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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A DESCONSTRUÇÃO DO AUTOR DIANTE DA SUA OBRA - Um relato sobre as palestras do mês de setembro (2015)

Por Maria Cristina Resende



Quando falamos em obra, podemos tomar este termo como uma imagem geral. Sendo esta todo o produto do nosso desenvolvimento pessoal/profissional/espiritual que se manifesta em algo.

“[...] criar é basicamente formar. É poder dar uma forma a algo novo. [...] novas coerências que se estabelecem para a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e compreendidos em termos novos.” (Criatividade e Processos de Criação).

Ao longo do mês de setembro falei em alguns locais sobre uma linha de pesquisa a qual tenho me dedicado que é compreender o processo de criação e a livre expressão em um ateliê de Arteterapia. Este tema tem sido objeto de muitas controvérsias internas, de muita busca teórica e com isso acaba por revelar alguns buracos teóricos que habitam minha trajetória acadêmica e de formação profissional.

Buscar preencher esses buracos exige dedicação, estudo e principalmente abertura para a desconstrução de perspectivas e pensamentos pré-definidos.

Dentro do ateliê de livre expressão e experimentação o terapeuta pouco fala e muito observa, muito percebe os movimentos de seu cliente. Precisa conhecer profundamente cada material, na teoria e na prática, precisa saber como se dá um processo de transferência, pois ele pode estabelecer uma ponte muito segura para o mergulho na criação ou não. E desse processo estabelecido de forma negativa pode vir também a dificuldade em realizar obras que capturem os conteúdo carregados emocionalmente que precisam ser trabalhados no setting.

É importante que o terapeuta descontrua a ideia da representação, pois nada é representacional, mas sim uma manifestação existencial de algo que habita uma camada de nossa psique que a arte tem o privilégio de acessar, ainda que nem sempre acesse coisas bonitas.

“Eu acho que eles não deveriam olhar para, mas olhar passivamente e tentar receber o que a pintura tem a oferecer, não trazer uma questão ou uma ideia pré-concebida sobre o que é pra ser procurado. Eu acho que o direcionamento que o inconsciente faz significa muito ao olhar as pinturas. Eu acho que elas deveriam ser desfrutadas como uma música.” (Jackson Pollock).

Essas idéias pré-concebidas que Pollock nos fala, são os modus operandi nos quais nos moldamos ao longo de nossa vida, e assim como nosso cliente precisa se esvaziar dessas ideias para começar um processo de criação autêntico e singular, nós, enquanto terapeutas, precisamos da mesma busca na nossa trajetória profissional. Se não mergulharmos no nosso processo de tensão-krísis-kaos-criação, corremos o risco de tudo não passar de uma grande brincadeira de cortar e colar.

E esse mergulho, na Arteterapia, se dá através dos materiais de arte, das possibilidades de criação através deles e da ampliação da percepção do fluxo psíquico diante dessas possibilidades, deixar ser levado por materiais e técnicas que antes nunca foram experimentados ou que nunca foram atraentes. Não se preocupar com o que está sendo feito, mas como está sendo feito.

Alcançar a “consciência do agido e do ato”. Essa deve ser a máxima dentro do processo de nosso cliente e do nosso próprio processo existencial.

“[...] a arte é a consciência de algo de que, de outra forma, não se teria consciência: não há dúvida de que ela amplia a experiência que o homem tem da realidade e lhe abre novas possibilidades de ação. E o que é conscientizado pela consciência que se realiza na operação artística? O fenômeno enquanto fenômeno. A consciência ‘racional’ assume o fenômeno enquanto valor, mas no mesmo instante perde-o como fenômeno. A finalidade última de Kandinsky é levar o fenômeno enquanto tal à consciência, de fazê-lo ocorrer na consciência; como o fenômeno é existência, aquilo que se leva e se faz ocorrer na consciência é a própria existência. Esta é a função máxima da arte.” (ARGAN, Giulio. Arte Moderna. 5ª reimpressão. Ed. Companhia das Letras. 1998).


Yves Klein em seu "Salto no Vazio". Fotografia: Harry Shunk "Um Homem no Espaço! O Pintor do Espaço Lança-se no Vazio" (1960).


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