Por Eliana Moraes
“Qualquer intenção do artista tem
que abrir caminho através das malhas de uma rede apertada; Toda obra de arte é
o resultado de uma tensão prolongada entre uma série de desejos e uma série de
resistências à sua execução.” Arnold Hauser em História Social da Literatura e
da Arte
Dando continuidade às questões
pensadas no grupo de estudos “A prática
da arteterapia” sobre o início do processo arteterapêutico individual (ver
texto anterior), a pergunta é: passada a primeira sessão, em que foi realizada uma
técnica de coleta de dados (em geral uma colagem com figuras de revistas) como
proceder na segunda, terceira, quarta sessão?
Primeiramente é necessário ter em
mente que apenas um trabalho de coleta de dados, assim como a primeira
entrevista na psicoterapia verbal, não é suficiente para que o terapeuta de
fato alcance as questões de seu paciente. Outros trabalhos de coleta de dados
ainda são muito pertinentes nesta fase inicial. A partir destes trabalhos o
terapeuta poderá formular hipóteses
que serão confirmadas ou não nos próximos trabalhos realizados pelo paciente.
As questões terapêuticas se presentificarão para o arteterapeuta a partir de
uma “colcha de retalhos”: retalhos
oferecidos pela fala e imagens produzidas pelo paciente que o terapeuta
costurará e usará como base para sua atuação.
A técnica da arteterapia é
específica por trabalhar com a imagem,
ou seja, a “expressão não verbal”, uma forma de comunicação muito legítima, em
que aspectos inconscientes são acessados e materializados, muitas vezes
burlando a racionalização e a resistência do paciente. Devido a isto, não é
raro de acontecer que no(s) primeiro(s) trabalhos de coleta de dados, o
paciente produza uma imagem que conte para o terapeuta boa parte do caminho a
ser percorrido ou conteúdos muito profundos, mas que ele esteja completamente inconsciente disto. O arteterapeuta deve estar
atento a este fenômeno aguçando sua escuta e seu olhar para o paciente.
Penso que devemos reconhecer a responsabilidade e a ética
que especificamente a técnica da arteterapia nos impõe neste momento. É o
paciente quem irá dizer aonde está seu
foco, escolher onde quer (pode) se aprofundar, aonde quer (pode) mergulhar a
cada momento, a cada etapa deste caminho. Ao terapeuta cabe buscar sempre estar
consciente de si, de suas ansiedades em sua atuação como profissional,
lembrando que o foco orientador não deve estar em si mas em seu paciente. Uma
boa estratégia é o arteterapeuta elaborar possíveis propostas ou técnicas que
sejam pertinentes ao que o paciente trouxe, e mantê-las como “cartas na manga”
que serão acionadas uma a uma a partir do que o próprio paciente apresentar
como gancho.
Esta é uma jornada que pertence a cada sujeito, e
cada um tem o seu tempo próprio. O terapeuta deve acompanhar este ritmo
respeitando os limites e as resistências naturais de seu paciente. Lembro de um
fragmento do final do texto “Repetir,
Recordar e Elaborar” de Freud que citei no texto “A resistência na arteterapia” neste blog. Nele Freud relata sobre
médicos principiantes na psicanálise que vinham pedir conselhos à ele sobre
como lidar com a resistência do paciente. Em suas palavras:
“O médico
nada mais tem a fazer senão esperar e deixar as coisas seguirem seu curso, que não pode ser evitado nem continuamente
apressado.”
“Esta
elaboração das resistências pode, na prática, revelar-se uma tarefa árdua para
o sujeito em análise e uma prova de paciência para o analista. Todavia,
trata-se do trabalho que efetua as maiores mudanças no paciente..."
ÓTIMO TEXTO!
ResponderExcluir