Por Maria Cristina de Resende
crisilha@hotmail.com
Nos mais variados cursos de
Arteterapia o aluno sempre passa pela disciplina que aborda os quatro elementos
da natureza e as técnicas expressivas correspondentes a cada um deles. Entretanto,
de onde vierem essas formulações sobre a correspondência desses elementos e o
homem? Qual a verdadeira importância de saber sobre esses elementos estruturantes
da natureza e da dinâmica psíquica do homem? Onde buscar uma correlação que de
fato faça sentido e traga resultado para nossa prática?
Em muitos lugares podemos ver a
correlação desses elementos com os quatro tipos psicológicos de Jung, mas ele mesmo
nunca fizera essa relação, não por escrito!
Nas minhas buscas por saberes
complementares, tanto para a psicologia quanto para minha busca pessoal de
auto-conhecimento, cheguei no Xamanismo, cuja base de explicação para a criação
do mundo está baseada na sagrada Roda de Cura, cuja representação para muitas
culturas nativas é o casco de uma tartaruga, lugar onde fora criado nosso
planeta. Ali, estão contidos todos os clãs de todos os povos, a regência dos
animais de poder, das pedras, das plantas e, também, dos quatro elementos.
Também encontramos a regência das quatro direções, Norte, Sul, Leste e Oeste e em cada uma delas habita um desses quatro elementos. Essa Roda explica não só a criação do mundo, segundo a visão indígena, mas também explica os ciclos da vida tanto na natureza quanto do homem. Toda a visão de criação está alinhada com os processos da natureza, principalmente com a jornada que o Sol faz a cada dia e a cada ano. Sendo assim, temos uma correlação entre os elementos, as direções, os ciclos da natureza e, portanto, o homem, uma vez que não estamos separados da natureza.
Caminhado mais nesta busca pessoal, que por sua vez alimenta minha prática profissional, cheguei até o Oriente, mais especificamente na Índia e sua milenar Medicina Ayurveda, cuja existência data de mais de 3.000 anos, conhecidos e provados, mas há estudos que datam mais de 5.000 anos de existência, e sua prática é até hoje regida pelos mesmos textos sagrados de milhares de anos atrás.
Segundo a Medicina Ayurveda “cada
individuo é a única expressão de um processo cósmico que se torna
primorosamente reconhecível no tempo e no espaço”[1],
sendo assim,
“o indivíduo,
que é coisa rara, somente um, um evento sem repetição, existe como um
microcosmo do macrocosmo da Existência. Esses dois sistemas, humano e cósmico,
estão conectados permanentemente, pois ambos são feitos dos mesmos básicos
elementos. Todos os elementos contidos no macrocosmo estão também presentes no
microcosmo ”[2]
O que a Ayurveda nos ensina é que
tanto o homem quanto o cosmos são feitos das mesmas substâncias, e que não só o
homem, mas tudo que há neste planeta está em ressonância com esses elementos
básicos, a cadeira em que estou sentada agora para escrever este texto, a folha
de papel que o leitor usa para lê este texto, minhas mãos, seus olhos, o
computador, os meus gatos sentados ao meu lado, o café que bebo agora, a roupa
que visto e claro, os materiais que usamos no setting de Arteterapia.
Quando enxergamos esta conexão básica entre tudo que existe no universo, então entendemos que existe uma força manifesta através dos elementos, cujas características são específicas de cada um, mas que todos possuem, e então entendemos que quando usamos um material de Arteterapia para ajudar nosso cliente a expressar e reconhecer melhor sua manifestação aqui como ser humano, não é só uma imagem, mas é um pedaço dessa manifestação que possui em si ressonância com o indivíduo que a fez e com o universo inteiro, pois possuem os mesmos elementos básicos.
Ao compreender que os elementos
da natureza (água, terra, ar, fogo e éter, para a Ayurveda), estão presentes em
tudo, não precisamos mais literalmente trabalhar com água para acessar
determinados aspectos que consideremos ressonantes com este elemento, podemos
buscar nos materiais que possuímos em nosso ateliê quais são aqueles que possuem
mais água em sua manifestação, por exemplo. Para tanto é importante compreender
as características, funções e finalidades de cada um desses elementos.
A Arteterapia antroposófica já
faz este tipo de trabalho. Baseada na medicina hipocrática, do conhecido pai da
medicina Hipócrates, ela se baseia na teoria humoral, ou os 4 humores
O corpo do homem
contém sangue, fleuma, bile amarela e bile negra – esta é a natureza do corpo,
através da qual adoece e tem saúde. Tem saúde, precisamente, quando estes
humores são harmônicos em proporção, em propriedade e em quantidade, e
sobretudo quando são misturados.[3]
Nela são trabalhados apenas
materiais que estejam em ressonância com esses elementos e com a natureza. Para
saber mais sobre esta modalidade consulte o texto publicado aqui no blog pelo
arteterapeuta Ismael Rodrigues Fraga http://nao-palavra.blogspot.com.br/2015/08/arteterapia-pelo-mundo-arteterapia.html.
Sendo assim, podemos compreender melhor
de onde veio grande parte das associações entre os quatro elementos, os
materiais de Arteterapia e a dinâmica psíquica do homem. Após este texto
podemos compreender que eles não são só apenas associações, mas extensões dessa
manifestação cósmica, ratificando uma reflexão que há tempos venho expondo em
minhas explanações, a de que a arteterapia vai além da expressão de uma emoção
através de uma imagem, ela é a continuação psíquica manifesta nos materiais,
trazendo consciência através da materialidade, ou como diz Flávia Hargreaves,
da coisificação das emoções e dos pensamentos que habitam o homem.
[1] Each individual is the unique expression of a recognizable finely
turned cosmic process occurring in time and space. Birgit Heyn – Ayurveda, The
Indian Arte of Natural Medicine e Life Extension.
[2] The individual, who is a
one-off, a once-only, unrepeatable event, exists as a microcosm in the
macrocosmo of Being. The two systems, humam and cosmic, are linked permanently,
since both are built from the same basic elements. All the elements contained in
the macrocosm are also present in the microcosm. Birgit Heyn – Ayurveda, The
Indian Arte of Natural Medicine e Life Extension.
[3] Joffre
Marcondes de Rezende - Dos quatro humores às quatro bases.
Referências Bibliográficas
HEYN, Birgit. Ayurveda, The Indian Arte of Natural Medicine e Life Extension. Ed. Healing Arts Press, Rochester, Vermont, 1990.
REZENDE, JM. À sombra do plátano: crônicas de história da medicina [online]. São Paulo: Editora
Unifesp, 2009. Dos quatro humores às quatro bases. pp. 49-53. ISBN 978-85-61673-63-5. Available
from SciELO Books <http://books.scielo.org>.
http://www.xamanismo.com.br/Roda/SubRoda1191072387008
Referências Bibliográficas
HEYN, Birgit. Ayurveda, The Indian Arte of Natural Medicine e Life Extension. Ed. Healing Arts Press, Rochester, Vermont, 1990.
REZENDE, JM. À sombra do plátano: crônicas de história da medicina [online]. São Paulo: Editora
Unifesp, 2009. Dos quatro humores às quatro bases. pp. 49-53. ISBN 978-85-61673-63-5. Available
from SciELO Books <http://books.scielo.org>.
http://www.xamanismo.com.br/Roda/SubRoda1191072387008
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ResponderExcluirCris. Esse é um tema que despertou sempre a minha curiosidade. Muito boa escolha. A relação com a Medicina Ayurveda e o Xamanismo em sua escrita deram respostas aos meus questionamentos e despertaram a minha vontade em aprofundar no tema. Obrigada pela pesquisa excelente e motivadora.
ResponderExcluirCris. Esse é um tema que despertou sempre a minha curiosidade. Muito boa escolha. A relação com a Medicina Ayurveda e o Xamanismo em sua escrita deram respostas aos meus questionamentos e despertaram a minha vontade em aprofundar no tema. Obrigada pela pesquisa excelente e motivadora.
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