Por Eliana Moraes e parceiras de
jornada - RJ
Ao longo de 2019 tive a oportunidade
de sustentar dois grupos para arteterapeutas: um de proposta vivencial, ao qual
se constituía um espaço para que terapeutas se reservassem um tempo e um espaço
para seu próprio processo criativo e contato com imagens pessoais; o outro, o
grupo de estudos "Teorias da arte e a Arteterapia" ao qual
estudávamos a História da Arte buscando possíveis aplicações para nossa prática
arteterapêutica, tendo como leitura mestra o livro "Do Espiritual na
Arte" de Kandinsky.
Estes dois espaços receberam vários
terapeutas ao longo do ano, mas naturalmente pela dinâmica do grupo e dos
indivíduos, algumas participantes permaneceram. Ao fecharmos os encontros de
2019 pudemos olhar para trás, avaliar o percurso por nós construído e conversar
sobre a potência sentida em cada uma a partir da sustentação do grupo, para
seus desafios pessoais ao longo do ano. A palavra recorrente foi:
enfrentamento. E o quanto o grupo se fez um território sagrado para que cada
uma colocasse seus desejos, suas dúvidas e inseguranças, mas sobretudo que
recebesse acolhimento e afeto, além de feedbacks construtivos para estes
enfrentamentos.
Foi assim que partiu de Selma a
proposta de escrevermos um texto coletivo sobre a potência da experiência
grupal para nós. A começar por mim, percebo e afirmo a importância do(s)
grupo(s) como um espaço para colocar minhas ideias e propostas e receber um
espelhamento honesto que em muito colabora para o direcionamento dos meus
próximos passos. Observo que os textos que escrevi até aqui, que são a base dos
dois livros que já publiquei, são profundamente atravessados pelos grupos de
estudos que me acompanhavam em cada fase de trabalho. Tenho a clareza absoluta
de que sem este espaço de compartilhamento e construções colaborativas, meu
trabalho não seria o mesmo. Desta forma, manifesto minha gratidão a cada uma das
participantes dos grupos sustentados pelo Não Palavra. E agora abro a palavra
para que três delas compartilhem suas experiências.
O
grupo é sem dúvida um trabalho igualmente importante e desafiador, já que
trabalhamos com aspectos singulares de cada sujeito inserido em um grupo. Sou
testemunha dessa experiência profunda, marcante e transformadora.
Ao
longo de alguns meses participei junto com outras mulheres interessantes,
inteligentes e o mais importante, dispostas a mergulhar num processo
transformador e vivenciar cada proposta que nos foi ofertada.
O
trabalho de grupo, por sua natureza e seus fenômenos, proporciona sermos
influenciados e influenciarmos o ambiente, e o ambiente em que estivemos todos
esses meses foi acolhedor, contribuindo para que aos poucos pudéssemos
descobrir nossos medos, angustias, tristezas, nossas capacidades, e possíveis
enfrentamentos de vida e esse foi um “mote” que o grupo compreendeu que era
necessário dar uma atenção especial ao potencial criador de cada uma e que por
motivos reconhecidos, estavam travando esse ato criativo a se realizar.
Foram
momentos de profunda entrega, choros longos e sentidos, risos fartos contagiantes,
abraços de coração com coração, enfim...
Agradeço
a TODAS pelo belo encontro de vida e de grupo e o mergulho para as profundezas
do oceano do inconsciente e descobrir um universo de possibilidades.
No grupo, o indivíduo dá-se conta de
capacidades que são apenas potenciais enquanto se encontra em comparativo
isolamento. O grupo, dessa maneira, é mais que um conjunto de indivíduos,
porque um indivíduo num grupo é mais que um indivíduo em isolamento.” (ÁVILA in MORAES, p 119)
SELMA
LESSA
Participar
de um grupo vivencial em arteterapia demanda entrega e disponibilidade interna
para mergulhar nas nuances mais profundas de nós mesmas. Quando esse mergulho
pode ser feito ao lado de pessoas igualmente entregues ao processo e amorosas
na escuta, tudo se torna intenso e simples ao mesmo tempo. Intensidade das
memórias, medos, alegrias, angústias, dúvidas, cores e sentimentos aliada a
simplicidade de estar presente para si e para o outro. E assim fica o registro
no coração de encontros entre terapeutas que se permitiram, num ambiente
acolhedor, serem terapeutas de si mesmas.
PATRÍCIA SERRANO
Em meio a uma grande cidade como o
Rio de Janeiro, eu como estrangeira, vindo de outro estado, pude encontrar
nesse grupo o fortalecimento da minha individualidade. Pode parecer um
paradoxo, mas foi no grupal, no olhar do outro, que se deu a luz ao indivíduo
que sou, ou - mais verdadeiro falar - o caminho para ser mais esse universo
particular que sou. Em meio a multipliciades de questões e indagações, consegui
dar luz, no sentido de gestar, os projetos e enfrentamentos. Não é a toa que a
palavra que permeou o grupo foi justamente esta:
"enfrentamento".
Existem tantas mensagens
motivacionais para que sigamos em frente, de sermos fortes, de nos
encontrarmos... Mas eu acredito que a motivação vem de Eros, na sua
particularidade de amor, acolhimento, olhar e sorriso. Eros move montanhas! E
foi nesse grupo, permeado por Eros, que empurrei minhas montanhas e consegui
estabelecer uma paisagem que me faz ver e sentir que não sou mais estrangeira
no Rio e que aos poucos também não serei mais estrangeira de mim.
Espero que minhas amigas tenham se
visto como universos particulares, valiosos e ricos, cada um do seu jeitinho. E
a partir disso, ver a importante dinâmica da integração do diferente, meu
universo se relacionando com tantos outros distintos.
Agradeço a Eliana por ser a
mobilizadora de encontros. Isso faz toda a diferença nesses momentos difíceis
pelos quais estamos passando.
LAILA ALVES DE SOUZA
O ofício do terapeuta pode ser
bastante solitário se ele não buscar espaços de troca, diálogos e acolhimento.
Neste texto compartilhamos nossas experiências para incentivar que os amigos do
Não Palavra busquem grupos que possam potencializar sua jornada como
terapeutas. Após este ano de profundas experiências, podemos afirmar: vale a
pena!
Referência:
MORAES, Eliana. Pensando a Arteterapia, volume 1.
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Sobre as autoras: Eliana Moraes
Arteterapeuta e Psicóloga.
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia.
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia. Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Selma Lessa
Psicóloga/ Psicologa Socorrista/ Arteterapeuta/
Especialista Junguiana/ Instrutora de Yoga Integral/ Artista Visual/ Acima de
tudo apaixonada pelo Ser Humano.
Patrícia Serrano
Psicóloga
Arteterapeuta em formação
Pós-graduada em Psicologia Hospitalar pela FIOCRUZ
Atendimentos clínicos individuais
Atualmente compõe a Equipe Não Palavra na gestão dos materiais e eventos
Laila Alves de Souza
Psicóloga
Pós- graduada em psicologia clínica na abordagem da Psicologia Analítica.
Atendimentos clínicos pela abordagem da Psicologia Analítica no Rio de Janeiro.
Olá, estarei concluindo minha graduação em psicologia, já possuo faculdade de arte e tenho a especialização em arteterapia. Buco aqui subsídios para desenvolver meu TCC com práticas grupais com adolescentes.
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