Por Maria Cristina de Resende
crisilha@hotmail.com
No último texto divulgado neste blog, a respeito das observações da prática da Arteterapia na clínica, falei um pouco sobre o quanto a experimentação das técnicas e materiais na pode se tornar estímulo para a experimentação da vida e de vida. Hoje, dando continuidade a estas observações, trago o tema já mencionado por Eliana Moraes sobre o repetir, recordar e elaborar, conceito da psicanálise que fala sobre uma repetição criativa, produtiva onde o individuo repete e elabora suas questões diminuindo a amplitude entre consciente e inconsciente.
crisilha@hotmail.com
No último texto divulgado neste blog, a respeito das observações da prática da Arteterapia na clínica, falei um pouco sobre o quanto a experimentação das técnicas e materiais na pode se tornar estímulo para a experimentação da vida e de vida. Hoje, dando continuidade a estas observações, trago o tema já mencionado por Eliana Moraes sobre o repetir, recordar e elaborar, conceito da psicanálise que fala sobre uma repetição criativa, produtiva onde o individuo repete e elabora suas questões diminuindo a amplitude entre consciente e inconsciente.
E
quando esta fala se torna neuroticamente repetida?
Assim
podemos falar de um quadro difícil de conduzir na clínica que são os indivíduos
com estilos obsessivos de ver e estar no mundo. Se no texto anterior abordamos
um individuo tido como imaturo, mas que na verdade seu estilo puer o conduz a uma instigante
experimentação de mundo, o individuo obsessivo, regido por senex, teme esta experimentação e por isso permanece em seu
confortável círculo de experiências conhecidas. Estratégia ilusória de
manutenção do controle das variáveis, ou como tenho gostado de falar, das “acontecências” da vida.
Ao
longo dos atendimentos com um indivíduo com este estilo, poucos trabalhos foram
sendo produzidos por ele. Mas um, especificamente, foi revelador deste
movimento neuroticamente circular.
Em
algum ponto de seu processo terapêutico ele foi convidado a buscar livremente
materiais que o capturasse e pudessem expressar seu presente momento. Mas esta
livre experimentação pode se tornar um momento de angústia para aqueles que
temem qualquer movimento não planejado, sendo assim, materiais seguros e de
fácil controle se tornam bem atrativos. E assim foi neste caso, um suporte de
papel canson e lápis de cor preto. Mas a falta de condução o leva a não saber o
que fazer, e me pergunta: “O que é pra eu
fazer?”. A necessidade de alguma referência revela a dificuldade de entrar
em contato com o próprio desejo e manifestá-lo plenamente através de novas
experiências, que neste caso são os próprios materiais.
Respondo
então que ele poderia fazer o que quisesse e que talvez fosse interessante
fechar os olhos e sentir o movimento das mãos com o lápis sobre o papel. O
mínimo de interferência como gatilho para o processo. E assim aconteceu. Traços
não delimitados, soltos, livres, mas que retornam para um ponto em comum.
Depois
de um tempo, pouco tempo, ele abre os olhos e vê o que fez. Peço então que olhe
e sinta o que aquela imagem tem a dizer. “Medo, retorno ao mesmo lugar”.
O
que dizer de tais frases! Por um tempo esta obra foi ressoando em nossos
encontros. Porém seu impacto foi realmente sentido um ano após sua produção.
Depois
de rever alguns trabalhos realizados em seu processo, ele se depara com este e
percebe que suas queixas permanecem as mesmas, ainda que depois de um ano. Esta percepção nos coloca novamente em
contato com o tema repetir, recordar e elaborar, onde podemos ver que sua
repetição não o leva a uma elaboração do tema, mas sim a uma manutenção do status
quo que faz perdurar seus sintomas e suas queixas, pois assim o conduz por um
caminho conhecido e de fácil manipulação.
O
que a Arteterapia tem a oferecer em casos como este?
A
experiência de manipular diferentes materiais e texturas, de produzir
diferentes formas e dialogar com tais produções pode fazer com que indivíduos
obsessivos se permitam, a seu tempo, a abrir espaços para novas formas, novas
cores e nuances em sua vida. O ato criativo na clínica como um ensaio para
novos atos criativos na vida, suavizando cada vez mais os traços rígidos do senex que rege a vida de tais pessoas. Podemos
compreender este ato criativo, que aqui se aproxima do agir criativo, falado
por Eliana Moraes, como uma potencialização do aspecto puer desta sizígia puer-senex.
Este
par de forças inconscientes que estruturam, desestruturam e renovam nosso
estado de ser e estar no mundo nos conduz a vivenciar o vir a ser, confiando
nesse fluxo do devir despindo-nos da ilusória realidade de controle e de
permanência. Logo, a Arteterapia atua como força propulsora para o devir, estado tão
ameaçador para o estilo senex de ser.
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