Por Eliana Moraes
Nos
últimos meses o grupo de estudos “A prática da Arteterapia” percebeu-se em um
momento de discutir e estudar sobre uma modalidade de trabalho muito presente
na Arteterapia: o trabalho com grupos. Grupos terapêuticos continuados, grupos
em vivências, grupos em cursos para arteterapeutas, enfim, cada participante
contribuiu com a sua experiência como moderador e/ou participante de um grupo em arteterapia. Percebemos
que esta é uma forma de atuar como arteterapeuta que embora bastante comum, não
é banal. Possui seu nível de complexidade e que demanda do arteterapeuta se
instrumentalizar para seu manejo.
O
trabalho terapêutico em grupo nos parece bastante pertinente em nossa contemporaneidade
pois uma das características que mais saltam aos olhos em nossa sociedade atual
se faz no fenômeno da tecnologia atravessando as relações humanas. Apresenta-se
assim um grande paradoxo: a aproximação de seres humanos geograficamente
afastados, mas por outro lado o potencial (não determinante) de afastamento daqueles
que estão próximos uns dos outros. Nesta era “hight tech” – que se caracteriza pelas tecnologias mais avançadas
- os seres humanos vão se dispersando dos contatos visuais, do toque, da
escuta, das percepções mais puras do outro ao qual se relacionam, como a postura
física, as expressões faciais, as entrelinhas, os silêncios...
E
buscando algum embasamento teórico em arteterapia para nossas reflexões,
lançamos mão do livro “Grupos em
Arteterapia – Redes Criativas para Colorir Vidas” de Angela Philippini,
editora Wak. (Imagem de cabeçalho deste texto)
Neste
contexto, apreciei e aprendi com Angela quando em seu livro menciona possíveis
descompassos de tempo em um processo criativo dentro de um grupo arteterapêutico.
Por exemplo se um participante produz de forma acelerada, ela faz o convite de observação e percepção do outro: “Aproveitem o privilégio de ver um grupo
trabalhando criativamente, que é sempre muito bonito de se ver...” (p 28)
A partir deste exemplo podemos perceber como o trabalho de grupos em
arteterapia se apresenta como uma oportunidade de se desenvolver, em
contraponto ao conceito de “high tech”
e suas relações mecanizadas, o “high
touch”: aquele que se refere ao contato humano, a capacidade de compreender
as sutilezas dessas interações e de estabelecer a empatia com o outro.
Em
uma subversão ao convite tão subjetivo de nossa cultura, os participantes de um
grupo de arteterapia têm a oportunidade de saírem de sua zona de conforto, se
deslocarem ao encontro com outros seres humanos de forma regular e a partir das propostas
expressivas e criativas se perceberem, se pensarem como sujeitos (de) em
relação e se assim desejarem, ensaiarem movimentos de mudança que certamente
transbordarão para suas relações em outras esferas. Assim, Angela afirma que o
grupo arteterapeutico promoverá:
“... atividades abrangendo estágios
de desenvolvimento de consciência coletivo-grupal, ciclos que se apresentam e
reapresentam de forma similar em grupos muito distintos... [Afirma] a
importância dos grupos para constituir redes sociais criativas, base para a
construção de comunidades mais harmônicas, fraternas e saudáveis, que são
geradas e multiplicadas a cada grupo arteterapêutico...” (p 14)
Para
aqueles que já trabalham ou nutrem o desejo de trabalharem com a modalidade de
grupos em arteterapia, sugiro a leitura deste livro para embasamento teórico e
para apreciação de algumas orientações práticas sobre seu manejo:
“O tema central do livro enfoca a
percepção dos grupos como organismos
vivos e portadores de características peculiares, sejam favoráveis ou
desfavoráveis. E, por isso, seus integrantes necessitam de acompanhamento,
estímulo e fortalecimento, para refletirem e elaborarem suas questões coletivas
que necessitam ser transformadas.” (p 14)
Para
nós do grupo de estudos, ficou claro a grande responsabilidade do profissional
de arteterapia na condução de um grupo. Nas palavras de Angela:
“A
presença do arteterapeuta como facilitador é de fundamental importância, pois
de sua firmeza para sustentar o território criativo e simbólico para o grupo e
do ritmo regular das atividades, depende uma parte significativa do sucesso do
processo...’” (p 31-32)
Em uma outra oportunidade retomarei este tema,
trazendo reflexões mais aprofundadas e práticas sobre este potente e apaixonante
trabalho em arteterapia.
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