Páginas

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

PAUSA


Por Eliana Moraes

Certa vez ouvi de uma paciente musicista que a pausa é um elemento essencial para a música pois ela traz o silêncio, o descanso, o vazio e com ele o convite para a abertura de uma nova sequência de notas.

Hoje o blog Não Palavra inicia suas férias da produção semanal de textos que se propõem a pensar a Arteterapia. Apenas uma pausa e toda a beleza que ela contém.

Nosso retorno já tem data, dia seis de fevereiro de 2017, com novas propostas e novos projetos mas mantendo o que nos move: o desejo de contribuição para a Arteterapia e arteterapeutas.

Mas até lá nossas segundas feiras não ficarão vazias. Através de nossa fan page no Facebook iniciaremos uma série que semanalmente relembrará textos que marcaram o blog neste ano e anos anteriores.

Convidamos aos amigos e parceiros do blog que curtam a fan page "Não-Palavra" no Facebook para que acompanhe nossas publicações. Sugerimos também que, caso você ainda não esteja cadastrado em nossa mala direta, nos envie um email para naopalavra@gmail.com e assim você se manterá informado sobre nossas divulgações e conteúdo.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

ENCONTROS, DESPEDIDAS E RECOMEÇOS

Por Flávia Hargreaves
Contato: fmhartes@gmail.com

Fotografia: Flávia Hargreaves. Encáustica e tinta acrílica sobre madeira.

“[...] Não se trata de explicar uma coisa, mas de compreender uma história.” (1)

Estou descontextualizando a frase acima, arrancando-a do seu contexto e intenções originais para falar de mim, dando-lhe um sentido ao qual, nem o autor e nem quem o citou, se refere, mas por alguma razão me trouxe as palavras e os pensamentos que buscava organizar para iniciar o texto de hoje.

Ainda sobre as palavras, também trago novamente a expressão “ENCONTROS E DESENCONTROS”, muito utilizada por mim em textos e palestras, mas desta vez, fazendo referência à música que a inspirou: “ENCONTROS E DESPEDIDAS”, de Milton Nascimento. Sim, hoje é dia de despedida, de fechamento de ciclo e de recomeço.

DESPEDIDAS, sempre difíceis, mas às vezes necessárias, enriquecedoras e fortalecedoras para todos os envolvidos. Então, sem muitos rodeios e com palavras precisas e claras: hoje me despeço publicamente do Não Palavra, como integrante da equipe, mas permaneço como amiga e incentivadora de um projeto que tanto colabora para a discussão da nossa profissão, trazendo visões independentes e diversificadas sobre a Arteterapia.

Como coloquei no início, “Não se trata de explicar uma coisa” ...  Eu mesma não saberia explicar, mas esta frase me esclareceu que não era necessário. Entretanto, é preciso, sim, compreender uma história: a minha. Compreender o meu momento, algo que completar 50 anos deu uma tonalidade peculiar e tornou a “explicação” dos fatos, absolutamente vazia. Este desligamento é o reconhecimento de um fechamento de ciclo para dar espaço a um recomeço. E, como diz a música, “É a vida...”(2),  vida que segue, vida de encontros, despedidas e recomeços...

RECOMEÇOS de quê?
Dentre as novidades, de 2017, reabrirei, em Copacabana, meu ateliê de arte, desativado em 2006, integrando a proposta anterior – um espaço de encontros, de produção artística, exposições, estudos, cursos e pesquisa sobre arte – a um novo olhar, construído ao longo desses 10 anos, a partir do meu envolvimento e compromisso com a Arteterapia, como um instrumento de promoção de saúde e bem-estar. Meu desejo é que o novo ateliê se transforme em um espaço artístico e terapêutico onde as pessoas possam escolher seus caminhos.

Com relação ao Não Palavra, tive a oportunidade, com a equipe, de comemorar os resultados positivos derivados de toda a seriedade, planejamento e energia investidos, gerando um crescimento considerável de visibilidade para os nossos trabalhos e para a Arteterapia. Agradeço, à Eliana Moraes, pela parceria profissional, incentivo permanente e pela abertura de um espaço tão generoso onde pude compartilhar, nas publicações do blog e nos ciclos de palestras, partes de minha pesquisa sobre a Arteterapia e sua articulação com a Arte. Agradeço igualmente à parceira de equipe, Maria Cristina de Resende, que tanto me acrescentou e instigou na pesquisa e no desenvolvimento da escrita.

E o meu MUITO OBRIGADA a todos os leitores que me acompanharam, comentaram e compartilharam minhas publicações.

Fotografia: Flávia Hargreaves. Desenho, lápis de cor sobre papel.

_______________
(1) SILVA, 2006, apud MARQUES, p.11.
MARQUES, Flávia. Fundamentos do Ensino Superior I. Curso de pós-graduação à distância Docência do Ensino Superior. UCAM. s/data.

(2) Encontros e Despedidas, Milton Nascimento.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

PAUSA


Por Eliana Moraes

Certa vez ouvi de uma paciente musicista que a pausa é um elemento essencial para a música pois ela traz o silêncio, o descanso, o vazio e com ele o convite para a abertura de uma nova sequência de notas.

Hoje o blog Não Palavra inicia suas férias da produção semanal de textos que se propõem a pensar a Arteterapia. Apenas uma pausa e toda a beleza que ela contém.

Nosso retorno já tem data, dia seis de fevereiro de 2017, com novas propostas e novos projetos mas mantendo o que nos move: o desejo de contribuição para a Arteterapia e arteterapeutas.

Mas até lá nossas segundas feiras não ficarão vazias. Através de nossa fan page no Facebook iniciaremos uma série que semanalmente relembrará textos que marcaram o blog neste ano e anos anteriores.

Convidamos aos amigos e parceiros do blog que curtam a fan page "Não-Palavra" no Facebook para que acompanhe nossas publicações. Sugerimos também que, caso você ainda não esteja cadastrado em nossa mala direta, nos envie um email para naopalavra@gmail.com e assim você se manterá informado sobre nossas divulgações e conteúdo.



segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

OBSERVAÇÕES DA CLÍNICA - QUANDO O ELEMENTO TERRA APARECE

Por Maria Cristina de Resende
crisilha@hotmail.com

Dando continuidade a sequencia de observações da clínica da Arteterapia, hoje trago a contribuição sobre o elemento terra e seu contraponto, o ar.
Dentro da Medicina Ayurveda, tudo na natureza é criado a partir dos 5 elementos, que por sua vez se originam do primeiro elemento primordial, o éter, que fora tema do último texto aqui publicado.

“A base metafísica do Ayurveda está na filosofia Samkhya, que compreende a criação do universo como uma progressão dos cinco elementos a partir da energia que flui da consciência cósmica. Segundo esta teoria, deste estado de consciência surgiu o som silencioso aum e, através de sua vibração, tornou-se possível o aparecimento do elemento éter. A movimentação do elemento etéreo deu origem ao ar, que é visto como o éter em atividade. Esta ação produziu uma fricção, de onde foi gerado calor e de onde se manifestou o elemento fogo. O calor foi responsável pela dissolução e liquidificação de certos elementos etéreos, fazendo surgir a água que, ao se solidificar, permitiu que ocorresse a formação das moléculas da terra. Esta, serviu de base para a constituição de toda matéria contida no universo.”

Sendo assim, pulamos do primeiro elemento criado pela consciência cósmica, para o ultimo, a terra. Este elemento traz em si a força e a coesão da rocha, o coágulo máximo da terra, ela estrutura, sustenta e dá forma aos outros elementos, o rio não teria direção se não fosse seu leito, feito de terra, nem tampouco conseguiríamos bebê-la em um copo, que é feito de terra. Não levemos ao pé da letra que o elemento terra esteja apenas manifesto em coisas que possuem de fato terra, mas ele estará presente em tudo aquilo que é pesado, frio, denso, estruturante e coeso.

Se levarmos esses atributos ao plano mental chegamos perto de um Arquétipo muito conhecido, o Velho, ou o Senex. Dentro da sizígia Puer et Senex, o Senex é a força psíquica estruturante, que dá coesão e forma, assim como rege as regras, as condutas e as normas sociais, da moral e do caráter. O Puer, por sua vez, é aquele que move, que impulsiona, que é curioso, que instiga, que experimenta, que sonha, é ar e pode ser fogo também.

Dentro da Roda da Medicina Nativa, as quatro direções são também regidas pelos elementos e cada um também possui a regência de um arquétipo, ou força psíquica. Quando o Sol nasce ele está no Leste, é o primeiro sopro, o nascer da vida, do dia, do espírito, é quando o ar entra nos pulmões da criança pela primeira vez, é quando as flores desabrocham na primavera, é ar, é a Criança Divina. Ao meio-dia ele está no seu auge da luminosidade e calor, é fogo, é a juventude, a ação, a curiosidade, a busca e a experimentação, é a transformação, é fogo e o Herói. Ambos desdobramentos do arquétipo do Puer. No pôr do Sol ele esta no Oeste, é a maturidade, o entardecer, a construção, a auto-obervação e a estruturação da vida. À meia-noite ele está no Norte, é a velhice, a solitude, a sabedoria, o desapego e a cura das emoções, as águas sendo purificadas, é o Velho Sábio, ambos também desdobramentos do Senex.

Podemos observar que ambos caminham juntos, sonhando e tornando o sonho concreto, experimentando novidades e usando-as no aprendizado com sabedoria. Dissolvendo e coagulando, Solve et coagula, já dizia a frase alquímica.

O problema se dá quando apenas um deles está manifesto, está potente e atuante. Para observarmos tal questão apresento brevemente um caso onde podemos observar que o excesso de Puer torna o Senex sem força para a estruturação. Um jovem rapaz muito sonhador com clássicos problemas da juventude atual, dificuldade de concentração, pouco estimulado para o mundo, vivendo apenas no núcleo familiar, no seu vídeo-game e nas fantasias que alimenta em sua mente, um típico Puer desequilibrado, ou seja, o eterno filho da mamãe.

Muitos trabalhos plásticos foram realizados até chegarmos na argila, muitas observações foram sendo feitas, coordenação motora, criatividade, busca por materiais diferentes, impulso criativo ou preguiça criativa e após avaliar que ele entrara num período de estagnação após alguns movimentos conquistados sugeri trabalharmos com a argila após contá-lo sobre o mito de criação grego envolvendo o movimento de Urano em exigir que Gaia engula seus filhos, dinâmica repetida por Kronos e interrompida por Zeus (ver artigo sobre Mito de Criação). Após a contação do mito pedi que ele observasse o que dele estava sendo engolido e como estava a sua própria dinâmica de criação. Após a reflexão, que tentasse então, dar formas a esse sentimento através da argila.

Assim foi feito, mas a forma dada foi a própria história de Urano exigindo que Gaia engolisse seus filhos, mostrando que a dinâmica psíquica de seus desejos pode ainda estar na era dos Titâs, ou seja, muito inconsciente e com pouca força para se tornar consciente.
Esta é Gaia engolindo seus filhos a mando de Urano, a imagem já está seca e caída, pois as pernas não sustentaram o peso da escultura e não forma devidamente "coladas", entretanto fora a unica que não ficou desfigurada, permaneceu inteira, apenas com uma das pernas soltas.

Durante a manipulação da argila algumas observações foram feitas: estruturação da forma, saídas criativas para problemas que apareciam no ato de criar uma escultura tridimensional, coordenação motora e a relação com o material.

Toda a sequencia estava ruida, desde Urano apontando para Gaia engolir seus filhos, até o momento em que ela pega e leva à boca, engole e depois já com os vários filhos na barriga (a escultura com a barriga cheia de furos representando os vários filhos engolidos)

Em alguns momentos parava-se para observar a “sujeira” que a argila deixava nas mãos, ou para recontar a história e ver se não perdera nenhuma cena, em outro momento tentava quase desesperadamente deixar a escultura em pé sem que para isso fosse feita uma análise sobre como fazer isso da melhor forma.

Eu, enquanto terapeuta, não fui solicitada para ajudá-lo, e mesmo que fosse considerei que naquele momento era importante para o seu processo que eu não interferisse, ainda que eu visse que a escultura fosse ruir. E assim aconteceu.

Na sessão seguinte, com praticamente todos os personagens fragmentados e caídos entramos de fato no tema, a falta de terra em sua vida, ou seja, a falta de estruturação, de construção e de coagulação. A partir dai, ficou claro a necessidade de trabalhar Puer e Senex juntos, trazendo para o equilíbrio a força Puer e potencializar a força Senex para que ele consiga se estruturar psiquicamente e na vida.
À esquerda de todas as esculturas está uma, mais úmida, que fora o produto da reflexão diante da ruína da modelagem realizada anteriormente. Mais um boneco, representando ele mesmo, dessa vez sentado, "para não correr o risco de cair", conforme ele disse, com as mãos na cabeça desesperado com a cena!

Logo, o elemento terra aparece aqui, nesse caso, como um identificador de que há um excesso de ar e uma enorme dificuldade de lidar com a terra. A estratégia para esse caso é equilibrar o ar através de dinâmicas e materiais que lidem com os atributos desse elemento e potencializar a terra com materiais que ressoem seus atributos.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O MUNDO NECESSITA DE ARTE



Por Eliana Moraes
elianapsiarte@gmail.com



“O mundo necessita de poesia,
cantemos, poetas, para a humanidade;
...
Nosso destino, poetas, é o destino
das cigarras e dos pássaros:
- cantar diante da vida,
cantar
para animar
o labor do Universo,
cantar para acordar,
ideias e emoções;
porque no nosso canto
há um trigo louro,
um pão estranho que impulsiona
o braço humano,
e os cérebros orienta,
uma hóstia
em que os espíritos encontram,
na comunhão da beleza,
a sublimação da existência.
O mundo necessita de poesia,
cantemos alto, poetas, cantemos!”
Gilka Machado em Poesias Completas


O ano de 2016 começa a caminhar para o fim deixando alguns rastros de seus efeitos. Recentemente ouvi uma “brincadeira inocente” que me causou impacto: “Esse ano, a ‘Retrospectiva 2016’ vai ter que durar cinco horas!” 

Que ano! Particularmente, 2016 foi um dos anos mais desafiadores da minha biografia, e tenho apurado a minha escuta para não poucas pessoas reconhecendo o quão difícil foi. Ampliando nosso olhar para o social, não faltaram movimentações surpreendentes e notícias estarrecedoras na cidade/estado em que resido, Rio de Janeiro (e penso que os leitores de outros estados não fogem à regra), no nosso país, no mundo... Hipnotizados pela contemplação, poderíamos passar horas e horas mencionando os eventos que nos estarreceram. E em mim,  uma sensação tem sido constante nos últimos tempos: “Está estranho.” 

Nas esferas coletiva e pessoal, 2016 quebrou muitas das minhas certezas, seguranças e zonas de conforto e com ele um convite ao desfazer-me do que não cabe mais... ao vazio... e ao início de movimentos intuitivos àquilo que realmente me faz sentido   

Neste texto, alguns sentidos que me responderam.

Comecei a estudar História da Arte em 2009 com a Flávia Hargreaves, sem ter a menor ideia da proporção que este estudo tomaria em minha vida. Em 2016 experimentei a convicção de que estudar a História da Arte me faz sentido, pois ela contribui para minha compreensão sobre o mundo em que vivo e minhas articulações sobre o estar neste mundo 

Lembrei-me de Pablo Picasso que ao descrever seu processo criativo sobre a colagem disse: 

“... se um pedaço de jornal pode converter-se numa garrafa, isso também nos dá algo para pensar a respeito de jornais e garrafas. Esse objeto deslocado ingressou num universo para o qual não foi feito e onde em certa medida, conserva sua estranheza. E foi justamente sobre esta estranheza que quisemos fazer com que as pessoas pensassem, pois tínhamos perfeita consciência que o nosso mundo estava ficando muito estranho e não exatamente tranquilizador.”     

Ao longo da história a arte desempenhou muitas funções, e no século XX a expressão política através da arte teve papel fundamental. Exemplo disto foram os dadaístas que assaltados pelo horror da Primeira Guerra Mundial, buscavam através da arte chamar a atenção daqueles que pudessem ouvir:  

“Em Zurique, em 1915, tendo perdido o interesse pelos matadouros da guerra mundial, voltamo-nos para as Belas Artes. Enquanto o troar da artilharia se escutava a distância, colávamos, recitávamos, versejávamos, cantávamos com toda nossa alma. Buscávamos uma arte elementar que pensávamos, salvasse a espécie humana da loucura destes tempos.” (STANGOS) 

Neste contexto, pensar sobre meu ofício como arteterapeuta neste mundo que caminha para a estranheza foi uma segunda experiência. Tenho colocado nas aulas e supervisões para arteterpeutas que cada vez mais tenho a convicção de que nosso trabalho é micropolítica, aquela que fazemos a cada ato. Ao proporcionarmos ao nosso paciente/cliente um encontro com a arte – em qualquer formato dentre a riqueza de possibilidades que a Arteterapia nos oferece – somos agentes transformadores, de vidas e do social. Promover a arte mobiliza consciência, senso crítico, pensamentos, emoções, expressões, ações e movimentos individuais e coletivos.  

Ser arteterapeuta faz sentido, pois este ofício compõe meu estar no mundo. Através dele exerço a minha micropolítica disponibilizando a arte para sujeitos que intuitivamente buscam saúde em um mundo adoecido. 

Desde 2013, com o nascimento do blog Não Palavra, a escrita vem ganhando espaço no meu caminho profissional. Inicialmente com o objetivo de registrar o dia a dia de estudo e prática, hoje o blog tem conquistado seu espaço como um veículo de troca de conteúdo sobre a Arteterapia, em teoria, práticas e profissão. Vejo que este espaço tem ampliado seu alcance e contribuído para o estudo, articulações, e descobertas de arteterapeutas, estudantes e curiosos. Perceber a evolução deste trabalho me estimula a continuar.  

A escrita me motiva e compartilhar aquilo que aprendo com quem partilha da jornada comigo, tem um sentido especial para mim. Este é um sentido tão profundo que registrei-o no meu corpo: aspas nos punhos, que dentre outros significados, simbolizam minha escrita e minha motivação em compartilhar o conhecimento.  

2016 caminhando para o fim, deixando rastros de pensamentos e reflexões costurados pelo fio da arte, pois ela faz sentido. Gilka Machado, grande poetisa brasileira, nos diz que o mundo necessita de poesia e convoca aos poetas que cantem. Eu tomo a liberdade de ampliar esta ideia, afirmando que o  mundo necessita de arte e aceito o convite. De minha parte, o que estiver ao alcance das minhas mãos... será feito.  


Referências Bibliográficas:

MACHADO, Gilka. Poesias Completas.
STANGOS, Nikos. Conceitos da Arte Moderna.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

ENTRE A BAGUNÇA E A ARTE NOS DEPARAMOS COM A VIDA

por Flávia Hargreaves
contato: fmharates@gmail.com

Mesa de trabalho no curso "Conhecendo os materiais e aprendendo a usá-los". Foto: Flávia Hargreaves. 2016.

Há poucas semanas (06/11/16) tive a oportunidade de participar do evento em homenagem ao artista TUNGA (1952/2016) promovido pela AARJ (Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro). A proposta de trazer este nome para um evento de arteterapia partiu da arteterapeuta Marise Piloto e quero compartilhar com vocês que mais uma vez a arteterapia me aproximou de um artista contemporâneo. Não que fosse meu primeiro contato, mas a arteterapia afeta o modo como se dá esta aproximação, são outros olhos, outros ouvidos, outras mãos, outras relações.

Tunga está entre os artistas que mais marcaram a minha visita a Inhotim em 2012, ao lado de Lygia Pape (1927/2004), Helio Oiticica (1937/1980), Cildo Meireles (1948) e Adriana Varejão (1964), todos brasileiros [QUE BOM!!!]. Em Inhotim vi pela primeira vez uma obra da japonesa Yayoi Kusama (Japão. 1929), no ano seguinte sua exposição "Obsessão Infinita" estava no CCBB e talvez tenha sido uma das mais fotografadas e postadas nas redes sociais, uma festa.



Evento "[...] o mundo que a gente constrói e o mundo que a gente vive [...]". Foto: Flávia Hargreaves. 2016.

Mas voltando ao evento em homenagem a Tunga, cujo título é uma citação do artista, "[...] o mundo que a gente constrói e o mundo que a gente vive [...]", o fato de estar envolvida com este projeto me fez mergulhar em um novo universo de possibilidades, frases inspiradoras, novos olhares sobre a bagunça e, claro, sobre o fazer Arte na Arteterapia. E, novamente me vejo diante dos temas das minhas palestras do II Ciclo Não Palavra: "Buscando potenciais na Arte Contemporânea para práticas na Arteterapia" (18/07/16), que foi reapresentada no evento da AARJ (06/11/16) e o da palestra de hoje "O arteterapeuta e a Arte" (21/11/16). 

Deixo aqui registrado meu agradecimento à Ligia Diniz e à AARJ pela oportunidade e, em especial, às minhas companheiras neste passeio pela obra de Tunga Marise Piloto e as "Lucianas" Pellegrini e Menz.


Palestra de Flávia Hargreaves no evento  "[...] o mundo que a gente constrói e o mundo que a gente vive [...]". 
Foto enviada por Marise Piloto via facebook. 2016.

Nas palavras de Tunga:
“Não gosto da palavra performance, eu diria fenômeno. Nesta ocasião precisa, não se trata sequer de um fenômeno. É um pouco mais do que isso. Trata-se de fazer bagunça. E o que é bagunça? O mundo…é uma bagunça e a gente trata de dar ordem a essa bagunça. Dar ordem é achar as coisas. Então no meio de uma coisa confusa você acha, descobre, depois essa coisa volta a essa confusão. Quando você toma de novo, você redescobre essa coisa.” fonte: transcrição de entrevista disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=F6sofs_fEcY> acesso em 05/11/16.
"Tudo é capaz de ser repositório de sentido e de ter depositado um sentido novo. A arte tenta tornar a vida um pouco mais intensa, divertida e cheia de sentido. Dar sentido às coisas é a atividade de um poeta e um artista. O convite que a arte faz é que você pode fazer. Você também é artista.” fonte: citação postada no facebook por Luciana Menz em 05/11/16.
"A disciplina de fazer arte, poesia, pensar por essa via é exatamente a disciplina de saber quem sou eu. Você desenha para descobrir o que está pensando. Muitas vezes, faz uma obra achando que sabe o que está fazendo e depois vai ver que ela está lhe ensinando e lhe narrando dentro dela, o que está implícito nela - episódios da sua vida, da sua experiência, da sua existência. Episódios de vida que você não viveu, ou acha que viveu e não percebeu. Então, muitas vezes, são pequenas experiências que as pessoas podem não se dar conta e numa obra se revela. É essa tensão em relação à experiência de qualquer ordem, que faz com que a vida seja mais interessante.“  fonte: citação postada no facebook por Luciana Menz em 05/11/16.
Se você acha que estas citações são reveladoras para a Arteterapia está na hora de refletir sobre o papel da Arte na Arteterapia. Então, ARTETERAPEUTAS, arregassem as mangas porque VOCÊ também é um ARTISTA, FAÇA BAGUNÇA, DESCUBRA E REDESCUBRA COISAS, DESENHE PARA DESCOBRIR O QUE ESTÁ PENSANDO E SENTINDO, MERGULHE NA EXPERIÊNCIA E AGUARDE QUE A OBRA SE REVELE.

HOJE 21/11/16 ás 18:30h. Copacabana. Rio de Janeiro.
II Ciclo de palestras Não Palavra. O Arteterapeuta e a Arte
com Flávia Hargreaves. Inscrições: naopalavra@gmail.com

Caso tenha dificuldades em postar seu comentário, nos envie por e-mail que nós publicaremos no blog: naopalavra@gmail.com

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

OBSERVAÇÕES DA CLÍNICA – QUANDO O QUINTO ELEMENTO APARECE!

Por Maria Cristina de Resende
crisilha@hotmail.com

É muito comum na prática da Arteterapia usarmos os 4 elementos como disparador de processos alquímicos/psíquicos ou como pacificador de um momento de muita raiva – fogo – ou de muita emoção – água, por exemplo. Em agosto deste ano compartilhei um texto com vocês, caros leitores, acerca da origem, do uso e das associações terapêuticas com os 4 elementos.

Entretanto, na minha caminhada fui apresentada ao quinto elemento – o éter, que para muitos pode parecer estranho, ou ser associado ao elemento químico éter, mas aqui no nosso contexto ele será tratado como a manifestação cósmica do vazio. No corpo ele se manifesta em todos os espaços vazios, como narinas, boca, cavidade auricular, tubo gastro-intestinal, vagina, veias, útero, espaços entre células e na mente como o vazio psíquico em que nos deparamos em alguns momentos da vida e até mesmo como um desdobramento da depressão, de acordo com minha experiência no tratamento de pessoas com este diagnóstico.

É um elemento de extrema importância, pois sem esses espaços vazios em nosso corpo não é possível que aconteça o fluxo do sangue, que a comida percorra o caminho necessário para se transformada em energia e nos manter vivos, não haverá um espaço onde a nova vida se formará, crescerá e virá à luz.

Sem vazio não há movimento.

E como essa explanação nos ajuda na prática terapêutica da Arteterapia?

Quando um paciente vem até nós buscando terapia é comum que venha com a cabeça cheia de questionamentos, confuso, sem saber qual pensamento priorizar, não sabe responder o que o faz feliz nem tampouco reconhece seus desejos mais profundos. Isso nos mostra que há um monte de coisas amontoadas ocupando todos os espaços, como aquele quarto de serviço que temos em casa, que sem saber o que fazer com ele o ocupamos com tudo que não queremos ver, nem dar fim em nossa casa. Assim acontece com nossa mente, ocupamos com padrões, certos e errados, formatos sociais, culturais ou familiares que muitas vezes não nos cabem mais em determinados momentos de nossa vida, e não conseguimos esvaziar esses espaços, pois o Nada possui sua angustia.

É preciso aprender a se esvaziar para que o éter se manifeste e é esse o processo doloroso, não o vazio em si, pois para se esvaziar é preciso olhar de frente para tudo aquilo que fomos “entulhando” em nossa mente e em nossas emoções, vasculhar nos cantos de nossa alma o que quisemos esquecer – ou fingir que – para não dar conta, não elaborar, não digerir. E nesse processo tornamos presente tudo aquilo que achávamos que estava no passado. Entretanto só assim é possível atualizar as imagens, as cenas, a memória afetiva contida em cada lembrança, e então, ao olharmos, ao falarmos, ao coagularmos nos materiais podemos aos poucos nos esvaziar.

Conforme esse processo de esvaziar vai acontecendo, aos poucos brechas de luz vão entrando nos lugares antes trevosos e podemos ver que pequenos espaços vazios vão surgindo e dele todo o potencial de criação é renovado e potencializado. Em outro texto compartilhado aqui neste Blog, falei sobre os mitos de criação e do quanto nossa mente e nosso capacidade criativa está diretamente ligada ao reviver esse mito a cada dia em nossa mente mais profunda. Sendo assim, devemos lembrar que Gaia, Urano, Eros e Tártaro, na mitologia grega, vieram do Kaos, o vazio, o abismo de amplo espectro. Ou seja, tudo vem do vazio, sem ele não há possibilidade de renovação, de criação, nem fora de nós, nem dentro de nós.


Caso 1: O reflexo vazio, ainda que a primeira vista pareça uma carência de determinada imagem, é na verdade a possibilidade de ser qualquer imagem, exigindo do individuo uma pesquisa dentro de si mesmo do melhor e do pior a ser criado desse vazio, e assim, criar em si mesmo a imagem possível dentro de todas as experiências vividas e idealizadas.


Caso 2: Foi pedido para o cliente desenhar um disco e, dentro dele, distribuir os aspectos que vivencia na vida. Diante dessa possibilidade de perceber a área de atuação de cada aspecto em sua vida, escapa um não selecionado conscientemente, ou seja, um grande espaço em branco "sobra", e nele não há nome, forma, direção nem tampouco clareza de que aspecto ele estaria representando. Aqui o vazio se expressa de forma mais forte, como um "ato falho", onde, para surpresa do autor, não há forma, não há sentido nem direção, apenas pura potência.

Assim é o vazio, a pura potência, que despida de formas e pré-conceitos se expressa apenas como a possibilidade infinita de criar, seja a si mesmo ou ao mundo ao seu redor.


Caso tenha dificuldades em postar seu comentário, nos envie por e-mail que nós publicaremos no blog: naopalavra@gmail.com

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

MONDRIAN E ARTETERAPIA – Um diálogo para um estilo



Por Eliana Moraes
elianapsiarte@gmail.com
No último dia 24 de outubro, no II Ciclo de Palestras Não Palavra, apresentei o tema “Arteterapia: reflexões sobre a clínica”. Nesta ocasião, dentre outros pontos, abordei a importância de cada profissional buscar e desenvolver o seu estilo como arteterapeuta clínico.
Apurando minha escuta sobre os textos do grupo Não Palavra neste ano e a troca com outras arteterapeutas que frequentam nosso espaço nos cursos, grupo de estudos e supervisões, percebi que a clínica da arteterapia é um tema que tem nos atravessado, cada uma em sua singularidade. Partindo do princípio que a riqueza da Arteterapia está em sua pluralidade, cabe ao arteterapeuta buscar aquelas referências que lhe respondem em suas interrogações e aplicá-las em sua prática.
Quanto ao desenvolvimento do meu próprio estilo, compartilho que cada vez mais tenho me amparado na teoria da psicanálise para embasar a minha escuta sobre o paciente e o manejo clínico, e nas teorias e história da arte para me fornecerem instrumentalização teórica e prática quanto ao ato de criar no recorte da clínica arteterapêutica. A construção do estilo é por definição um caminho individual, porém acredito que da mesma forma que ouvir sobre o estilo de alguém que autorizo colabora para a minha construção, aqui compartilho um fragmento do meu percurso, caso possa colaborar para o desenvolvimento do estilo de outros. 
Hoje trago a experiência que vivi ao visitar a exposição “Mondrian e o movimento De Stijl: arte, arquitetura e design da Holanda no início do século XX” em cartaz no CCBB-RJ até 9 de janeiro de 2017. Exposição tão rica de conteúdos históricos e artísticos, que conta o quão é extensa a influência de Mondrian, também se revela muito inspiradora para nossa prática como arteterapeutas. Recomendo àqueles que residem no Rio de Janeiro que não percam esta oportunidade. Eu mesma pretendo voltar, pois penso que apenas uma visita não é suficiente para absorver tanta riqueza!
Mondrian e o Movimento “Stijl”



Piet Mondrian nasceu em 1872 na Holanda. Seus primeiros trabalhos se configuram como pinturas figurativas um tanto tradicionais, sob a influência de pintores pós-impressionistas como Vincent Van Gogh, Jan Toorop, Georges Seurat e Paul Cézanne. Entre 1912 e 1914 Mondrian residiu em Paris, aproximando-se de Pablo Picasso e do Cubismo, impulsionando-o em direção à abstração completa em 1917 até chegar em seu inconfundível estilo geométrico, o “neoplasticismo":


“... sua ênfase recaiu sobre   linhas verticais, horizontais e planos coloridos. Por meio de tais relações efêmeras, Mondrian reinterpretou as formas esféricas em termos de um jogo dinâmico entre forças interiores e exteriores, percebendo analogias mais profundas com oposições entre energia e matéria, espaço e tempo.” (texto extraído do folder da exposição) 


“De Stijl” (que, não por acaso significa estilo), revista fundada em 1917, tornou-se um movimento artístico e a mais importante contribuição da Holanda para a cultura do século XX. Fundada pelo escritor, crítico de arte, poeta e artista plástico Theo van Doesburg, propunha reunir o que havia de mais moderno em termos de arte, arquitetura, ofícios, música e literatura a cada mês.


Século XX, um século tão marcado pelas duas grandes guerras mundiais, deixou a humanidade estarrecida se perguntando sobre o que o homem era capaz de produzir para si.  Em meio ao caos, a destruição e o horror, muitos dos movimentos artísticos desta época buscavam na arte alguma forma de expressão, orientação e possíveis respostas sobre novos caminhos para a humanidade. Não diferente disto, De Stijl se mostraria em sua filosofia como o antídoto para o individualismo daquela época. A abstração radical revelaria o modelo e transformaria a vida em arte. As pinturas abstratas de Mondrian se mostravam como o modelo de uma nova consciência.


A exposição mostra como Mondrian e seus companheiros da revista De Stijl criavam a partir de uma visão de mundo e de uma arte que seria revolucionária.  Defendiam:
“... uma arte moderna que pretendia transcender divisões culturais e se transformar numa linguagem universal, baseada na pureza das cores primárias, na superfície plana das formas e na tensão dinâmica característica das telas mais conhecidas de Mondrian.”
“Em suas composições, o artista buscou realizar um equilíbrio e uma harmonia que se estenderiam a todo o espaço da área de uma construção e se firmariam como um modelo para as relações harmoniosas que imaginava para a vida dos povos num futuro utópico.” (texto extraído das legendas da exposição, grifos meus)
Em 2017 completa-se cem anos do lançamento da revista De Stijl, por artistas que chegaram às linhas retas e as cores primárias na busca de uma linguagem visual de aplicação mais universal, menos individualista. Podemos pensar que estes artistas eram movidos  por um desejo utópico de que assim o ser humano poderia se comunicar e se relacionar harmoniosamente apesar de tanta diversidade e pluralidade.

Não nos parece um desejo tão atual?
Arteterapia: História da Arte para quê?
Desde 2009 Flávia Hargreaves e eu nos dedicamos ao estudo da História da Arte e suas possíveis aplicações na prática da Arteterapia, dentre movimentos artísticos, artistas, suas biografias e processos criativos. Denominamos nossa pesquisa como “Arteterapia: História da Arte para quê?” e  a aplicamos em nossa prática, escrevemos e compartilhamos em palestras e cursos diversos.
A partir da inspiração em Mondrian e seu processo criativo, hoje destaco três possibilidades que levei para minha clínica. As imagens que ilustram este texto foram produzidas em atendimentos arteterapêuticos e sua publicação foi autorizada por seus autores.
Percebo que Mondrian dialoga em vários aspectos com a estrutura histérica a partir da teoria psicanalítica. Não cabe neste texto me aprofundar nesta relação pois demanda uma profunda articulação teórica. Mas em linhas gerais, Mondrian e seu intenso investimento para o “simplificar” e chegar aos elementos mais básicos como as linhas, as cores primárias e as relações entre elas, traz respostas à esta estrutura psíquica que muitas vezes apresenta questões terapêuticas como os excessos, a falta de limite, os transbordamentos e invasões, oscilações, misturas e falta de contorno, equilíbrio e organização. Neste trabalho a paciente produziu esta imagem enquanto refletia sobre suas questões terapêuticas: limites e prioridades.

A exposição também me inspirou para uma proposta que foi feita ao grupo arteterapêutico, a partir de uma das legendas sobre o processo de Mondrian até chegar às suas obras tão características:
“A esta altura, suas pinturas não faziam mais nenhuma referência à realidade e seus escritos também deixavam claro que o artista não desejava mais ‘expressar intenções’, mas apenas ‘evidenciar relações’. Fez experimentos em seu ateliê com pedaços de papel colorido que montava na parede, ficando muito satisfeito com o efeito de sua obra.” (Grifos meus)
Partindo do princípio que é objeto de um grupo terapêutico o pensar sobre as relações, inspirei-me em Mondrian ao propor que o grupo vivenciasse esta experimentação com pedaços de papeis coloridos que inicialmente seriam produzidos de forma coletiva e em seguida relacionados e organizados em uma composição individual. Foi interessantíssimo perceber como as questões levantadas pelas participantes estavam diretamente ligadas à suas biografias e desafios pessoais.

A exposição também aborda a ligação do neoplasticismo com a arquitetura e traz maquetes criadas por Theo Van Doesburg. Em sua filosofia:
“... os artistas da De Stijl não buscavam a padronização. Eles se empenhavam em encontrar soluções específicas e desafiadoras para determinadas pessoas, espaços ou circunstâncias, tanto na arquitetura como no mobiliário ou na pintura.” (texto extraído do folder da exposição, grifos meus) 
Para uma paciente que está se pensando sobre novas possibilidades e outras construções que lhe tragam mais satisfação profissional e pessoal, propus um trabalho com inspiração nas maquetes de Van Doesburg, pois neste contexto o processo criativo que desafia a saída do bidimensional para o tridimensional mostra-se disparador de grandes reflexões, além de mobilizador de movimentos físicos, cognitivos e psíquicos. 
 Maquete de Van Doesburg


Considerações Finais
Na última semana mergulhei em um profundo diálogo com Mondrian, um artista que olhos mais desatentos podem vê-lo como "sem graça" ou "bobo". Mas o processo de gestação deste texto, que se estende desde a minha primeira visita à exposição até esta publicação, foi um grande desafio para mim. Pude me ouvir o quão difícil foi selecionar e sintetizar em um breve texto tudo que Mondrian tem me tocado e me provocado a pensar. Percebi que este fato nada mais é do que o reflexo de uma das grandes lições que o artista me trouxe até o momento, que também coopera para meu estilo: quanta coisa é possível criar e influenciar a partir do que há de mais simples! Mondrian nos ensina que simplificar não é empobrecer, mas um processo (que sim, demanda muito trabalho) de limpeza de ruídos e excessos para a abertura do novo e quantas possibilidades couberem em nossas mãos!


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

ARTE, SAÚDE E ARTETERAPIA NA AGENDA

por Flávia Hargreaves
contato: fmhartes@gmail.com


fonte: http://www20.caixa.gov.br/Paginas/Noticias/Noticia/Default.aspx?newsID=4048


NOVEMBRO PLENO

O mês de novembro entra em cena trazendo muitas oportunidades para os interessados pela articulação dos temas Arte,Saúde e Arteterapia, entre exposições, palestras e outros eventos. Seguem algumas sugestões e alguns eventos dos quais eu participo como Olhares 2016 da Casa das Palmeiras e a homenagem a Tunga promovida pela AARJ (Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro). Importante ressaltar que a articulação entre os temas deverá ser o resultado da reflexão de cada um de vocês, leitores, e não esperem de mim algo prêt-à-porter, pronto para levar e usar. Então, respirem fundo, se encham de disposição e aproveitem as oportunidades que a cidade oferece.

ARTE


Folhetos das exposições de Mondrian e Picasso no Rio de Janeiro.


Duas exposições de Arte imperdíveis em cartaz no Rio de Janeiro. Picasso: mão erudita, olho selvagem no Centro Cultural da Caixa até dia 20 de novembro; e a recém inaugurada exposição  Mondrian e o Movimento De Stjil, no CCBB até 9 de janeiro. Vale lembrar que a Caixa não funciona às segundas e o CCBB às terças.

Fui visitar as 2 exposições no dia 26 de outubro, numa quarta-feira de manhã e fiquei surpresa com a falta de público na exposição de Picasso (1881-1973), cujas obras vieram exclusivamente do Musée national Picasso-Paris. Espero que ao lerem o trecho abaixo fiquem inquietos e saiam correndo para o centro cultural. Mesmo quem já teve oportunidade de ver as obras, tenham em mente que sempre que revemos, "vemos de novo" diferente...
"Pelo fato de Picasso ter conservado essas obras a vida toda, e porque boa parte desse conjunto 'viveu' a seu lado, a coleção do Musée national Picasso-Paris permite  que o público consiga enxergar a intimidade do artista e seu processo criativo. Sendo a mais completa coleção de obras do mestre, esses 'Picassos de Picasso', oriundos diretamente dos seus ateliês, são testemunhas excepcionais e fonte de questionamento do gênio picassiano". (texto extraído do folder da exposição Picasso: mão erudita, olho selvagem, Caixa Cultural, Rio de Janeiro, 2016. grifos meus).
Pela primeira vez vi um "Mondrian". Já escrevi neste blog sobre a arte abstrata e a geometria na perspectiva da arteterapia, e Piet Mondrian (1872-1944) foi um artista revolucionário que, como Kandisnky (1866-1944), buscou na abstração novas formas para a expressão humana. Os três artistas citados foram contemporâneos, e fico imaginando cada um deles mergulhados na sua produção no ateliê trilhando caminhos tão diversos. A geometria não é estranha a nenhum deles, mas Picasso trilha um caminho figurativo; Kandinsky e Mondrian trazem uma abstração e uma geometrização diversa mas ambos profundamente influenciados pela música. No caso de Mondrian, o jazz e o bebop

Voltando ao meu passeio pela exposição de Mondrian, sempre tive a impressão de que sua pintura teria aspecto plano, "perfeito". Até então meu contato fora a partir das reproduções fotográficas de livros. Mas, ao ver a pintura tão de perto percebi as pinceladas e pensei em todo o seu esforço para se afastar do mundo natural, da representação do homem, da natureza, dos objetos rumo a um abstrato geométrico com cores básicas, mas haviam as pinceladas, este toque tão naturalmente humano ou o detalhe das barras pretas interrompidas antes de chegar às bordas do quadro ... ainda não sei explicar, mas estes pequenos detalhes me fizeram parar e me emocionar. Mondrian para mim é um artista inspirador pela sua obstinação e inabalável convicção no seu caminho, na busca do movimento dinâmico em equilíbrio e de uma nova forma para um novo tempo.

ARTE E SAÚDE

Exposição Olhares: Casa das Palmeiras, 60 anos de resistência. Fotografia de Gabriella Massa Campos.

Para pensar no potencial da expressão artística na promoção da saúde, não poderia deixar de citar Nise da Silveira e a Casa das Palmeiras, onde sou colaboradora desde 2014. 

No dia 22 de outubro teve início a segunda edição do evento Olhares, desta vez comemorando 60 anos de resistência da Casa das Palmeiras.  Até dia 12 de novembro estará aberta aos sábados a partir das 15h com exposição, performances e palestras.

Na inauguração foi apresentado o projeto de higienização das obras do acervo danificadas no incêndio de 2006, coordenado pela artista plástica Terezinha Losada, realizado em parceria com a UNIRIO. No dia 29 de outubro, o Prof. Emérito da UFRJ Emanuel Carneiro Leão proferiu palestra sobre a obra de Nise da Silveira. No próximo sábado, dia 5, palestra com o psiquiatra e superintendente de Saúde Mental do Município do Rio de Janeiro, Dr. Hugo Fagundes e a equipe da Casa das Palmeiras, da qual participo, com Sônia Andrade Barros, Dr. Jean Pierre Hargreaves, Maddi Damião Jr., Martha Pires Ferreira; e teatro com Luis Marra apresentando "O Alienista" de Machado de Assis. Encerrando o evento, no dia 12, teremos performances e apresentações de Arte com Martha Niklaus, Suely Farhi e Martha Pires Ferreira.

ARTE, SAÚDE E ARTETERAPIA


 


Enfim, chegamos à Arteterapia. Acreditando que tudo está interligado, me considero privilegiada e presenteada com tantas possibilidades ao alcance da mão neste final de outubro seguindo por novembro. Para quem foi no congresso na Bahia em outubro, é só manter o pique.

No próximo domingo dia 6 de novembro, a AARJ (Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro) promove evento "O mundo que a gente constrói e o mundo que a gente vive", que faz homenagem ao artista Tunga (1952-2016), com palestras e oficinas. Estarei participando ao lado de Marise Piloto conversando com o público sobre a obra de Tunga, Arte Contemporânea e a Arteterapia. Luciana Pellegini e Luciana Menz irão coordenar as oficinas do evento. 

No dia 21, no II Ciclo de palestras Não Palavra, vou apresentar o tema O Arteterapeuta e a Arte, reflexão que tem me mobilizado ao longo de 2016. Sempre trouxe em meus textos e palestras o tema da Arte e da História da Arte em diálogo com a prática da Arteterapia, mas nos últimos tempos tenho voltado a minha atenção para a relação deste profissional com a Arte, de um modo mais íntimo e pessoal. Como anda a sua produção de imagens? Frequenta ambientes de arte? Ateliês, galerias, museus, a rua...? Enfim, como se dá esta relação e qual seria a sua relevância.
_________________________________________________________________________

ANOTE NA AGENDA

ARTE
- Picasso: mão erudita, olho selvagem no Centro Cultural da Caixa até 20 /11/16.
- Mondrian e o Movimento De Stjil, no CCBB até 09/01/17.

ARTE E SAÚDE
- Olhares: Casa das Palmeiras, 60 anos de resistência, na Casa das Palmeiras, Sábados a partir das 15h, até 12/11/16. Não é necessário se inscrever.

ARTE, SAÚDE E ARTETERAPIA
"O mundo que a gente constrói e o mundo que a gente vive" -  Homenagem a Tunga, na Casa 2, dia 6/11/16, das 15h às 19:30h. Inscrições: aarjdivulga@gmail.com
II Ciclo de palestras Não Palavra. O Arteterapeuta e a Arte com Flávia Hargreaves. Dia 21/11/16 às 18:30. Inscrições: naopalavra@gmail.com

Vou parando por aqui e sejam bem-vindos a NOVEMBRO!!!!


Caso tenha dificuldades em postar seu comentário, nos envie por e-mail que nós publicaremos no blog: naopalavra@gmail.com