Por Eliana Moraes
Uma modalidade de trabalho muito comum na
Arteterapia são os grupos arteterapêuticos, sejam eles em formatos breves –
como as conhecidas vivências – ou continuados. Embora esta seja uma prática bastante comum, ela não é banal. Possui seu
nível de complexidade e demanda do arteterapeuta um olhar e um manejo
instrumentalizado, embora ainda haja pouco material e cursos específicos a
respeito.
Ao longo de cinco anos tive a oportunidade de
coordenar grupos arteterapêuticos na UIP/Hospital Adventista Silvestre. Pude
observar, lapidar o meu olhar, aguçar a minha escuta, testemunhar e aprender
muito sobre o que significa e o que abrange um grupo arteterapêutico. Passada
esta fase de imersão na prática, neste ano me propus a estudar as teorias sobre
grupos terapêuticos e as especificidades de grupos em arteterapia. Posso
compartilhar que tenho me surpreendido com o grande potencial que esta
modalidade terapêutica possui, mas muitas vezes não temos a real percepção dela.
Hoje dou seguimento a uma série de textos que iniciei no dia 26 de outubro de
2015, que se propõe a pensar grupos em arteterapia ao qual o leitor pode
conferir neste link: http://nao-palavra.blogspot.com.br/2015/10/arteterapia-high-touch-reflexoes-sobre.html
Formar (e manter) um grupo terapêutico não é fácil. Alguém
escolher esta modalidade terapêutica e aderi-la fora do contexto de uma
instituição não é comum. Entretanto, tenho aguçado a minha escuta para os
pacientes que participaram dos grupos que coordenei quanto às suas percepções e
sensações sobre esta experiência e dizem que se despertaram para questões tão
importantes, nunca antes pensadas, principalmente sobre suas relações.
De fato, um dos grandes diferenciais do grupo
terapêutico para a psicoterapia individual, e um dos pilares que sustentam esta
proposta, é que nele o participante tem a oportunidade de se experienciar na
relação com o outro.
Na psicoterapia individual, o paciente fala de suas relações e atualiza sua
forma de se relacionar com o terapeuta – fenômeno denominado transferência. A
psicanálise sustenta que o terapeuta estará nesta relação não como um sujeito,
mas como uma função, pois a partir de sua técnica espelhará estes
comportamentos relacionais ao paciente, e assim se dará o processo terapêutico.
Mesmo a partir de outras abordagens teóricas que sustentam uma relação entre
terapeuta-paciente, o senso como é que o terapeuta não agirá com seu paciente
da mesma forma que se relaciona com seus amigos, familiares e relações pessoais,
pois de toda forma é baseado em uma técnica terapêutica.
Em grupos terapêuticos a configuração é outra, pois
no setting haverá outras pessoas na mesma condição de sujeito que comporão um
grupo, e as relações se manifestarão de forma natural. A oportunidade da relação
com outros sujeitos atualizada dentro de um setting terapêutico abrirá um
campo para atuações não antes percebidas e pensadas:
“No grupo, o indivíduo
dá-se conta de capacidades que são apenas potenciais enquanto se encontra em
comparativo isolamento. O grupo, dessa maneira, é mais que um conjunto de
indivíduos, porque um indivíduo num grupo é mais que um indivíduo em
isolamento.” ÁVILA
O psicanalista Lazsio
Antonio Ávila, que muito teorizou sobre grupos, nos diz:
“... criar um dispositivo
clínico grupal é por pessoas em conjunto para que a sua intersubjetividade
inerente se revele o mais claramente possível, demonstrando sua articulação e
sua composição” ÁVILA
Concluímos que o objetivo do grupo terapêutico é conhecer
cada “eu” em suas interações com os outros, é o contexto em que podemos
visualizar o “eu” se fazendo nos vínculos. Sendo assim, o papel do terapeuta é
essencial para criar e sustentar um ambiente propício para grandes tomadas de
consciência e movimentos de mudanças de sujeitos em suas relações.
Cada vez mais impressionada com tudo o que envolve
este riquíssimo trabalho, neste ano me comprometi a formar grupos arteterapêuticos
no consultório particular, ministrar o curso “Grupos em Arteterapia” para aqueles que desejam se aprofundar
neste tema e se instrumentalizar teoricamente para esta prática, e continuar
compartilhando com os leitores do blog sobre esta jornada de pesquisa e prática
arteterapêutica.
Sua companhia será bem vinda!
ÁVILA,
Lazsio Antonio. O Eu é plural: grupos: a perspectiva psicanalítica.
Caso tenha dificuldades em postar seu comentário, nos envie por e-mail que nós publicaremos no blog: naopalavra@gmail.com
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Comentário de Sandra Fierro:
ResponderExcluirAlém da vantagem da interação alavancado conteúdos intersubjetivos, penso que o próprio grupo funciona como um elemento autônomo, com potencial transformador, capaz de surpreender o próprio terapeuta, que talvez necessite de maior jogo de cintura e bagagem para trabalhar com o coletivo, diferentemente do trabalho individual...
Olá Sandra Fierro! Você tem toda razão! O tema do grupo como um "organismo vivo" será abordado em um próximo texto! Como no blog escrevemos textos mais objetivos, os temas são abordados em etapas! Mas este ponto que vc levantou é fundamental ao se prensar os grupos, certamente!
ResponderExcluirEliana, o contra peso que um grupo representa no cenário de relações deterioradas, como o bulling , o olhar repressor entre outros, tem muita importância no desenvolvimento do sujeito.Parabéns por trazer a dificuldade em conseguir adesão para que a relação prática com a Arteterapia possa acontecer sem tantos obstáculos. Abs
ResponderExcluirEliana, o contra peso que um grupo representa no cenário de relações deterioradas, como o bulling , o olhar repressor entre outros, tem muita importância no desenvolvimento do sujeito.Parabéns por trazer a dificuldade em conseguir adesão para que a relação prática com a Arteterapia possa acontecer sem tantos obstáculos. Abs
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