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terça-feira, 16 de agosto de 2016

ARTETERAPIA E OS QUATRO ELEMENTOS - A ORIGEM

Por Maria Cristina de Resende
crisilha@hotmail.com

Nos mais variados cursos de Arteterapia o aluno sempre passa pela disciplina que aborda os quatro elementos da natureza e as técnicas expressivas correspondentes a cada um deles. Entretanto, de onde vierem essas formulações sobre a correspondência desses elementos e o homem? Qual a verdadeira importância de saber sobre esses elementos estruturantes da natureza e da dinâmica psíquica do homem? Onde buscar uma correlação que de fato faça sentido e traga resultado para nossa prática?

Em muitos lugares podemos ver a correlação desses elementos com os quatro tipos psicológicos de Jung, mas ele mesmo nunca fizera essa relação, não por escrito!

Nas minhas buscas por saberes complementares, tanto para a psicologia quanto para minha busca pessoal de auto-conhecimento, cheguei no Xamanismo, cuja base de explicação para a criação do mundo está baseada na sagrada Roda de Cura, cuja representação para muitas culturas nativas é o casco de uma tartaruga, lugar onde fora criado nosso planeta. Ali, estão contidos todos os clãs de todos os povos, a regência dos animais de poder, das pedras, das plantas e, também, dos quatro elementos.


Também encontramos a regência das quatro direções, Norte, Sul, Leste e Oeste e em cada uma delas habita um desses quatro elementos. Essa Roda explica não só a criação do mundo, segundo a visão indígena, mas também explica os ciclos da vida tanto na natureza quanto do homem. Toda a visão de criação está alinhada com os processos da natureza, principalmente com a jornada que o Sol faz a cada dia e a cada ano. Sendo assim, temos uma correlação entre os elementos, as direções, os ciclos da natureza e, portanto, o homem, uma vez que não estamos separados da natureza.


Caminhado mais nesta busca pessoal, que por sua vez alimenta minha prática profissional, cheguei até o Oriente, mais especificamente na Índia e sua milenar Medicina Ayurveda, cuja existência data de mais de 3.000 anos, conhecidos e provados, mas há estudos que datam mais de 5.000 anos de existência, e sua prática é até hoje regida pelos mesmos textos sagrados de milhares de anos atrás.
Segundo a Medicina Ayurveda “cada individuo é a única expressão de um processo cósmico que se torna primorosamente reconhecível no tempo e no espaço”[1], sendo assim,

“o indivíduo, que é coisa rara, somente um, um evento sem repetição, existe como um microcosmo do macrocosmo da Existência. Esses dois sistemas, humano e cósmico, estão conectados permanentemente, pois ambos são feitos dos mesmos básicos elementos. Todos os elementos contidos no macrocosmo estão também presentes no microcosmo ”[2]

O que a Ayurveda nos ensina é que tanto o homem quanto o cosmos são feitos das mesmas substâncias, e que não só o homem, mas tudo que há neste planeta está em ressonância com esses elementos básicos, a cadeira em que estou sentada agora para escrever este texto, a folha de papel que o leitor usa para lê este texto, minhas mãos, seus olhos, o computador, os meus gatos sentados ao meu lado, o café que bebo agora, a roupa que visto e claro, os materiais que usamos no setting de Arteterapia.


Quando enxergamos esta conexão básica entre tudo que existe no universo, então entendemos que existe uma força manifesta através dos elementos, cujas características são específicas de cada um, mas que todos possuem, e então entendemos que quando usamos um material de Arteterapia para ajudar nosso cliente a expressar e reconhecer melhor sua manifestação aqui como ser humano, não é só uma imagem, mas é um pedaço dessa manifestação que possui em si ressonância com o indivíduo que a fez e com o universo inteiro, pois possuem os mesmos elementos básicos.

Ao compreender que os elementos da natureza (água, terra, ar, fogo e éter, para a Ayurveda), estão presentes em tudo, não precisamos mais literalmente trabalhar com água para acessar determinados aspectos que consideremos ressonantes com este elemento, podemos buscar nos materiais que possuímos em nosso ateliê quais são aqueles que possuem mais água em sua manifestação, por exemplo. Para tanto é importante compreender as características, funções e finalidades de cada um desses elementos.

A Arteterapia antroposófica já faz este tipo de trabalho. Baseada na medicina hipocrática, do conhecido pai da medicina Hipócrates, ela se baseia na teoria humoral, ou os 4 humores

O corpo do homem contém sangue, fleuma, bile amarela e bile negra – esta é a natureza do corpo, através da qual adoece e tem saúde. Tem saúde, precisamente, quando estes humores são harmônicos em proporção, em propriedade e em quantidade, e sobretudo quando são misturados.[3]

Nela são trabalhados apenas materiais que estejam em ressonância com esses elementos e com a natureza. Para saber mais sobre esta modalidade consulte o texto publicado aqui no blog pelo arteterapeuta Ismael Rodrigues Fraga http://nao-palavra.blogspot.com.br/2015/08/arteterapia-pelo-mundo-arteterapia.html.

Sendo assim, podemos compreender melhor de onde veio grande parte das associações entre os quatro elementos, os materiais de Arteterapia e a dinâmica psíquica do homem. Após este texto podemos compreender que eles não são só apenas associações, mas extensões dessa manifestação cósmica, ratificando uma reflexão que há tempos venho expondo em minhas explanações, a de que a arteterapia vai além da expressão de uma emoção através de uma imagem, ela é a continuação psíquica manifesta nos materiais, trazendo consciência através da materialidade, ou como diz Flávia Hargreaves, da coisificação das emoções e dos pensamentos que habitam o homem.




[1]  Each individual is the unique expression of a recognizable finely turned cosmic process occurring in time and space. Birgit Heyn – Ayurveda, The Indian Arte of Natural Medicine e Life Extension.
[2] The individual, who is a one-off, a once-only, unrepeatable event, exists as a microcosm in the macrocosmo of Being. The two systems, humam and cosmic, are linked permanently, since both are built from the same basic elements. All the elements contained in the macrocosm are also present in the microcosm. Birgit Heyn – Ayurveda, The Indian Arte of Natural Medicine e Life Extension.
[3] Joffre Marcondes de Rezende - Dos quatro humores às quatro bases. 


Referências Bibliográficas

HEYN, Birgit. Ayurveda, The Indian Arte of Natural Medicine e Life Extension. Ed. Healing Arts Press, Rochester, Vermont, 1990.

REZENDE, JM. À sombra do plátano: crônicas de história da medicina [online]. São Paulo: Editora
Unifesp, 2009. Dos quatro humores às quatro bases. pp. 49-53. ISBN 978-85-61673-63-5. Available
from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

http://www.xamanismo.com.br/Roda/SubRoda1191072387008

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Caso tenha dificuldades em postar seu comentário, nos envie por e-mail que nós publicaremos no blog: naopalavra@gmail.com


3 comentários:

  1. Cris. Esse é um tema que despertou sempre a minha curiosidade. Muito boa escolha. A relação com a Medicina Ayurveda e o Xamanismo em sua escrita deram respostas aos meus questionamentos e despertaram a minha vontade em aprofundar no tema. Obrigada pela pesquisa excelente e motivadora.

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  2. Cris. Esse é um tema que despertou sempre a minha curiosidade. Muito boa escolha. A relação com a Medicina Ayurveda e o Xamanismo em sua escrita deram respostas aos meus questionamentos e despertaram a minha vontade em aprofundar no tema. Obrigada pela pesquisa excelente e motivadora.

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