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segunda-feira, 8 de abril de 2019

ARTETERAPIA E PSICOPEDAGOGIA: Desdobramentos das oficinas criativas na interdisciplinaridade



Regina Célia Rasmussen – São Paulo
reginaceliacz@gmail.com

A Psicopedagogia atende crianças, adolescentes e adultos que demandam uma atenção em situação de aprendizagem. Não se trata de um trabalho que busca a transmissão de conhecimento, mas sim do auxílio ao indivíduo como um todo, partindo do princípio de que a aprendizagem é inerente à condição humana.
Para Alícia Fernández – referência fundamental na Psicopedagogia -, o problema de aprendizagem se encontra na anulação das capacidades e bloqueio das possibilidades e, nesse contexto, a expressão artística surge como um suporte não só para o atendimento, mas também para o fortalecimento do potencial criador do próprio psicopedagogo.
Como professora de oficinas de Arteterapia em pós-graduação de Psicopedagogia, tenho observado que os vínculos formados com os meus alunos costumam extrapolar as minhas aulas. Em cada término de módulo, muitos demonstram a necessidade de dar continuidade às vivências proporcionadas pelo conteúdo oferecido, não só que os auxiliem em seus futuros atendimentos, mas que também os ajudem na sua própria saúde mental para que possam exercer a profissão com mais significado.
Ao ensinar algumas técnicas de estimulação da expressão artística aos estudantes de psicopedagogia com o objetivo de acessarem em seus pacientes a criatividade, ficou evidente a oportunidade desses alunos desenvolverem o seu próprio processo criativo a partir das sensibilizações vivenciadas.
Visualizações criativas, poemas, contos, músicas e filmes foram as formas apontadas de sensibilizar, mover e estimular o fazer artístico, e que favoreceram uma expansão do potencial psíquico na realização do objeto das oficinas, ou seja: a imagem simbólica na arte - por eles produzidas – trouxe uma reflexão sobre a própria atuação e as singularidades dos seus autores.
Segundo Fayga Ostrower: 
 “(...) criar representa uma intensificação do viver, um vivenciar-se no fazer; (...) é uma realidade nova que adquire dimensões novas pelo fato de articularmos, em nós e perante nós mesmos, em níveis de consciência mais elevados e mais complexos. Somos, nós, a realidade nova. Daí o sentimento do essencial e necessário no criar, o sentimento de um crescimento interior, em que nos ampliamos em nossa abertura para a vida.” (p.28)
As oficinas criativas foram oferecidas como uma noção de técnicas importantes, como um suporte para o trabalho do psicopedagogo na sua missão de ser o facilitador da integração do emocional e do cognitivo na situação de aprendizagem, mas foi além ao provocar a experiência e a expressão artística com a diversidade de materiais naqueles que aprendiam. 
O que era apenas uma aprendizagem sobre a utilização das sensibilizações e as propriedades e possibilidades dos materiais expressivos para fins da terapêutica psicopedagógica provocou a necessidade de um maior autoconhecimento para atuação como psicopedagogo. Esse desdobramento endossa a importância da arte como ferramenta para compreender melhor o mundo, as pessoas, e a si mesmo, pois traduz e ressignifica as experiências de vida. 
Esses ex-alunos se mostraram motivados a se desenvolver psiquicamente e a procurar uma autonomia mais plena em sua nova prática. Sabem que são capacitados para a profissão que abraçaram, mas percebem que o novo caminho requer saúde mental, disponibilidade para o outro, concentração, acessibilidade à criação e a todo o processo que a envolve para a possibilidade de se (re)conhecerem e serem os protagonistas do seu fazer psicopedagógico.

Para atender a esse desdobramento do início do percurso dos profissionais de Psicopedagogia nas suas inquietações e constatações que permeiam a realização efetiva do atendimento em clínicas psicopedagógicas, faz-se necessário um espaço gerador de possibilidades de criatividade e expressividade.
Nesse contexto, a Arteterapia propicia a construção desse espaço para desvelar e transformar os novos “cuidadores da aprendizagem prazerosa” em profissionais mais harmônicos, onde o arteterapeuta funciona como o guia que organiza, estimula e conduz as atividades em consonância com o funcionamento do grupo.
Da interdisciplinaridade, surge a configuração de um ciclo de encontros arteterapêuticos que visa proporcionar a esses novos profissionais e seus pares um encontro com a arte - em atividades de criação e reflexão - para essa nova jornada: a ressignificação de sua própria aprendizagem, a melhora da autoestima, a ampliação do seu (auto)conhecimento, e, assim, qualificar de maneira mais segura o “ser psicopedagogo”. 

Bibliografia:

FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisionada:  abordagem psicopedagógica clínica da criança e de sua família. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
LACAVA, Lídia. Eros e Psiquê: um caminho possível para pensar a docência. São Paulo: Porto de Ideias, 2018.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 25ª ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
PHILIPPINI, Angela. Grupos em Arteterapia: redes criativas para colorir vidas Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011
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Sobre a autora: Regina Célia Rasmussen


Pedagoga, psicopedagoga e arteterapeuta
Professora em pós-graduação de Psicopedagogia
Coordenadora do Espaço Crisântemo - onde atende e gerencia workshops e oficinas criativas.


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