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segunda-feira, 9 de junho de 2014

SOBRE O INÍCIO DO PROCESSO ARTETERAPÊUTICO INDIVIDUAL (I)


Por Eliana Moraes

            Um arteterapeuta e um paciente (cliente). Primeira sessão. O que fazer? Como proceder? Que técnica utilizar? Como começar? Estas são questões surgidas no grupo de estudos “A prática da arteterapia” e estão sendo discutidas por nós. O arteterapeuta que chega com sua “bagagem” cheia de técnicas e propostas, como saber o que utilizar agora, no início do processo arteterapêutico individual?
            Sim, o trabalho individual se diferencia do que é realizado em aulas, vivências, workshops e grupos terapêuticos. Estes possuem uma proposta chamada semi-estruturada, ao qual o terapeuta apresenta um tema e/ou um disparador e os participantes se propõem a se pensar diante deste estímulo. É um trabalho mais diretivo, em que o arteterapeuta se presentifica mais no setting terapêutico.
            No processo individual o movimento é inverso. As questões e o ritmo devem ser dados pelo paciente. Ao terapeuta cabe ouvir (com tudo o que este termo contém), acolher, acompanhar e atuar com sua técnica e técnicas no passo a passo de seu paciente.
            Neste momento, não cabe qualquer proposta senão aquelas que tem como objetivo a coleta de dados. Uma excelente proposta para este início é a colagem com imagens de revista. Propostas como: “Escolha imagens que me contem um pouco sobre você.”, “Imagens que representam como você está chegando para este espaço.” Ou apenas “imagens que lhe chamem a atenção por algum motivo.”. Desta forma o paciente se apresentará e começará a falar de si e suas questões. Do que é dito em palavras e em imagens, o arteterapeuta receberá como “fios a serem puxados” no processo de seu paciente e são eles que orientarão o caminho à frente.
            De extrema importância é lembrar que este não é o momento de interpretações ou grandes devolutivas. Primeiramente porque o terapeuta não tem dados suficientes para tal em apenas uma sessão. Mas essencialmente porque o início de um processo terapêutico não é fácil para o paciente. Tomar esta decisão e estar ali já foi um grande trabalho. Além disto, o paciente ainda não conhece o terapeuta, não criou um vínculo, a transferência. Não pode se sentir invadido, desnudo. Antes disto, deve desenvolver uma confiança para que aceite a companhia do seu terapeuta no seu processo de auto-conhecimento.
            Isto me faz lembrar quando há algum tempo minha supervisora me disse: “o paciente chega para a terapia cheio de feridas e dores. Tem o desejo de tratá-las, por isto está ali. Mas elas doem, e por isso ele se defende com suas roupas, casaco, luvas, cachecol... Para tratá-las é necessário que se retirem todas estas proteções, mas quem deve retirá-las é o paciente a medida que se sente seguro e confiante para isto. Passo a passo, no seu tempo. Nunca passe a frente e arranque a roupa (as proteções) de seu paciente! Nunca o desnude! Caso contrário (o mínimo que pode acontecer) você o perderá.”

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