Páginas

segunda-feira, 23 de julho de 2018

ARTE E TÉCNICAS EXPRESSIVAS NO AMBIENTE CORPORATIVO


Por Helen Faria -  RJ


“Mais do que de máquinas precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência precisamos de afeição e doçura.”
Charles Chaplin
                 Quando eu tinha meus 20 anos de idade, ou seja, há 23 anos, tinha acabado de me formar em bailarina e em teatro e estava fazendo faculdade de fisioterapia. O corpo sempre foi a minha grande paixão e entendia que a arte através do movimento era transformadora. Foi então que comecei a realizar preparação corporal para atores e depois comecei a ficar muito incomodada de como os corpos dos trabalhadores e dos empresários funcionavam, eles não sabiam que tinham corpos, não sabiam sorrir e muito menos se movimentar. 
                 Nessa época o Brasil estava em pleno crescimento e os trabalhadores eram massacrados fisicamente gerando grandes constrangimentos físicos levando ao stress. Foi quando teve grande ascensão as tendinites ocupacionais (DORT – doenças osteomusculares).
Stress e doenças ocupacionais:
“Movimento é vida, sem movimento a vida é inconcebível.”
Moshe Feldenkrais
                 Stress, tensões musculares e doenças ocupacionais começaram a crescer no Brasil e grandes afastamentos pelo INSS começaram a acontecer principalmente no ramo de telemarketing / Call Center, onde a produção era pelos movimentos repetitivos. As empresas começaram a se preocupar com as perdas financeiras que estavam tendo pelo alto índice de rotatividade e absenteísmo. Aqui então iniciava os investimentos de grandes empresas em implantação de programas de qualidade de vida em especial com a Ginástica Laboral. 
                 Entrei nesse ramo com a intenção não só de diminuir os impactos físicos gerados pelo sistema empresarial, mas também gerar um ambiente mais relaxado e despertar o brincar dentro das empresas, acreditando que o movimento lúdico e mais humano fosse curador.
                 Nesse momento era importante provar para as empresas que a implantação de programas como a Ginástica Laboral diminuía a sinistralidade dos planos de saúde, a rotatividade e o absenteísmo, promovendo assim um lucro maior tendo funcionários mais produtivos e felizes no ambiente de trabalho. E hoje em dia, é mais do que sabido que isso funciona e a maioria das empresas já tiveram ou tem algum tipo de programa implantado com esse propósito.
                 Comecei a observar que a Ginástica Laboral também passou a ser um movimento repetitivo e começou a gerar grande desinteresse dos participantes. Nesse momento comecei a inserir o teatro, arte e técnicas expressivas utilizando vários materiais diferenciados para tornar a atividade de Ginástica Laboral ainda mais prazerosa. Criamos aulas temáticas, jogos corporais utilizando vários materiais lúdicos (fitas, bolinhas, barbantes, bexigas, bambolês, colher de pau etc.) para despertar a criatividade e resgatar a criança interior.
                 O movimento corporal pelo lúdico e pela arte começou a ser o meu grande diferencial dentro do ambiente coorporativo chegando a atender mais de 120 mil vidas. O nosso foco era muito mais do que prevenir doenças mas tornar o ambiente de trabalho mais humanizado e prazeroso levando um maior equilíbrio entre mente e corpo, coisas que são inseparáveis.

Aula de Ginástica Laboral na plataforma da empresa Modec em uma SIPAT (semana interna de prevenção de acidente de trabalho)


A Crise, Saúde Mental e Arte:
“Um corpo inteligente é um corpo que consegue se adaptar aos mais diversos estímulos e necessidades, ao mesmo tempo que não se prende a nenhuma receita ou fórmula pré-estabelecida, orientando-se pelas mais diferentes percepções conscientes dessas sensações. ”

Klaus Vianna


                 Há mais ou menos 4 anos começamos a sentir uma grande crise se instalando em nosso país. A crise gera grandes sofrimentos, mas também gera um lugar de pesquisa interna, de reinvenção e co-criação. Observei grandes demissões e escutei muitas pessoas falando: “agora que fui mandada embora e não tenho mais nada a perder posso fazer o que eu sempre quis.”
                 Isso me causou grande impacto de como as pessoas estavam sendo máquinas e se movimentando pelo medo e não pela sua potência e desejo interno. Onde estava escrito que não poderia fazer o que sempre quis fazer? E agora está livre? Não somos livres? Somos, mas o sistema gera essa consciência que somos dependentes e uma educação cultuando o medo da escassez.
O adulto de forma geral adquire regras e convenções limitantes do seu jogo autêntico e se fecha no seu mundo materialista e consumista, prisioneiro da rotina e “obrigações”, e o jogo das relações passa a ser rígido e violento. 


Como o sistema materialista e consumista entrou em crise as pessoas começaram forçosamente a entender quem eram e quais eram seus principais valores e com isso começaram a se desestabilizar, a entrar em crise também por estarem muito desconectadas de si mesmas. As doenças mentais começaram a ser o grande problema dentro do ambiente coorporativo. As questões físicas que antes eram o grande foco passou a ficar em segundo plano dos problemas dentro das empresas. 


Comecei a ser chamada para dentro de grandes empresas para apoiar e cuidar da saúde mental pois a maioria das delas está com problemas de alta rotatividade, absenteísmo e baixa produtividade por questões mentais, além de estarem todos sobrecarregados porque muitos foram desligados das empresas e os que ficaram estão trabalhando em dobro, em um clima de tensão e medo instalado pela hipótese de a qualquer momento serem mandados embora também.


Diante desse quadro de questões mentais comecei a realizar a arte como o meu principal recurso, onde as palestras não eram mais em power point e nem teóricas. Aqui nasceu os "Jogos de Conexão", que são jogos terapêuticos, corporais, lúdicos e colaborativos utilizando ferramentas de mindfulness, arte e técnicas expressivas para despertar o autoconhecimento e falar de temas importantes para atualidade: resiliência, empatia, comunicação, presença, coragem, desapego, afetividade, gratidão e outras habilidades sócio emocionais tão importantes para a vida no dia a dia. 


              Acredito que cada vez mais as empresas estão enxergando essa ferramenta como um grande suporte e temos um lindo caminho pela frente para acolher grandes grupos resgatando o seu Eu e realizando o grande jogo da vida, se relacionando com o outro e com o mundo.

Palestra sobre auto-relaxamento na empresa Osklen inspirada nas obras de Lygia Clark



Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!

Referências Bibliográficas:
BROTTO, Fábio Otuzi. – Jogos cooperativos: se o importante é competir, o fundamental é cooperar. Santos: Projeto Cooperação, 1997. 

MILLER, Jussara. Qual é o corpo que dança? São Paulo: Summus, 2012.
Yozo, Ronaldo Yudi k. 100 jogos para grupos: uma abordagem psicodramática para empresas, escolas e clínicas: Ágora, 1998. 
_________________________________________________________________________________

Sobre a autora: Helen Faria

Facilitadora de grupos, consultora em Qualidade de Vida para as empresas há mais de 20 anos, sócia fundadora da empresa Reabily Qualidade de Vida e da empresa VemSer movimento. 

Atriz, bailarina, terapeuta holística, fisioterapeuta e facilitadora de programas de resiliência, meditação e mindfulness.  

É apaixonada por arte e pelos jogos corporais, pela potência do movimento  e das grandes transformações que vem a partir dele. 

Idealizou o Jogos de Conexão” para que os grandes insights venham da potência do grupo, do lúdico, do corpo através e de uma experiência vivida, experimentada e sentida. Assim, ministra cursos de formação dos "Jogos de Conexão" em várias cidades do país.
 Para saber da agenda de cursos escreva para helen@reabily.com.br

Um comentário:

  1. Maravilhoso! Sou func pub e arteterapeuta em formação. Esse texto me deu uma luz, vivencio essa problemática no meu dia a dia e sempre penso como mudar a minha rotina! Gratidão!

    ResponderExcluir