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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

INVENTANDO HISTÓRIAS: Uma breve reflexão sobre o estágio em Arteterapia com idosos


Por Cristiane de Oliveira
crisarteterapia@hotmail.com


“ A vivência do grupo arteterapêutico como espaço de interlocução dá ao idoso um novo espaço de compartilhamento de sua subjetividade, onde pode amenizar a vivência de exclusão e reposicionar-se de forma mais ativa e fortalecida para confrontar os desafios do envelhecimento.” (Philippini, 2015, p.18)

O convite
Quando o Não Palavra  iniciou a proposta “Não palavra abre as portas” , dando espaço para que os leitores que se identificassem com o blog expusessem suas ideias, me senti motivada a escrever um pouco da minha experiência no estágio realizado na Formação em Arteterapia pela POMAR - RJ, no período de 2016 a 2017. O meu interesse em escrever tem por intuito ajudar a minha compreensão na atuação em Arteterapia com longevos. Esse foi o  perfil escolhido por perceber, principalmente, ser um público que vem aumentando (afinal, destino de todos nós), que sofre o preconceito, a invisibilidade simbólica, a marginalização,  e, além do mais, precisa ser compreendido e estudado.


            O meu trabalho arteterapêutico realizado com grupo de idosos instalados em instituição de longa permanência utilizou, como instrumentos, diferentes materiais de arte e técnicas expressivas diversas, no entanto, trago como destaque a experiência de criação de histórias. Para isso, foi importante formar, junto com esse grupo, um espaço de criação e permissão para errar. Um lugar que percebessem que é  possível criar em liberdade, livre de condicionamentos ou preconceitos. Desta forma, toda produção plástica foi encaminhada com intuito a trazer a esses indivíduos a capacidade de se perceberem criativos, com valor pessoal e gerar autoestima.




De ouvir a criar histórias: breve relato da experiência


            Um dos primeiros passos foi fazer entender que a Arteterapia não tem por intuito ensinar Arte e, sim, traduzir sentimentos, pensamentos e emoções através dos trabalhos produzidos. A partir do desenho, pintura, modelagem ou outras formas de expressão foi-se tentando fazer o desbloqueio do potencial criativo a ponto de sentirem-se capazes de criar mudando o sentimento de desvalia e percebendo-se integrados num grupo.


            Esse espaço criativo também deveria ser lúdico, afinal, a ideia do isolamento e de autodesvalorização sempre queria trazer um tom mais triste para a casa. Desta forma, a música, sempre presente, era um dos pontos chaves para abrir espaço para a ludicidade. O primeiro passo foi ouvir histórias com o intenção de ativar o imaginário, estimular a criatividade, ativar a comunicação oral. Assim, para potencializar esse processo arteterapêutico da contação, foram utilizados diferentes linguagens expressivas.


“O idoso tem muitas histórias para contar, e em muitas situações, há pouca gente ou ninguém interessado em ouvir com atenção. O espaço arteterapêutico como território de interlocução e livre expressão pode auxiliar a suprir essa lacuna” (Philippini, 2015, p.38)


O segundo passo foi o de criação de histórias. Porém, esse  momento não poderia ser bloqueador, já que a maioria dos idosos estava com limitações e dificuldade de escrever. Assim, o registro das histórias criadas pelo grupo era realizado por mim. Nesse momento criador, o que contava era a improvisação e a criatividade. As histórias criadas eram sem tema fixo,  disparadas algumas vezes por imagens ou objetos, onde cada pessoa ia completando a criação da outra. Outras vezes (depois de já terem vivido a experiência de criar histórias), a própria pessoa criava da sua cabeça. Nessas histórias, percebia-se muito da situação de isolamento e desvalia que estavam vivendo. Contudo, esses momentos foram fortalecedores para os longevos. Perceberam-se capazes e criativos a ponto de uma participante sentir vontade de escrever um texto chamado “contestação” onde dizia ser incrível ver que pessoas idosas seriam capazes de criar histórias que poderiam estar num livro. E, a partir dessa ideia, no fim do estágio, cada uma das participantes pode ver suas histórias escritas no livro que era ilustrado com seus desenhos e seus nomes como autores.  Esse momento vitalizador foi apenas um dos muitos que se tentou criar, estimulando a curiosidade, a imaginação e alegria de viver, apesar de tudo.


“Como arteterapeutas, podemos utilizar os têmenos do setting arteterapêutico como espaço de semeadura destas mudanças, assegurando ao longevo um lugar seguro, protegido e confiável, para reinventar-se a cada dia”. (Philippini, 2015, p.47)

Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.

A Equipe Não Palavra te aguarda!

Referências Bibliográficas


PHILIPPINI, Ângela.Caminho da Arte: Construindo um Envelhecimento Ativo. Rio de Janeiro: WALK, 2015.
_____________________ Linguagens e Materiais Expressivos em Arteterapia: Uso, Indicações e Propriedades. Rio de Janeiro: Walk, 2009.

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Sobre a autora: Cristiane de Oliveira






Formada em Pedagogia(UFF), Psicopedagogia (UNESA), Arteterapia (POMAR), cursando Pós Graduação em Arteterapia (POMAR)

Atuação em Arteterapia com adultos e idosos (individual e grupo), atendimento  em domicílio e instituições.

2 comentários:

  1. A Cristiane é uma excelente pessoa é profissional, acompanhei seu estágio de perto e pude ver toda sua dedicação e comprometimento com o trabalho. Sucesso, Cris. Parabéns pelo texto.

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  2. Parabéns Cristiane por levar arte e vida para os idosos com um trabalho tão potente e transformador!

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