que estou criando uma nova história de vida, cheia de possibilidades e tirando o foco do passado, mas não preciso deixar toda a minha história para trás. É importante ficar com algumas coisas” (D.R ). 

A capacidade de interferir e criar ou recriar sua própria história e fazer seus ajustes, deixar o que não faz mais sentido e ficar com o que é importante é um belo exemplo de ajustamento criativo.
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Como tenho aprendido, a possibilidade de ajustamento criativo é vivenciada através da Arte, na riqueza de suas técnicas e processos. 
Criar através da Arte para realizar na vida.
Organizar, priorizar, escolher, ajustar e tantas outras habilidades. No colar e nas situações de confusão, desordem, caos.
Diluir, fluir, flexibilizar, expandir, descobrir, preencher, e tantas outras atitudes. Com as tintas e com a auto estima, a consciência, o comportamento.
Modelar, dar a forma, criar um jeito, um novo jeito, tentar , errar e começar de novo e tantas outras alternativas .Com  argila, massa e na  própria história.
Volto à pergunta do começo do texto:
Como nos ajustar criativamente?
Tenho uma ligeira desconfiança de que a resposta está em resgatar a criança que vive dentro de nós. Lembra dela? Onde ela ficou? 
Vou revelar um segredo somente aqui para nós.
Pegue um papel, qualquer coisa que rabisque, pode ser lápis, tinta, canetinha, carvão ou simplesmente use as mãos e comece a cortar pedaços de papéis coloridos ou revistas. Respire e crie.
Então, surpreenda-se ao encontrar sua criança interior!
Permita-se ajustar-se criativamente. 

Gratidão às arteiras que autorizaram utilizar suas palavras e imagens para enriquecer esse texto.
Este é o segundo texto da série GESTALT E ARTE. Para ler o primeiro texto 
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.

A Equipe Não Palavra te aguarda!
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Sobre a autora: Valéria Diniz
Psicóloga 

Gestalt terapeuta

Mestra em Saúde Mental
Atendimento individual e casal .
Oficinas de Técnicas Expressivas em Gestalt 

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