“Mulher no Banho” - Edgar Degas
Por Claudia Maria Orfei Abe -
São Paulo/SP
Instagram: @claudia_abe_
“Edgar Degas, primeiro vamos
aprender a falar o nome deste pintor francês... se escreve Degas, mas se
pronuncia ‘Dêgáh’...” e foi assim que iniciei a sessão arteterapêutica de
número 55 em 19/09/2019, com meu pai (aos seus 85 anos) e minha tia materna
(aos seus 92 anos), durante o processo de estimulação cognitiva em atendimento domiciliar.
Utilizei um material
riquíssimo nesta sessão, não só pelas gravuras em tamanho grande, reproduções fiéis das obras de Degas, mas
também pelo conteúdo escrito que o acompanhava, bastante informativo e de
agradável leitura. Obviamente que eu fiz um apanhado dessas informações para
poder transmitir aos meus atendidos durante a sessão, de modo a não ficar
cansativo.
A sessão iniciou com as
informações sobre Degas, sua vida, suas obras, sua personalidade e
curiosidades. Em seguida mostrei uma obra por vez, e fomos conversando sobre a
pintura, o tema, o que significava para eles, os detalhes que eles observaram.
Terminei complementando com as informações contidas no material impresso.
A primeira obra escolhida foi Mulher no Banho, na qual aparece uma
mulher nua, de frente, ajoelhada sobre uma bacia num quarto, a se secar.
Escolhi esta obra logo de cara para chocar. Só que não chocou ninguém! Fomos
conversando com a maior naturalidade, perguntei o que eles achavam da obra, o
que significava cada parte, o que eles imaginavam que estaria ocorrendo na
cena, qual seria o local da casa, e depois fui utilizando as informações sobre
a obra para complementar.
Assim o fiz com cada uma das
quatro obras ali apresentada: Mulher no Banho, No Café (Absinto), A Estrela,
Cena de Balé.
Na segunda obra, No Café (Absinto), conversamos sobre a
expressão da moça sentada à mesa, no bar; a bebida de tom esverdeado, absinto,
conhecida como a ruína das mães; o senhor sentado ao lado dela, inspirado num
amigo de Degas.
“No Café (Absinto)” - Edgar Degas
Passamos então para as duas
obras finais, A Estrela e Cena de Balé,
cujos temas são as bailarinas, que viraram a referência de Degas. Falamos sobre
a relação de Degas com a fotografia, o movimento, as bailarinas. O uso do giz
pastel e a técnica de pintura, quando Degas passou a apresentar um problema de
visão.
“A Estrela” - Edgar Degas
“Cena
de Balé” - Edgar Degas
Terminamos falando sobre a
relação de Degas com as mulheres, as quais ele detestava pela tagarelice e seus
odores... E por ironia, eram as mulheres que ele retratava em suas obras.
Edgar
Degas não gostava de pintar paisagens, mas tinha interesse pelo mundo
presente...Para o artista, como a fotografia, a pintura devia ver e tornar
visíveis coisas que o olho não vê. (MORAES, 2019, p. 160)
Os dois prestaram muita
atenção e percebi que eles estavam realmente envolvidos e interessados.
Conseguiram comentar cada obra apresentada.
Partimos então para a produção
plástica, com o tema “Mulher”, que Degas representou tão bem em suas obras.
Para não ser muito assustadora
a folha em branco, apresentei o papel Canson com a silhueta de uma
mulher desenhada a lápis. Neste trabalho utilizaram giz pastel oleoso.
Não é
raro quando entregamos um papel em branco para um paciente iniciar um trabalho,
ele relatar sentir angústia. Em muitos momentos o papel em branco é intimidador,
e para cada paciente isso é vivenciado de forma muito pessoal. Já ouvi muitas
associações relatadas por pacientes, mas percebo que na maioria dos casos o
sentimento resume-se ao medo. (MORAES, 2018, p. 34)
Tia iniciou a sua pintura
escolhendo o giz rosa claro para pintar os braços no desenho. Pai fez como se
fosse usar o giz preto, pegou-o na mão, observou, depois resolveu trocar pela
cor laranja; pegou de novo o preto, mas usou o de cor verde.
Então pediu um lápis e eu acabei
fornecendo uma caneta hidrográfica preta porque ele queria realçar o contorno
do desenho. Continuou pintando o vestido de verde e o cabelo de laranja no
desenho de mulher, e quando vi essa combinação de cores laranja e verde,
comecei a me lembrar do significado das cores, de um vídeo que assisti
relacionado à Arteterapia.
As
cores possuem fortes propriedades expressivas e estão relacionadas aos estados
emocionais que se encontram nos receptores. (URRUTIGARAY, 2011, p. 132)
Tia:
“Jovem pronta para ir ao baile no tempo do Luís XV”
Pai:
“Bela Dona”
A cor
tem uma linguagem própria que fala diretamente às nossas emoções, portanto a
cor é um dos fatores mais importantes de nossa vida, podendo alternar estados
afetivos e nos influenciar em decisões, gostos, esperanças e desejos.
(URRUTIGARAY, 2011, p. 140)
Cinco meses após esta sessão,
ao rever o trabalho de meu pai junto a ele, percebi que a mulher desenhada
possui cabelo curto preto e não longo alaranjado!
Nota 1: Aproveito
para agradecer a amiga Silvia Rocha, também arteterapeuta, que gentilmente me
emprestou esse material maravilhoso das obras de Degas.
Nota 2:
Aguarde o próximo texto – As Bailarinas de Degas.
Nota 3:
Acesse algumas das obras de Degas pelos sites:
https://pt.wikipedia.org/wiki/L%27Absinthe
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Ballet_Class_(Degas,_Mus%C3%A9e_d'Orsay)
Bibliografia:
MORAES, Eliana. Pensando a
Arteterapia. 1.ed. Divino de São Lourenço, ES: Semente Editorial, 2018.
MORAES, Eliana. Pensando a
Arteterapia: volume 2. 1.ed. Divino de São Lourenço, ES: Semente Editorial,
2019.
URRUTIGARAY, Maria
Cristina. Arteterapia: a
transformação pessoal pelas imagens. 5.ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.
Material gráfico consultado: Pinacoteca
Caras – Edgar Degas. Editora Caras S.A. Impresso em setembro 1998.
Se você quiser ler meus textos
anteriores neste blog, são eles:
Ah, o Tempo... – 14/02/22
As Cores em Marilyn Monroe –
13/12/21
Um Desafio – 11/10/21
O Branco no Branco – 23/08/21
Tudo Começa em Pizza –
28/06/21
Um Material Inusitado – O
Carimbo de Placenta – 10/05/21
As Vistas do Monte Fuji –
22/03/21
É Pitanga! – 07/12/20
O que é que a Baiana tem? –
26/10/20
Escrita prá lá de criativa –
27/09/20
Fazer o Máximo com o Mínimo –
01/06/20
Tempo de Corona Vírus, Tempo
de se Reinventar – 13/04/20
Minha Origem: Itália e Japão –
17/02/20
Salvador Dalí e “As Minhas
Gavetas Internas” – 11/11/19
“’O olhar que não se perdeu’:
diálogos arteterapêuticos entre pai e filha” – 19/08/19
Sobre a autora: Claudia Maria
Orfei Abe
Arteterapeuta e
Farmacêutica-Bioquímica
Atuei em instituição com o
projeto “Cuidando do Cuidador”, para familiares e acompanhantes dos atendidos.
Atuei também em instituição de longa permanência para idosos com o projeto
“Mandalas”, sua maioria com Doença de Alzheimer.
Voluntária com o projeto
online “Cuidando do Cuidador”, para cuidadores familiares de pessoas com a
Doença de Alzheimer, no grupo GAIAlzheimer, São Paulo.
Idealizadora do projeto
“Simplesmente Eu” com atendimento grupal online, para pessoas que não conhecem
a arteterapia.
Autora do texto “Salvador Dalí
e as minhas gavetas internas”, publicado no livro Escritos em Arteterapia:
Coletivo Não Palavra – organizado por Eliana Moraes, 2020, Semente Editorial.
Participante da Live “Cuidados
na Doença de Alzheimer” do Instituto Alzheimer Brasil – IAB – com o tema
“Arteterapia”, disponível no canal do IAB no Youtube, 2021.
Palestrante especialista do
tema Arteterapia na disciplina "Cuidado integral ao longo do ciclo da vida
à luz das Práticas Integrativas" – Escola de Artes, Ciências e Humanidades
da Universidade de São Paulo – EACH – USP, 2021.
Atendo em domicílio e online,
individual e grupal.
Precioso relato! Mostra como, em Arteterapia, cada detalhe é importante e repleto de significados!
ResponderExcluirSempre que faço a leitura dos seus textos fico admirada e imaginando o cenário como é montado e a imaginação que você tem para inovar a cada encontro.Experiência única e muito rica. Parabéns!!!!
ResponderExcluirCláudia, quanta riqueza! Texto coloquial mas repleto de conteúdos, de conhecimentos! Maravilha!
ResponderExcluirUau!!! 😍 Que aula, experiência, vivência ,muito significativo. Como estão tendo uma oportunidade maravilhosa de ter os sentidos, memória expressados. Grata por partilhar. Avante.
ResponderExcluirClaudia,mais uma verbos brindando com um texto leve e convidativo ! Gosto muito das pinturas de Degas e temas das bailarinas! Parabéns! Aguardando próximos capítulos! Tânia Moreira - @caminhartes arteterapia
ResponderExcluirAdmiro o seu trabalho e adoro ler os relatos das atividades com o seu pai e a sua tia. São sempre muito leves e divertidos e obrigada por trazer a arte de Degas mais próxima de nós!
ResponderExcluirOlá
ResponderExcluirVocê consegue me colocar na cena!!!!
Que maravilha!!!
Parabéns!!!
Sabe...tenho uma curiosidade...
Como seria o pai e a tia desenvolvendo um trabalho juntos...numa mesma folha...
Beijos,
Érica
Novamente vc nos remete a um universo de poesia, leveza. Parabéns pelo trabalho! Assim aproveitamos tb todo esse conteúdo que vc apresenta de forma simples e impecável!
ResponderExcluirM. Teresa de Paula
Réu confesso...não sabia falar o nome deste artista. Que espetáculo fantástico esta sua sessão e como cada uma delas é rica. Agradeça a eles por nos "aprontarem" para o baile. E traga a próxima experiência...aqui a curiosidade foi desperta. Parabéns Cláudia!!!
ResponderExcluirObrigada Claudia,por compartilhar.
ResponderExcluirLindo trabalho.
Claudia, a cada encontro com seus entes queridos um aprendizado e respostas surpreendentes. Ficamos imaginando, uma reação, no entanto acontece o que nunca esperamos como essa da primeira obra de arte.
ResponderExcluirCom seu talento e habilidade, você consegue sempre nos levar e envolver na leitura desses textos admiráveis e deliciosos. Parabéns amiga !!
Cecilia Massuyama
Bom dia gostaria do contato para conversar por telefone, com o intuito de receber a princípio, atendimento domiciliar. Meu telefone 11-995491702. Obrigada
ResponderExcluirCaríssima Claudia
ResponderExcluirEu que agradeço muito nossas trocas e aprendizados.
Mais uma vez, surpreendente. E seus assistidos nem são artistas, mas as pinturas ficaram obra de arte. Dois queridos! Se empenham na tarefa e nos surpreendem. E mais ensinamentos para nós, o que nos deixam mais enriquecidos. Parabéns pelo trabalho, Cláudia.
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