“O que eu sinto eu não ajo.
O que ajo não penso.
O que penso não sinto.
Do que sei sou ignorante.
Do que sinto não ignoro.
Não me entendo e ajo como se entendesse.”
O que ajo não penso.
O que penso não sinto.
Do que sei sou ignorante.
Do que sinto não ignoro.
Não me entendo e ajo como se entendesse.”
Clarice Lispector
É
um fenômeno interessante (e não raro de acontecer) quando um paciente está
falando em palavras algo sobre si e está convencido disto, porém a imagem que
ele cria em uma sessão de arteterapia contradiz absolutamente aquilo que
“conta”. Se a boca diz que o sentimento é desânimo mas a imagem nitidamente diz
desespero. Se a boca diz pessimismo e depressão e a imagem diz os “coloridos do
carnaval”. Se a boca diz que se está em um bom momento de vida, mas só foram
escolhidas imagens de depreciação pessoal. Muitas situações de descompasso
entre a mensagem verbal e a mensagem “atuada” pelo paciente.
Ao se trabalhar com
imagens, cria-se um canal de expressão ao qual os conteúdos desprezados por
repressão ou resistência se presentificam e são convocados à um diálogo entre as partes.
É importantíssimo
ressaltar que é possível que, mesmo com este confronto “físico”, o paciente
ainda sim recuse-se a encarar os conteúdos, deixando-os permanecer inconscientes
e em uma atuação “irresponsável”. Se isto acontece, o terapeuta deve respeitar
este limite do paciente pois se ele não o reconhece, não é por acaso, e tem direito
a ter seu tempo próprio.
Porém, em muitos
momentos, o que se dá é um susto.
Quando o paciente percebe a discrepância entre o que ele está dizendo com a
boca e o que ele está dizendo com as mãos, ele se depara com suas incoerências,
sua não consciência e dá-se uma grande oportunidade para que ele se reconheça,
se pense e se fale realmente. Nas palavras de Maria Cristina Urrutigaray:
“...
pois fica um pouco mais difícil para alguém negar aquilo que acabou de fazer,
bem como de perceber o quanto se posiciona... As possibilidades de se perceber
nas suas dificuldades, dadas as imposições deferidas pelo próprio uso dos
materiais plásticos, confere ao usuário as noções de limitação, aceitação e
humildade diante de suas dificuldades, tonando-o mais humano, mais próximo de
si mesmo e dos demais.”. (URRUTIGARAY)
URRUTIGARAY, Maria Cristina. Arteterapia: a transformação pessoal pelas
imagens. Ed Wak. Rio de Janeiro, RJ.
2011.
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