Por Vera de Freitas - RJ
Em junho de 2024 visitei uma
exposição de colagem no Parque Lage, Nno Rio de Janeiro, e saí super inspirada.
Queria criar algo muito grande, como já havia sido orientada, e enfim era hora
de criar algo realmente de grandes dimensões, mas não tive coragem de iniciar. Era
uma proposta, uma ideia desafiadora, exigindo dedicação, trabalho e muita
criatividade.
Saí da exposição inspirada e desafiada.
Precisava pensar rapidamente e fazer, produzir, realizar, criar.
Grandiosamente.
Resolvi
trabalhar com papel Paraná, de 1m x 80cm. Seriam 3 placas desse tamanho. Ou
seja, 2,40m x 1m de altura. Pensei no vínculo, numa sequência, na junção de uma
placa na outra e na outra, para parecer uma única obra, a unidade, o todo.
Todas as
etapas foram deliciosas de pensar, de planejar e de fazer. Muitas não foram fáceis nem simples e algumas
desafiadoras. O tema, não tinha ideia. Fui criando e acreditando que alguma
hora eu o definiria. Fui produzindo com muita liberdade e por isso, brincando
com a criatividade, simplesmente fazendo.
Comecei
o processo fazendo essa união entre as 3 partes, depois coloquei cor nos
papéis, por indicação do meu arteterapeuta, e realmente ficou bem melhor.
Pintei flores que eu amo, mas depois de prontas não gostei. Ainda assim, deixei
e continuei, fazendo uma parte e outra, depois mais uma e assim fui indo,
simplesmente criando, fazendo, juntando, compondo. Ainda insatisfeita com as
flores, pensando em como refazer, achei uma alternativa, cobri de papéis, fiz
outras flores, recortei, colei e adorei. Resolvido. Satisfeita.
A partir
daí comecei a amar o trabalho. A cada movimento, cada imagem, símbolo ou
qualquer coisa eu o amava mais. Mas ainda não sabia o que ele me dizia, nem
aonde chegaria. Do mesmo jeito que simplesmente só criava, também simplesmente
o amava, e por tudo isso, estava super feliz. Foram dias e meses de criações,
transformações e composições. Até que agosto chegou, ele ainda não estava
pronto, guardei e fui viajar. Ainda não sabia como ele terminaria, não tinha
título, nem mensagem, nem história, nada. Faltava alguma coisa importante e eu
não tinha ideia do que era.
Deixei o
trabalho guardado e fui para Nova York, um lugar ao qual eu nada sabia ou
conhecia. Fiz uma viagem maravilhosa, completa, repleta de passeios, pontos
turísticos, muita arte e beleza, lugar de muita riqueza, luzes, cores,
novidades, intensidade, muita grandeza. Nova York é muito tudo. Muito mesmo. Eu
me surpreendi e me encantei. Foi muito melhor do que eu podia imaginar. Voltei
lotada de estímulos, de vontade, de energia e com vontade de todo tipo de arte.
Era muito tudo. Precisei escrever para
registrar, relembrar, para fixar e não esquecer, sobre muitas coisas vistas,
experimentadas e vividas. Produzi, com sacolas e embalagens que trouxe de lá,
um caderno para esses registros. Escrevi sem parar, precisava organizar e
também esvaziar. Escrevi muito.
Alguns
dias se passaram e ainda com a cabeça, o coração e a alma cheios de ideias e
vontades, lembrei do meu grande trabalho. E, para minha surpresa percebi que
tudo que havia visto e vivido, estava representado naquele trabalho, guardado
atrás da porta do quarto, aguardando o meu retorno. Mesmo sem estar finalizado,
ele já representava a minha viagem. Era Nova York com muito de tudo. Tudo se
encaixou. Das imensas flores que me encantaram no primeiro momento, de passeios
por lugares lindos, de tantas pessoas diferentes, pessoas com estilos próprios
de simples a exuberantes, dos mosaicos e todo tipo de arte nas diversas
estações do metrô, de arte em todo lugar, dos muitos tênis, sapatos e andanças
durante toda a viagem, e todo meu deslumbramento. Tudo muito. Maravilhoso,
grandioso, estimulante, inspirador e acima de tudo surpreendente. E agora, era
fácil finalizar com algumas coisas que eu trouxe exatamente para fazer arte.
Comecei
esse trabalho grande antes de conhecer o que ali representei. Antecipei, não
sei como aconteceu. “Só se que foi assim...” como diria Ariano Suassuna. Trabalhei
com a minha subjetividade, com a minha alma, com liberdade e criatividade, com
a minha intuição mais profunda.
Sincronicidade e transcendência são
conceitos da psicologia analítica de Jung, que estudo há anos e agora consegui
vivenciar e realizar. Quando revejo meu processo criativo percebo que fui além.
Ultrapassei meus limites conscientes para trabalhar, expressar, representar
coisas muito internas da minha alma, da minha psique. Foram inshigts
criativos e livres a partir da intuição, de uma percepção inconsciente. E foi
isso que aconteceu. Foi disso que esse trabalho grande nasceu. Muito além de
mim. Ultrapassei, transcendi, criei.
Nova
York fez isso comigo. É muito tudo.
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Sobre a autora: Vera de Freitas
Advogada, Fomação e Pós Graduação em Arteterapia e Envelhecimento Ativo, Subjetividade e Arte(POMAR).
Administradora do Instituto VENHA CONOSCO - Tijuca, RJ
Professora de Iniciação Artística - Instituto ZECA PAGODINHO
Professora de Ateliê Terapêutico/Curso de Formação - POMAR
Diretora Administrativa da AARJ
Facilitadora de Grupo de Arteterapia para adultos e Grupo de Desenho Livre.
Ateliê de PAPEL MACHÊ e Diário Criativo.
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