Embora o Surrealismo tenha se originado como um
movimento literário, no campo das artes visuais ele foi um dos mais vorazes de
todos os movimentos modernos. Entretanto, houve até quem afirmasse que a
pintura surrealista não existia, como Pierre Naville, um dos primeiros editores
de La Révolucion Surréaliste.
A partir de 1925 Breton passa a escrever em resposta
à esta acusação uma série de artigos que acabaram por serem editados em um
livro chamado Le Surréalist Et La Peinture , citando
pintores como De Chirico, Max Ernst, Man Ray, Masson, Miró e Tanguy.
Breton em Gênese Artística e Perspectiva do Surrealismo:
“Insisto em que o
automatismo, tanto gráfico quanto verbal – sem prejuízo das profundas tensões
individuais que ele é capaz de manifestar e, em certa medida, resolver – é, o
único modo de expressão que satisfaz plenamente o olho ou o ouvido, ao realizar
a unidade rítmica (tão reconhecida no desenho ou no texto automático...)” *
Em seus textos, Breton não tenta definir a pintura surrealista,
mas aborda o tema de modo diferente, avaliando o relacionamento de cada pintor
com o surrealismo, evitando qualquer discussão sobre estética. Posicionou-se de
modo um tanto vago, “dizendo estar unicamente interessado numa tela na medida
em que é uma janela que olhava para algo; afirma também que o modelo do pintor
deve ser ‘puramente interior `”. *
Na realidade, diz-se que os pintores
surrealistas conseguiram obter uma maior independência do que os escritores do
movimento no que se refere à personalidade dominante de Breton, talvez até
porque a pintura não fosse o seu campo
de atuação. Pode-se dizer que os pintores puderam experimentar as idéias
surrealistas sem se subjugarem a elas.
O desenho automático do artista Masson (técnica frequentemente usada
em aulas de artes e em arteterapia, mas que muitas vezes não sabemos aonde está contextualizada na história da arte) é considerado um dos mais notáveis produtos do
surrealismo. A idéia consiste em: mover as mãos de forma que o lápis ou o pincel
mova-se rapidamente, sem uma idéia consciente de um tema, traçando uma teia de
linhas nervosas, mas firmes, das quais emergem imagens que são, por vezes,
aproveitadas e elaboradas, outras vezes deixadas como sugestões. Os mais bem
sucedidos desses desenhos possuem uma integridade que provém da elaboração
inconsciente de referências textuais e sensuais, tanto quanto visuais.
Na prática da arteterapia, esta
técnica é utilizada com excelentes resultados, pois naturalmente a imagem que o
paciente visualiza e ressalta dentre o emaranhado de linhas é um símbolo que
lhe pertence e está fatalmente atrelado às suas questões. Este símbolo se
constitui em um material que deve ser trabalhado dentro do processo
terapêutico.
* “Conceitos da Arte Moderna – com 123 ilustrações” org. Nikos
Stangos
Nenhum comentário:
Postar um comentário