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segunda-feira, 30 de maio de 2022

O MITO DE SÍSIFO, PADRÕES DE REPETIÇÃO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E A MATERIALIZAÇÃO EM ARTETERAPIA

 

Por Juliana Mello – RJ

entrelinhas.artepsi@gmail.com 

“A alma não tem segredo que o comportamento não revele”. (Lao-Tsé)

 

Desde a nossa infância, criamos pensamentos sobre nós mesmos, sobre o mundo e sobre nosso futuro, que vão se reforçando ao longo da vida, dando origem ao que chamamos de crenças.  Essas crenças dão origem aos comportamentos, que nos auxiliam na adaptação ao meio em que vivemos. Criamos assim um ciclo de funcionamento inconsciente onde pensamentos e comportamentos se retroalimentam. Conforme Darwin, citado por Renato Caminha e Marina Caminha, “Se o comportamento se mostra eficaz à adaptabilidade da espécie ele será maximizado, ou seja, passará a ser generalizado no comportamento desta espécie...” (2013)

Passamos então a repetir padrões de comportamento, visto que, em determinada época de nossa vida, eles nos auxiliaram em nossa relação com o meio. Porém, muitos desses comportamentos, e pensamentos, conforme vamos nos desenvolvendo, tornam-se disfuncionais, mas não conseguimos “eliminá-los” de nossa mente e passamos a vida reforçando e mantendo ativos no funcionamento do dia a dia. Como descreve a psicóloga Thaís Petroff em seu blog:

O que os torna disfuncionais, é que são mantidos e perpetuados por toda a vida e em situações em que não necessariamente se “encaixam”. Transformam-se em padrões arraigados de pensamentos e crenças distorcidas. (2011)

E enquanto não tomamos consciência desse funcionamento disfuncional, passamos pela vida repetindo ações que nos levam a pensamentos do tipo: “não nasci para isso”; “as coisas nunca dão certo para mim”; “eu tenho dedinho podre” e por aí vai. Gerando sentimentos como frustração, decepção e ansiedade, nos impedindo de alcançar nossos objetivos.

E agora você pode estar se perguntando: E o que o mito de Sísifo tem a ver com isso?

            Sísifo, da mitologia Grega, era muito inteligente e esperto. Ele conseguiu enganar os deuses             em busca de objetivos que o beneficiasse. Ao descobrirem o comportamento de Sísifo, os deuses lhe deram um grande castigo: Essa punição consistia em escalar uma pedra pesada pela encosta de uma montanha íngreme. E quando ele estava prestes a chegar ao topo, a grande rocha cairia no vale, para ele escalar novamente. Isso teria que se repetir por toda a eternidade.

E é isso que acontece conosco, quando temos padrões disfuncionais, quando nos deparamos com situações que podem ser gatilhos e que nos aproximam dos nossos objetivos, ativamos nossas crenças e nos autossabotamos, “deslizando nossa pedra ladeira abaixo novamente”. O que antes nos beneficiava, para sobrevivermos ao meio em que estávamos inseridos, agora nos revela como uma “pedra” disfuncional.

Em TCC podemos trabalhar estes padrões, através do Registro de Pensamento Disfuncional (RPD), observando os resultados que encontramos e que comportamentos utilizamos, através da Teoria dos Esquemas, entre outras técnicas.

E como podemos trabalhar em Arteterapia?

Trabalhamos observando o nosso processo de criação e os conteúdos que nos são mostrados. Como podemos ver abaixo, os trabalhos de uma paciente de 31 anos, que tem algumas questões em sua vida relacionadas as relações interpessoais, que para ela são difíceis de serem faladas e vivenciadas. Ela chegou à terapia com o olhar muito voltado para o outro, em querer agradar e não magoar, acreditando que ao expressar algo que não gostasse, o outro ficaria chateado. E com pensamentos sobre si de que não era boa o suficiente em seu trabalho, “que era uma fraude”, que as pessoas só a elogiavam para agradá-la. Além de “excluir” a possibilidade de um relacionamento afetivo.  

 


Papel preto amassado e papel vegetal


Papel amassado e papel vegetal

Essas duas imagens são um recorte do processo, em que mostram as partes desintegradas e “esquecidas”, que só com a fala seriam difíceis em ser acessadas, pois para ela, conscientemente, está tudo bem como está, o tempo está passando e não se pode ter uma solução, já está acostumada, isto é, nunca irá deixar de duvidar do seu potencial e nunca terá um relacionamento afetivo.

O processo arteterapêutico tem permitido que ela entre em contato com novas possibilidades, voltando seu olhar para si mesmas e sobre seus objetivos pessoais. A proposta desta última imagem foi que ela pudesse trazer contorno aos pontinhos que eu havia feito na folha, como forma de continuar o movimento em que ela tem feito, buscando o equilíbrio entre ela e o outro. Além de relaxar, pois havia sido um dia cansativo de trabalho. Ela, então, escolheu como ligar os pontinhos e sentiu vontade de trazer cores diferentes para cada espaço. Ao final, conversamos sobre as produções anteriores e como agora ela conseguiu integrar as partes e trazer cores. Ela tem olhado mais para seus objetivos pessoais e buscado meios para realizá-los. Alguns aspectos de sua vida ainda são difíceis de vivenciar, porém estamos trabalhando com os graus de complexidade, e as coisas mais simples estão começando a serem concretizadas.

 

Ligando os pontinhos em papel A4


Bibliografia

BECK, Judith S. Terapia Cognitivo-Comportamental: teoria e prática. 2º edição. Porto Alegre: Artmed, 2013.

CAMINHA, Renato M; CAMINHA, Marina G. Baralho dos comportamentos: efeito bumerangue. 1º edição. Curitiba: Sinopse, 2013.

Clínica de Psicanálise. O Mito de Sísifo: resumo em filosofia. Site: O Mito de Sísifo: resumo em filosofia - Psicanálise Clínica (psicanaliseclinica.com) Acesso em: 25/05/2022.

PETROFF, Thais. De onde vêm nossas crenças negativas e comportamentos disfuncionais? Site: https://www.thaispetroff.com.br/autoconhecimento/de-onde-vem-nossas-crencas-negativas-e-comportamentos-disfuncionais/ Escrito em 2011. Acesso em: 25/05/2022.

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Sobre a autora: Juliana Mello



Psicóloga, Arteterapeuta e Coach
Atendimento clínico  individual e grupo om criança, adolescente, adulto e idoso.
Abordagem em Terapia Cognitivo- Comportamental e Arteterapia

Palestras e Workshop motivacionais.

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