Flávia
Hargreaves
Nas
palavras da artista e professora Lourdes Barreto, a aquarela
“[...] essa matéria fluida colorida deve ser dominada,
controlada, seguida,
sem espaço para indecisões.”
Está claro que a
qualidade de fluidez deste material não é colocada em questão, mas a afirmação
acima deve saltar aos olhos dos arteterapeutas. Percebo uma contradição entre o
olhar do artista e o do arteterapeuta, que parte desta fluidez para propor
justamente o “deixar fluir”, direcionando as técnicas com tintas diluídas,
aguadas para pessoas enrijecidas, colocando-as em contato com o fato de que não
é possível manter a vida, as emoções sob controle, etc.
O que podemos
aprender trazendo esta perspectiva, esta mudança de atitude diante da aquarela
para a nossa pratica em Arteterapia? Ao invés de usá-la com o intuito de
“soltar”, poderíamos lançar-nos no desafio de “controlar” o que tende a “fugir
ao controle”, buscando soluções técnicas e criativas para estas situações?
“Não há espaço
para indecisões” remete à necessidade que em certos momentos da vida somos
chamados a fazer escolhas sem hesitação, chamar a função pensamento para conter
afetos fora de controle. Diante de uma matéria que insiste em expandir,
escorrer, vazar, o artista/cliente precisa buscar meios de conter os “excessos”
e os “transbordamentos”.
Decidi pessoalmente
experimentar este modo de pintar a aquarela trazendo a geometria para traçar as
linhas de base, trazendo a regra, a estrutura como pano de fundo para a
aquarela. Aquarelas geométricas já foram muito exploradas em arte, como podemos
observar na obra de Paul Klee. Mas voltando à Arteterapia, minha experimentação
parte da contradição inicial de um material fluido, que escapa, e da geometria
que remete ao controle e à permanência. Mergulhei nesta tarefa de trabalhar a
aquarela com as limitações de contornos retos e circulares.
A geometria traçava
um ponto de partida, com réguas, esquadros e compasso. Eles me deram segurança
para iniciar, mas não fui inflexível no respeito às linhas traçadas, nem tampouco
as abandonei ou as perdi de vista. Fui maleável, permitindo algum
transbordamento aqui e ali. Depois de alguns ensaios, liberei as mãos da régua
e do compasso e segui construindo minhas formas retas e circulares à mão
“livre”. As palavras são sempre sugestivas...
Esta experiência,
me fez retomar um tema que me é muito caro, o uso dos materiais em Arteterapia.
Acredito ser fundamental que o arteterapeuta se experimente no diálogo com os
materiais, sem preconceitos, explorando suas técnicas e abordagens tradicionais
e pesquisando e experimentando novas possibilidades. O desafio passou a ser ficar no material, não
pular de um para o outro, de uma técnica para outra. Ficar no material, insistir,
para dar espaço para que o material mostre suas contradições.
O mesmo material
poderá servir de meio para caminhos opostos. Ao perceber o transbordamento de
suas emoções, o descontrole, que se desdobra em situações que trazem sofrimento,
a utilização de uma técnica aguada em Arteterapia poderá tornar visível esta
situação. E o mesmo material poderá ser trabalhado no sentido de transformar
esta relação com as emoções, organizando, dando um sentido, um continente, usando
a aquarela a partir da perspectiva de conter os excessos, dar uma direção, etc.
E isto será possível tecnicamente compreendendo a dinâmica das áreas secas e
úmidas. Não precisamos mudar o material, mas insistir nele, afinal estamos
diante do mesmo indivíduo, com o mesmo material.
O desafio de “ficar
no material” foi proposto aos participantes do Grupo de Estudos em Arteterapia,
que coordeno com Maria Cristina de Resende, e no curso “Conhecendo os materiais
e aprendendo a usá-los”, ainda em andamento.
No dia 6 de julho
de 2015, estarei compartilhando um pouco desta experiência com a geometria, no
contexto da contribuição da Arte Abstrata na pratica da Arteterapia, no ciclo
de palesras Não-Palavra: Pensando a Arteterapia.
Para os
interessados na articulação das Artes Visuais e da Psicilogia na Arteterapia, o
Grupo de Estudos: o encontro da Arte e da Psicologia na pratica da Arteterapia
estará iniciando um novo módulo dia 13 de julho.
AGENDA
Ciclo de palestras Não-Palavra:
Pensando a Arteterapia
Dia 6 de julho| SEG | 18h às
20h
“Artetrapia”
e “Abstração na Arte” com
Flávia Hargreaves
Investimento:
R$ 15,00 por palestra Local: Botafogo.
VAGAS LIMITADAS. INSCRIÇÕES
ANTECIPADAS SOMENTE POR EMAIL : naopalavra@gmail.com
Grupo de Estudos: O Encontro
da Arte e da Psicologia na prática da Arteterapia
com Flávia Hargreaves e Maria Cristina de Resende
SEG | 18h às 20h
2 encontros por mês - Início dia 13 de julho
Investimento:
R$ 150,00 por mês Local: Botafogo.
VAGAS LIMITADAS. INSCRIÇÕES
ANTECIPADAS SOMENTE POR EMAIL : naopalavra@gmail.com