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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

"Não Palavra"



“A palavra é uma isca para pegar aquilo que é `não palavra` e, quando conseguimos, a palavra cumpriu sua missão”

Estas são palavras de alguém que tem propriedade para falar sobre o tema: Clarice Lispector. Nesta citação Clarice descreve o poder que tem a palavra, de alcançar aspectos tão profundos e intensos em cada um de nós.

Em outras palavras, esta é uma visão muito similar à de Freud, quando percebeu que ao falar de seus traumas, seus pacientes iam melhorando dos sintomas físicos. Inclusive, inicialmente, chegou a denominar sua técnica como “talking cure” ou “a cura pela fala”. A partir de seu legado, boa parte das técnicas psicoterapêuticas hoje em dia se baseia justamente ai, na palavra, na possibilidade de expressão, elaboração e cura (?) que o ato de falar proporciona aos pacientes de psicoterapia.

Porém no texto, Clarice defende que quando conseguimos que a palavra alcance o que é “não palavra” ela cumpriu a sua missão. Pois bem. E quando a palavra não consegue alcançar o que é “não palavra”? Você já sentiu algo tão profundo e intenso dentro de si que a palavra mais próxima que conseguiu achar foi talvez angústia e mesmo assim ficou com a sensação de não ter conseguido dizer exatamente o que queria? Você já recebeu um paciente que permaneceu algum tempo tentando expressar o que estava sentindo, trazendo palavras como profunda tristeza, mágoa, decepção, raiva ou até felicidade, êxtase, paz, e no final ele te dizer: “ta, mas não é bem isso que eu queria dizer..”. Eis a “não palavra”! Algo que você sente, de forma tão profunda que tem certeza que está ali dentro, mas não consegue, pelo menos a princípio, traduzir em palavras.

Este é um espaço onde a arteterapia se encaixa. A possibilidade de buscar a intensidade e expressar o que é “não palavra” em outras linguagens além da palavra. Através das linguagens da arte – imagens (pinturas, desenhos, fotos), modelagens, músicas, literaturas, expressão corporal, e tantas outras formas de expressão – o paciente tem a oportunidade de sim, falar de sua “não palavra” em outras linguagens além da verbal..

Este blog se propõe a pensar sobre a técnica da arteterapia, seus benefícios, sua eficácia, suas possibilidades e por que não seus pontos cegos e seus desafios? Aqui postarei as percepções que tenho sobre esta técnica somando o que tenho lido e o que tenho vivenciado na prática da clinica em arteterapia. Nasceu em mim o desejo de compartilhar e dialogar sobre o que tenho pensado sobre este assunto. Convido a quem se sentir tocado de alguma forma pelo tema – psicólogos, arteterapeutas, artistas e demais interessados – a participarem deste meu desejo de me aprofundar nesta técnica que me faz sentir... algo que ainda me é uma “não palavra”. 

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4 comentários:

  1. Já virei leitora!
    Boa sorte neste novo projeto.
    Beijo

    Juli

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  2. Obrigada Juli!
    Na 5a feira colocarei um novo texto!
    bjs

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  3. Parabéns pela iniciativa que tenho certeza de que ira contribuir para iluminar o que vc chama de pontos cegos da profissão além de abrir espaço para discussao sobre os multiplos caminhos da arteterapia. Sucesso!!!!!

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  4. Obrigada Flavia! Conto com a sua participação bastante válida nesse desafio!

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