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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E ARTETERAPIA: RESSIGNIFICANDO OS SABOTADORES ATRAVÉS DOS MANDALAS

Por Juliana Mello – RJ
entrelinhas.artepsi@gmail.com

A terapia Cognitivo-Comportamental – TCC - enfatiza a ideia de que o modo como pensamos afeta nossas emoções e comportamentos. Pensamento, emoção e comportamento estão diretamente ligados, quando um não “funciona” bem, os outros também ficam disfuncionais. Nossas interpretações – pensamentos - sobre as situações têm forte influência na forma como percebemos a nós mesmos, o outro e nosso futuro.

Porém, em muitos casos, é difícil identificar o que estamos pensando ou sentindo. As palavras podem nos faltar, ou não parecerem suficientes para descrever o que nos incomoda, o que nos gera angústia. A Arteterapia nos ajuda a trazer à tona esses pensamentos e sentimentos, de forma lúdica e natural, os conteúdos que não estão conscientes. Nesta metodologia, o paciente pode experimentar-se, facilitando o desenvolvimento e as transformações internas.

Neste caso, trabalhamos a reestruturação do nosso comportamento, e assim, teremos como consequência a flexibilização dos pensamentos e emoções mais agradáveis. A ideia não é mudar o pensamento e deixar de sentir emoções desagradáveis, mas pensarmos em possibilidades funcionais, não excluindo a realidade, mesmo que esta seja desconfortável.

Os sabotadores são nossas reações disfuncionais, que foram desenvolvidos na infância. Porém, nesta fase da vida, nosso cérebro ainda se encontra em sua estrutura mais primitiva e os sabotadores eram necessários para nossa sobrevivência emocional. Ao nos desenvolvermos, eles vão deixando de ser necessários, mas com o “uso” durante muito tempo, eles passam a ser hábitos automáticos no nosso funcionamento e percepção do mundo. Quando eles não são atendidos, é acionado o Crítico Patológico, uma vozinha que fica em nossos pensamentos nos lembrando sempre de coisas desagradáveis e disfuncionais. Esses comportamentos estão quase ou totalmente fora do domínio da Consciência. Para combater o Crítico, precisamos acionar o Sábio, que tem uma estrutura mais criativa e percebe nas situações possibilidades diferentes de resoluções, enquanto o Crítico tem visão focal somente para o negativo. Todos nós possuímos o Crítico Patológico, que vem reforçado por, pelo menos, um ou dois sabotadores (existem 9).

Em meu trabalho clínico, o trabalho com Mandalas tem-se mostrado eficaz no desenvolvimento do Sábio, através das escolhas das formas, das cores, na produção e desenvolvimento de suas próprias Mandalas. Além de trabalharmos esse comportamento, o trabalho com Mandalas trazem à tona, isto é, a Consciência, pensamentos e situações que estão “esquecidas” pelo paciente e que geram sofrimento.

Caso Clínico

Paciente J, 32 anos, casada, trabalha na área de saúde, chegou ao meu consultório em março/18, com queixa de desorganização de suas tarefas diárias e com questões de emagrecimento e falta de continuidade em dietas e tempo para praticar atividades físicas. Não parecia sentir-se confortável para o diálogo, e seu discurso não parecia condizer com a queixa inicial, porém a mesma não faltava a nenhuma sessão. Após aplicar o teste dos sabotadores, o resultado passou a fazer sentido para a paciente e como, estávamos trabalhando comportamento, começamos com o uso dos Mandalas. Seus sabotadores foram: Insistente, Prestativo, Hipervigilante e Controlador. Lembrando que os sabotadores são rígidos e com visão focal. 




Iniciei o processo entregando possibilidades de Mandalas para uma ser escolhida. Nesta etapa já trabalhamos a ampliação da visão, a escolha da melhor possibilidade, o olhar para o interno, a descrição de si através das cores, os sentimentos, o fazer criativo. Neste primeiro momento foi possível perceber a diferença dentro do setting do comportamento da paciente, que pareceu mais confortável no ambiente e mais comunicativa.  

Posteriormente, o Mandala é feito no papel vegetal, acrescentando ou eliminando elementos do Mandala inicial e a realização de sua própria Mandala. 


         

Nas etapas seguintes são acrescentados Mandalas à serem coloridas com lápis de cor aquarelável, que foram trabalhados sentimentos como: frustração e perfeccionismo (muito forte) e ansiedade. 

Em muitas sessões, a paciente expressava que não tinha nada a ser falado, ao fazer as atividades, aconteciam insights e a mesma falava sobre acontecimentos agradáveis e, principalmente, desagradáveis, sendo possível realizar a reestruturação cognitiva dos mesmos. 





As próximas etapas poderão ser realizadas com pintura e colagem, porém a sequência é flexível, acontecendo de acordo com a demanda apresentada.

Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.

A Equipe Não Palavra te aguarda!



Bibliografia:


ROSNER, S.; HERMES, P. O ciclo da autossabotagem: por que repetimos atitudes que destroem nossos relacionamentos e nos fazem sofrer. 16ª ed. Rio de Janeiro: BestSeller, 2018.

Workshop “O uso das mandalas na prática da arteterapia” – Eliana Moraes 
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Sobre a autora: Juliana Mello


Juliana Mello
Psicóloga, Arteterapeuta e Coach
Atendimento clínico  individual e grupo om criança, adolescente, adulto e idoso.
Abordagem em Terapia Cognitivo- Comportamental e Arteterapia
Palestras e Workshop motivacionais.

9 comentários:

  1. Excelente texto! Esclareceu muito sobre o tema. O método parece resultar na melhora geral do paciente. Parabéns.

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  2. Texto esclarecedor, de simples compreensão. E a terapeuta... sem palavras. Sou muito grata a ela.

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  3. Adorei o texto e todo o conteúdo apresentado. Academicamente não conheço a base do TCC e sou da área de exatas, mas a forma com que tudo foi exposto me fez viajar e curtir o tema.
    Fiquei impressionado com o potencial do trabalho com as mandalas.
    PARABÉNS Juliana!!! !!!

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  4. Há verdades que a gente intui, mas não expressa com clareza em raciocínio e palavras. Muito esclarecedor seu texto, Juliana: esse crítico patológico!... No momento atual em que vivemos é muito instigante reparar em pessoas que estão sendo absolutamente tragadas pela falta de esperança. E outras, entre as quais me incluo, que mantém viva a chama da Alegria de viver (com o apoio fundamental da minha terapeuta Eliana Moraes), apesar dos tempos sombrios. Afinal, a luz só atravessa pelas brechas, amenizando a escuridão. Crítica e Sabedoria, duas grandes questões. Essenciais. Obrigada pela contribuição. Continuemos Corajosos!

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  5. Excelente texto! Li com gosto! É visível e explicitamente notório esse comportamento em algumas pessoas, mas o embasamento através do texto realmente dá um outro significado na parte da percepção do próprio indivíduo. Parabéns pelo texto!

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  6. Excelente texto!!! Esclarecedor e de fácil compreensão, nos permitindo ler com vontade. Não se podia esperar nada diferente desta excelente profissional. A Juliana vem me ajudando MUITO nas terapias. Parabéns!!!

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  7. Muito esclarecedo, parabéns!
    Você tem me ajudado demais. Sou grata a você. 👏👏👏

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