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segunda-feira, 20 de março de 2017

SÉRIE ARTETERAPIA COM IDOSOS: Sobre a perspectiva da prevenção

Por Eliana Moraes


No dia 11 de janeiro deste ano recebemos com alegria a notícia de que a Arteterapia, dentre outras práticas terapêuticas, passou a integrar os procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS) pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC) através da Portaria n. 145/2017. Esta resolução se mostra bastante relevante pois amplia a visibilidade e a discussão entre profissionais, gestores e cidadãos, sobre a importância da expansão do investimento em práticas terapêuticas na área da saúde.

A partir da minha prática por 5 anos em uma instituição hospitalar em que mantinha um núcleo de acompanhamento do envelhecimento dos assegurados do plano de saúde do hospital, pude ouvir e aprender um pouco sobre a necessidade de se assumir a perspectiva da promoção e prevenção em saúde. No entanto, sendo na esfera privada ou pública, a questão do cuidado com a saúde do idoso tem se tornado uma questão bastante atual e amplamente discutida.

Vejo que a prática da Arteterapia com o público idoso tem avançado e penso que este é um excelente e promissor campo de trabalho ao qual podemos nos apropriar e desenvolver um trabalho consistente, seja em atendimentos individuais em consultório ou a domicilio ou até integrar uma equipe multidisciplinar em instituições públicas e privadas. Para tanto é necessário que nós arteterapeutas busquemos instrumentalização para dialogar com os demais profissionais, gestores e pacientes e para desempenharmos um bom trabalho.

Hoje inicio uma série de três textos que compartilho fragmentos do meu trabalho de conclusão do curso de especialização em “Gerontologia e Saúde do Idoso” ao qual defendo que  a Arteterapia apresenta-se como um procedimento terapêutico com amplo alcance e bastante potente, pois através de sua grande riqueza de materiais e técnicas, trabalha simultaneamente duas frentes bastante pertinentes no cuidado com o idoso: o psíquico e o cognitivo.

De fato, a Arteterapia por definição trabalha as questões psíquicas pertinentes ao paciente, promovendo autoconhecimento, expressão, criatividade, sensação de visibilidade, resiliência, a ressignificação de experiências, pensamentos e sentimentos, etc. Simultaneamente, a cada proposta promove a estimulação das mais variadas funções cognitivas como linguagem, atenção,  concentração, memória, percepção, abstração,  funções executivas, praxia, etc. Assim, sua proposta realmente vem ao encontro das diretrizes adotadas pela Organização Mundial de Saúde ao qual pretende estimular o “envelhecimento ativo”:



“O envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas.



O envelhecimento ativo aplica-se tanto a indivíduos quanto a grupos populacionais. Permite que as pessoas percebam o seu potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida, e que estas pessoas participem da sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capacidades; ao mesmo tempo propicia proteção, segurança e cuidados adequados, quando necessários.” (OMS, 13) 


Por que investir da cultura da prevenção no cuidado com idosos?

Para que os profissionais de saúde tenham subsídio para apresentarem a relevância de seus procedimentos terapêuticos, principalmente para os gestores de instituições de saúde, é necessário que compreenda todo o contexto ao qual estamos inseridos na atualidade.

A partir  do avanço da medicina e da tecnologia da saúde, houve um aumento da expectativa de vida do ser humano originando o fenômeno do envelhecimento da população mundial. Dentre seus vários desdobramentos, este fenômeno torna-se uma questão social influenciando os sistemas de saúde e previdência social, e torna-se um desafio para o Estado pois diz respeito à segurança econômica dos idosos e do país.

Sendo assim, faz-se necessário uma mudança de perspectiva na área da saúde priorizando a prevenção de doenças e promoção de saúde, pois segundo o dito popular “é mais barato prevenir do que remediar”. Este movimento aponta para uma mudança de cultura, do tratamento de doenças diagnosticadas para a prevenção, ressaltando a importância da qualidade de vida e hábitos saudáveis ao longo de toda ela. Nesta nova ótica, todos são beneficiados: o processo de envelhecimento é vivido da melhor forma possível pelo indivíduo, demandando menos gastos aos sistemas de saúde, público e privado.

Faz-se necessário que a área da saúde em suas mais variadas especialidades pensem sob esta perspectiva e se preparem, investindo em pesquisas para a instrumentalização dos profissionais na atuação com este público:

“... o Serviço de Atendimento e Reabilitação do Idoso (SARI/AFIP) vem realizando pesquisas científicas que buscam comprovar a real eficácia de intervenções não farmacológicas junto à população idosa com ou sem doenças neurodegenerativas e em seus familiares e/ou cuidadores, bem como investindo na capacitação de profissionais que atuem com idosos, contemplando, assim, a promoção de saúde como um ‘processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo’, conforme estabelecido na Primeira Conferência Internacional de Promoção de Saúde (Organização Pan-americana da Saúde [OPA], 2012).”  (RIVERO et al, 2003, p. 73)

Dentro desta perspectiva a Arteterapia em suas propriedades se mostra como uma das possíveis intervenções em procedimentos terapêuticos para cooperar na promoção da qualidade de vida, promoção de saúde integral e prevenção de doenças. Nos próximos textos abordarei alguns dos benefícios psíquicos e cognitivos na prática da Arteterapia com idosos.

Referências bibliográficas:
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Envelhecimento Ativo: Uma Política de Saúde. 2005. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/envelhecimento_ativo.pdf> Acesso em 08 dez. 2015.

RIVERO, Thiago Strahler et al. Aspectos psicossociais do envelhecimento. In: Neuropsicologia do Envelhecimento: Uma abordagem multidimensional. Ed Artmed. Porto Alegre, RS. 2013.


Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com

Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.





A Equipe Não Palavra te aguarda!

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