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segunda-feira, 20 de novembro de 2023

PRÁTICAS ARTETERAPÊUTICAS E SUAS DIVERSAS MODALIDADES

 


Por Eliana Moraes – MG

naopalavra@gmail.com

 

Cada vez mais dedicada à formação continuada do arteterapeuta, tenho observado com atenção as questões mais recorrentes em espaços de supervisão. A partir dessa escuta atenta, pretendo escrever conteúdos orientadores para os profissionais que permanecem na busca pelo seu desenvolvimento.

Compreendemos que a Arteterapia é um campo de atuação que recebe estudantes das mais variadas formações anteriores. Essa é uma característica marcante de nossa profissão, a qual possui sua luz e sombra. Em um aspecto positivo, isso potencializa a diversidade e multiplicidade, bem como, amplia o alcance das práticas arteterapêuticas.

Por um outro lado, observo que alguns arteterapeutas – principalmente os que não vêm da Psicologia – possuem certa dificuldade em compreender a dinâmica do ofício do terapeuta, diferenciando-se de um manejo com viés pedagógico e didático, ou mais diretivo e sugestivo. Nesse contexto, gosto de resgatar o princípio da psicanálise sobre o “saber”.

Para a psicanálise, apenas o sujeito é capaz de “saber” sobre si. Ocorre que ele “esqueceu o que sabe” e este saber encontra-se inconsciente. Quando esse sujeito elege um analista/terapeuta, ele coloca este profissional no lugar de “suposto saber”. Ou seja, o sujeito precisa supor, acreditar, que aquele analista/terapeuta possui um saber que ele não tem. Ser colocado nesse lugar de “suposto saber” é importante para que ocorra a transferência, as projeções necessárias para que o sujeito confie, se abra e vincule com seu analista/terapeuta. Por outro lado, esse lugar deve ser muito bem compreendido pelo profissional, acolhendo a necessidade projetiva de seu paciente, mas mantendo a clareza e consciência de que “ele não tem o saber”. Caso contrário, ele desloca-se para o lugar de conselheiro, mentor, orientador, guru, etc. Quem tem o saber é o próprio sujeito e o papel do analista/terapeuta é ajudá-lo a lembrar de seu saber sobre si. O que o analista/terapeuta possui é um distanciamento emocional e o conhecimento de alguma técnica que possa colaborar com o sujeito na (re)apropriação de seu saber.

De posse desse princípio, cada abordagem terapêutica irá partir de sua técnica. E no caso da Arteterapia é necessário que o profissional conheça as diversas modalidades que compõem nosso repertório, suas características e propriedades, para delas fazer bom uso, com consciência técnica.

Já de início podemos destacar duas modalidades de atendimento bastante características das práticas arteterapêuticas: os atendimentos grupais e individuais.

Em um texto anterior desse blog, chamado “Grupos arteterapêuticos e suas diversas modalidades” (CLIQUE AQUI) discorro mais profundamente sobre algumas variáveis dos atendimentos grupais como o fluxo de pessoas, o tempo e o número de sessões e a estrutura da proposta. Neste texto retomaremos o último item.

Uma proposta estruturada se dá quando o arteterapeuta já conhece todo o conteúdo a ser trabalhado. Geralmente essa proposta funciona com encontros pontuais ou um ciclo breve. Em Arteterapia, uma modalidade muito presente em nosso repertório são as vivências ou oficinas, caracterizadas por um encontro temático ao qual o facilitador já possui a estrutura de seu começo, meio e fim.

Já uma proposta semiaberta ou semiestruturada se dá quando o moderador elege uma proposta inicial – um material, uma temática, um estímulo, uma consigna – e se mantém aberto para ouvir o movimento gerado nos experienciadores por aquele estímulo. A partir dessa escuta ele irá construir a proposta do próximo encontro elegendo as propostas pertinentes àquele movimento grupal. 

Por fim, a proposta aberta acontece quando o moderador oferece o encontro terapêutico sem planejamento anterior, deixando com que os estímulos disparadores surjam de forma espontânea, na experiência do “aqui e agora”. Desta forma, o processo criativo acontece  naturalmente, a partir de algum estímulo surgido no momento.

E aqui vale destacar que (salvo exceções) o atendimento individual se configura como uma proposta aberta.

Atendimento individual

Percebo que para arteterapeutas que não vêm da Psicologia, um dos desafios para desenvolverem o manejo do atendimento individual está em terem sido apresentados à Arteterapia por propostas estruturadas ou semiestruturadas nas aulas do curso de formação e outras vivências, e não terem tido a oportunidade de vivenciarem uma sessão aberta, seja grupal ou individual.

É essencial que o arteterapeuta que oferece atendimentos individuais possa se despir das sessões estruturadas ou semiestruturadas e compreenda que aquele encontro terapêutico se dá a partir da demanda trazida pelo paciente/cliente no “aqui e agora”. A destreza da escuta arteterapêutica está em acolher a demanda subjetiva trazida pelo sujeito e em tempo, criar uma decodificação para o material objetivo e a técnica pertinente.

Naturalmente, o arteterapeuta, conhecendo o percurso de seu paciente, pode deixar como “cartas na manga” possíveis propostas arteterapêuticas para o encontro. Porém, receber o paciente e ouvir o que ele traz para sua terapia naquele momento é imperativo para a dinâmica da sessão. E assim, compreendemos o arteterapeuta como um promotor de encontros entre o sujeito que fala sobre sua questão e o material que será mais facilitador do seu processo de expressão, elaboração e ressignificação.

Compreendemos como cenário de exceção, quando um paciente se apresenta bastante esvaziado, ensimesmado e apresentando pouco repertório. Aqui, há a possibilidade do arteterapeuta inicialmente construir sessões semiestruturadas com objetivo terapêutico de desbloqueio criativo. Tal manejo é um dos recursos singulares da Arteterapia em auxílio à pacientes que possuem alguma angústia, mas que têm dificuldade de expressá-la através da linguagem verbal. Esses pacientes apresentam bastante dificuldade nas psicoterapias tradicionais, enquanto em Arteterapia podemos oferecer a oportunidade de ampliação da linguagem e o contato com estímulos projetivos que serão muito facilitadores a esses pacientes. Entretanto, de toda forma, é importante que o arteterapeuta compreenda que esse é um manejo pontual e temporário, com o objetivo de desbloqueio do paciente, e que a medida que este adentre ao fluxo terapêutico, suas demandas apresentadas na sessão serão norteadoras do processo.

Nesse contexto, outro ponto bastante trabalhado em supervisões se dá no desenvolvimento da sensibilidade de acolhimento do tempo singular de elaboração de cada paciente/cliente. Para arteterapeutas ainda vinculados às modalidades estruturadas e semiestruturadas, por vezes parece desafiador acompanhar o tempo de cada paciente e suas possibilidades, sua resistência ou dificuldade no caminhar. Como nos diz Freud em seu texto “Recordar, repetir e elaborar”, o enfrentamento das resistências é uma árdua tarefa para o paciente e por vezes uma prova de paciência para o analista/terapeuta. Porém, deixar com que o próprio paciente vá desconstruindo suas resistências é o trabalho mais eficaz. Assim, compreendemos que o papel do arteterapeuta não é sugestionar ou apontar caminhos de forma diretiva, mas sim acompanhar, testemunhar e dar suporte ao processo, tempo e caminhar de cada experienciador.

 

A formação continuada e o desenvolvimento do arteterapeuta é um dos objetivos do Não Palavra Arteterapia e suas propostas. Estamos em processo de fechamento do ano de 2023 cientes de que nesse ciclo consolidamos esse lugar e com o desejo renovado para 2024.

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Sobre a autora: Eliana Moraes



Arteterapeuta e Psicóloga
Pós graduada em História da Arte
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso.
Cursando MBA em Logoterapia e Desenvolvimento Humano
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 
Faz parte do corpo docente de pós-graduações em Arteterapia: Instituto FACES - SP, CEFAS - Campinas, INSTED - Mato Grosso do Sul. 
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia online, sediada em Belo Horizonte, MG. 

Autora dos livros "Pensando a Arteterapia" Vol 1 e 2

Organizadora do livro "Escritos em Arteterapia - Coletivo Não Palavra"

3 comentários:

  1. Eliana, muito bom esse texto !! Parabéns !!!
    Um grande abraço,
    Claudia Abe

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  2. É bom ter um lugar como este que o Não Palavra vem oferecendo ao longo destes 10 anos. Lugar de acolhimento e reabastecimento. Lugar de encontros para aqueles que desejam promover outros encontros. Estar conectada aos textos do Blog, as inúmeras possibilidades de rever nossa prática, afinar e alinhar nossa conduta diante de questões atualíssimas abordadas a cada semana por aqui, seja através das Palestras mensais, dos encontros no Quiron, dos mini cursos, dos grupos de estudos variados. É como acessar um oásis com palmeiras, uma sombra no deserto ( é que não é miragem. É bem real e possível). Obrigada, Eliana Moraes e Equipe do Não Palavra. Meu desejo é que este fluxo de trocas de experiências e compartilhamentos se expanda e alcance ainda mais pessoas. Parabéns por mais um texto acertivo e convidativo. Um abraço. Tania Salete Moreira

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  3. Amei. Estou na busca por minha evolução profissional e pessoal e a arte terapia muito me interessa. Parabéns pelo seu trabalho

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