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segunda-feira, 5 de setembro de 2016

ARTETERAPIA – DANDO VIDA E COR - RESSIGNIFICANDO HISTÓRIAS

Nesta segunda-feira (05/09/16), o Não Palavra traz novos olhares, recebendo duas convidadas muito especiais: ROSÂNGELA ROZANTE no II Ciclo de Palestras apresentando o tema ARTETERAPIA NAS EMPRESAS (ver: https://www.facebook.com/events/828406640593405/  ) , fundamental para se discutir o nosso mercado de trabalho, e a contribução de TANIA SALETE neste blog, compartilhando sua experência profissional com o texto a seguir.

Preciso deixar registrado o nosso agradecimento pela confiança depositada em nosso trabalho - Não Palavra - e como este passo é importante no reconhecimento de que a jornada que iniciamos há três anos têm contribuído para gerar discussões entre estudantes e profissionais da Artetereapia.  Trazendo questões, às vezes polêmicas, sobre a formação profissional, a importância da produção textual e do estudo continuado, as novas possibilidades trazidas pelo ead e as ferramentas virtuais, a aproximação com a Arte e as muitas abordagens possíveis na nossa prática, reflexões sobre o uso dos materiais expressivos, etc.

Muito obrigada também a todos os que nos acompanham nesta jornada compartilhando e comentando nossas publicações.

Flávia Hargreaves

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ARTETERAPIA – DANDO VIDA E COR - RESSIGNIFICANDO HISTÓRIAS
por Tania Salete de A. Moreira
Arteterapeuta AARJ 680/0615
Fonoaudiologa – 4255/CRFa
Psicopedagoga

O arteterapeuta é por princípio um investigador, um pesquisador, um ser que já traz em seu DNA o chamado “bicho carpinteiro”, sempre em busca de aprender e conhecer coisas novas, tanto na questão teórica, quanto na parte prática, como experimentar, misturar, descobrir os elementos tão fartos da natureza com intuito de proporcionar ao seu cliente ou talvez, companheiro de jornada, ferramentas mais adequadas para suas descobertas pessoais, para seus mergulhos pessoais.

Quando conheci uma das arteterapeutas do grupo “Não Palavra”, Maria Cristina Resende, isso despertou o “bicho carpinteiro” dentro de mim, porque percebi que ela trazia na sua “mochila”, muito mais do que lápis de cor, pincéis, colas, papéis coloridos, imagens para aquela proposta de trabalho. Ela apresentou um conteúdo teórico diferente e profundo, um jeito apresentar a Arteterapia como quem coloca uma mesa farta e bonita, cheia de coisas saborosas. Desde então, fiquei interessada em conhecer mais sobre este grupo com nome tão inusitado e que propunha uma ação palpável, bem distinta de tudo que já havia pesquisado e que estava muito próximo do que eu buscava. Na primeira chance que tive, acessei o blog e fiz a inscrição no curso de Arteterapia: Conhecendo os materiais e aprendendo a usá-los, com a Profª Flávia Hargreaves.  O curso tem uma abordagem essencialmente prática, além de reflexiva e com discussão sobre as técnicas artísticas ao longo da História da Arte.  Além das experimentações propostas, havia o incentivo para que cada aluna, dentro de seu contexto especifico de trabalho, aplicasse as técnicas aprendidas com seus pacientes/grupos e se possível, transformando-as em novas possibilidades.

Experimentando, transformando...

Semanalmente participo de um grupo que voluntariamente proporciona atendimentos através de grupos terapêuticos em uma Comunidade para Mulheres Adictas egressas de rua.  Este grupo tem demandas muito específicas e trabalhamos com temas próprios de grupos de apoio, onde há momentos para reflexão, atividade em Arteterapia e compartilhamento.

Refletindo sobre as propostas da aula e o texto que li de Maria Cristina Resende sobre “Observações da clínica” (20/06/2016) que diz “´[...] a realidade que se cria dentro do consultório precisa ser potencializada até que transborde para fora daquele espaço terapêutico, e então as experimentações de materiais se transformam em experimentações na vida e, portanto, de vida!”, propus uma experimentação que evidenciaria uma das grandes dificuldades que estas mulheres possuem e que as levaram para condições de drogadição e suas consequências terríveis: a falta de limites na vida. Nossa proposta naquele dia era que elas, através dos materiais, experimentassem a importância de respeitar os limites estabelecidos na vida e no corpo.     
      
Na aula do curso sobre cor – Tonalidades do cinza,  a proposta era fazer três tons de cinza. Porém, na comunidade terapêutica fiz a seguinte aplicação e proposta: Elas poderiam escolher apenas uma cor.  O material disponibilizado para cada uma: 3 copinhos, pouco de tinta branca, pincel, agua e paninho para secar pincel, um disco de isopor. Com a tinta escolhida, cada uma deveria  fazer  três tonalidades da mesma cor e pintar apenas metade do disco. Depois faríamos outra atividade e retornaríamos para concluir esta pintura.

Obs.: No caso delas, oferecemos opções de cores, pois é necessário dar cor e vida onde não se tem mais. Resgatar o colorido e a possibilidade de escolher a cor que se quer pintar a vida. 



Na realização da atividade, algumas já se perceberam ultrapassando os limites do que foi solicitado e como nem sempre é possível retornar ao estágio anterior. Ao término, com os trabalhos concluídos, houve um tempo de reflexão pessoal e de conscientização sobre a importância de se impor limites, de se respeitar as regras para uma vida mais saudável e produtiva.

Em outra ocasião usamos a experiência da aula sobre Descolorir, cobrir e apagar – Preto e Branco para trabalhar o tema lidando com as feridas emocionais. 

Na aula do curso a proposta era escrever uma palavra ou desenhar uma imagem com caneta hidrocor preta e cobrir com a tinta guache branca. Anotar o que aconteceria. No caso, ficou uma sombra do desenho e quando virou-se ao contrário, o desenho aparecia ainda mais nítido.


Segundo Jung, “não há despertar de consciência sem dor. As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do absurdo para evitar enfrentar a sua própria alma. Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão.

Aplicação  da proposta na Comunidade Terapêutica:

Material: Um coração de tecido, uma caneta hidrocor, um pedacinho menor de pano, cola de tecido. Proposta era elas escrevessem o nome do que estava ferindo ou que feriu o coração delas. Depois deveriam colar o tecido da mesma cor em cima de cada palavra, tentando esconder as feridas, “esquecer”.  Depois, nós da equipe, pingamos o alcool em cima de cada tecido colado e a imagem ficou toda manchada e sobressaiu ainda mais do que antes. Ou seja, não adiantou tentar “tampar ou esconder com o pano por cima”, porque a ferida estava aberta, sem ser tratada não seria cicatrizada, continuaria doendo. Precisava do tratamento certo.

A reação foi imediata. Elas ficaram olhando a ação do álcool sobre o tecido e atônitas com que acontecia. Algumas reagiram dizendo que estava muito pior do que antes, que não adiantou nada colar o outro tecido em cima e várias outras observações espontâneas foram ditas. Muitas chegaram a conclusão óbvia de que sem uma decisão da parte delas que envolvesse perdão, reconciliação com a família, consigo mesma e com sua história não haveria recuperação.


Conclusão:

Foram apenas três meses de um rico e produtivo Encontro com outras pessoas incríveis neste curso, mas que tem dado muitos frutos até hoje. Não que esteja completa. Longe disso. O “bicho carpinteiro” é sedento por demais para sossegar com apenas 13 aulas. Quero muito mais, porém tenho aprendido que “a vida é grande demais e que devemos dar um passo de cada vez”! É possível fazer o melhor para si mesma e para a profissão, estudando, aprendendo, trocando, mas do jeito que se é, porque todos nós somos seres humanos, tratando de seres humanos que também tem dores, sofrem, querem, buscam uma chance e que com as ferramentas tão democráticas diversificadas, abrangentes e ricas que a  Arteterapia proporciona podem ressignificar suas vidas, suas histórias e dar sentido e propósito às suas existências.




Caso tenha dificuldades em postar seu comentário, nos envie por e-mail que nós publicaremos no blog: naopalavra@gmail.com

2 comentários:

  1. Amiga Tania, que texto maravilhoso! Você tem usado com excelência o dom que Deus te deu. Parabéns! Aprendendo muito contigo, orgulho de ser sua amiga. Superação é a palavra pra ti! Grande beijo.

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  2. Parabéns Tânia pelo enfrentamento do desafio com sucesso e pela gentileza de compartilha-lo de forma tão bela e colorida. Bjs. Bia

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