Por Flávia
Hargreaves
No último
sábado, dia 31 de maio de 2014, tive a oportunidade de participar do ciclo de
palestras Olhares, promovido pela Casa das Palmeiras (RJ), resgatando e
compartilhando lições e emoções vividas 5 anos antes no ateliê de pintura como
arteterapeuta recém formada, em clínica de apoio à saúde mental de linha
lacaniana, no Rio de Janeiro.
Olhares
Possíveis, título que dei à minha fala, trata da busca de novos olhares e
caminhos possíveis, no âmbito da expressão plástica dentro deste recorte de
apoio à saúde mental, utilizando como ferramentas o desenho e a pintura.
Minha
atuação neste espaço buscou (1) estimular a expressão individual e espontânea
em detrimento da produção de objetos utilitários de pouco valor expressivo; (2)
valorizar o sujeito e o material produzido no ateliê, “olhando”, organizando e
arquivando as imagens/obras; (3) estimular a autonomia com relação aos
processos inerentes ao ateliê, como o acesso aos materiais, sua utilização e
cuidados.
Descobri a
importância do afeto catalisador a partir do estudo de textos e documentários
de Nise da Silveira e na minha experiência de estar em contato com indivíduos
tão singulares, termo que adotei recentemente a partir de conversas com Martha
Pires, coordenadora de artes plásticas da Casa das Palmeiras.
Pois bem,
lidar com pessoas tão singulares nos levam inevitavelmente a lições singulares.
Afetam o nosso olhar, que precisa ser “limpo” para podermos voltá-lo para cada (série)
imagem e cada autor. Sim, autor, as imagens falam de alguém, de um modo
particular de estar no mundo, mundo este muitas vezes inacessível para o outro.
Mas as imagens são poderosas e profundas, e por isso capazes de traduzir, em
parte, este mistério que é o humano.
Entre as
lições aprendidas estão (1) o reconhecimento do desafio de estar diante de um
papel em branco, diante do vazio por vezes paralisante; (2) a importância do
processo de construção da imagem que se sobrepõe à análise da imagem final; (3)
como a imagem pode se manifestar na realidade concreta, se confundindo com a
mesma.
Hoje,
inicio uma nova jornada de aprendizado. Desta vez na Casa das Palmeiras, de
linha junguiana, como colaboradora no ateliê de desenho e pintura. Em meio a semelhanças e diferenças entre
minha experiência passada e o contato direto com o método de Nise da Silveira,
espero encontrar novos olhares e novos caminhos para trilhar.
Muito
obrigada a todos os que colaboraram e colaboram para este novo desafio.
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