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segunda-feira, 21 de março de 2016

GRUPOS ARTETRAPÊUTICOS – Um estudo (Parte 2)


Por Eliana Moraes


Uma modalidade de trabalho muito comum na Arteterapia são os grupos arteterapêuticos, sejam eles em formatos breves – como as conhecidas vivências – ou continuados. Embora esta seja uma prática bastante comum, ela não é banal. Possui seu nível de complexidade e demanda do arteterapeuta um olhar e um manejo instrumentalizado, embora ainda haja pouco material e cursos específicos a respeito.

Ao longo de cinco anos tive a oportunidade de coordenar grupos arteterapêuticos na UIP/Hospital Adventista Silvestre. Pude observar, lapidar o meu olhar, aguçar a minha escuta, testemunhar e aprender muito sobre o que significa e o que abrange um grupo arteterapêutico. Passada esta fase de imersão na prática, neste ano me propus a estudar as teorias sobre grupos terapêuticos e as especificidades de grupos em arteterapia. Posso compartilhar que tenho me surpreendido com o grande potencial que esta modalidade terapêutica possui, mas muitas vezes não temos a real percepção dela. Hoje dou seguimento a uma série de textos que iniciei no dia 26 de outubro de 2015, que se propõe a pensar grupos em arteterapia ao qual o leitor pode conferir neste link: http://nao-palavra.blogspot.com.br/2015/10/arteterapia-high-touch-reflexoes-sobre.html

Formar (e manter) um grupo terapêutico não é fácil. Alguém escolher esta modalidade terapêutica e aderi-la fora do contexto de uma instituição não é comum. Entretanto, tenho aguçado a minha escuta para os pacientes que participaram dos grupos que coordenei quanto às suas percepções e sensações sobre esta experiência e dizem que se despertaram para questões tão importantes, nunca antes pensadas, principalmente sobre suas relações.

De fato, um dos grandes diferenciais do grupo terapêutico para a psicoterapia individual, e um dos pilares que sustentam esta proposta, é que nele o participante tem a oportunidade de se experienciar na relação com o outro.

Na psicoterapia individual, o paciente fala de suas relações e atualiza sua forma de se relacionar com o terapeuta – fenômeno denominado transferência. A psicanálise sustenta que o terapeuta estará nesta relação não como um sujeito, mas como uma função, pois a partir de sua técnica espelhará estes comportamentos relacionais ao paciente, e assim se dará o processo terapêutico. Mesmo a partir de outras abordagens teóricas que sustentam uma relação entre terapeuta-paciente, o senso como é que o terapeuta não agirá com seu paciente da mesma forma que se relaciona com seus amigos, familiares e relações pessoais, pois de toda forma é baseado em uma técnica terapêutica.

Em grupos terapêuticos a configuração é outra, pois no setting haverá outras pessoas na mesma condição de sujeito que comporão um grupo, e as relações se manifestarão de forma natural. A oportunidade da relação com outros sujeitos atualizada dentro de um setting terapêutico abrirá um campo para atuações não antes percebidas e pensadas:

No grupo, o indivíduo dá-se conta de capacidades que são apenas potenciais enquanto se encontra em comparativo isolamento. O grupo, dessa maneira, é mais que um conjunto de indivíduos, porque um indivíduo num grupo é mais que um indivíduo em isolamento.” ÁVILA

O psicanalista Lazsio Antonio Ávila, que muito teorizou sobre grupos, nos diz:

“... criar um dispositivo clínico grupal é por pessoas em conjunto para que a sua intersubjetividade inerente se revele o mais claramente possível, demonstrando sua articulação e sua composição” ÁVILA

Concluímos que o objetivo do grupo terapêutico é conhecer cada “eu” em suas interações com os outros, é o contexto em que podemos visualizar o “eu” se fazendo nos vínculos. Sendo assim, o papel do terapeuta é essencial para criar e sustentar um ambiente propício para grandes tomadas de consciência e movimentos de mudanças de sujeitos em suas relações.

Cada vez mais impressionada com tudo o que envolve este riquíssimo trabalho, neste ano me comprometi a formar grupos arteterapêuticos no consultório particular, ministrar o curso “Grupos em Arteterapia” para aqueles que desejam se aprofundar neste tema e se instrumentalizar teoricamente para esta prática, e continuar compartilhando com os leitores do blog sobre esta jornada de pesquisa e prática arteterapêutica.

Sua companhia será bem vinda!


ÁVILA, Lazsio Antonio. O Eu é plural: grupos: a perspectiva psicanalítica.

Caso tenha dificuldades em postar seu comentário, nos envie por e-mail que nós publicaremos no blog: naopalavra@gmail.com


4 comentários:

  1. Comentário de Sandra Fierro:

    Além da vantagem da interação alavancado conteúdos intersubjetivos, penso que o próprio grupo funciona como um elemento autônomo, com potencial transformador, capaz de surpreender o próprio terapeuta, que talvez necessite de maior jogo de cintura e bagagem para trabalhar com o coletivo, diferentemente do trabalho individual...

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  2. Olá Sandra Fierro! Você tem toda razão! O tema do grupo como um "organismo vivo" será abordado em um próximo texto! Como no blog escrevemos textos mais objetivos, os temas são abordados em etapas! Mas este ponto que vc levantou é fundamental ao se prensar os grupos, certamente!

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  3. Eliana, o contra peso que um grupo representa no cenário de relações deterioradas, como o bulling , o olhar repressor entre outros, tem muita importância no desenvolvimento do sujeito.Parabéns por trazer a dificuldade em conseguir adesão para que a relação prática com a Arteterapia possa acontecer sem tantos obstáculos. Abs

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  4. Eliana, o contra peso que um grupo representa no cenário de relações deterioradas, como o bulling , o olhar repressor entre outros, tem muita importância no desenvolvimento do sujeito.Parabéns por trazer a dificuldade em conseguir adesão para que a relação prática com a Arteterapia possa acontecer sem tantos obstáculos. Abs

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