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terça-feira, 27 de maio de 2014

Olhares: Casa das Palmeiras

por Flávia Hargreaves



Para os amantes da imagem, em especial aquelas criadas livremente, sem as amarras da Arte e seus discursos, imagens capazes de tornar visíveis as imagens do inconsciente, não podem perder esta oportunidade que a Casa das Palmeiras oferece abrindo suas portas todos os sábados até o dia 7 de junho para a exposição Olhares.

Além da exposição, o visitante poderá acompanhar o ciclo de palestras Olhares 2014, sempre aos sábados às 17 horas, promovendo a discussão sobre os diversos olhares sobre o tema.

"A Casa das Palmeiras é uma instituição sem fins lucrativos criada pela Dra. Nise da Silveira, em 1956, que utiliza as atividades expressivas como meio de reorganização do mundo interno. Segundo ela, as imagens são o meio mais direto para acessar o inconsciente e, também, o meio pelo qual o inconsciente consegue se expressar da maneira menos propensa a equívocos."

Olhares conta com a curadoria do Dr. Jean Pierre Hargreaves, psiquiatra e atual presidente interino da Casa das Palmeiras, e marca o início de uma série de iniciativas com o objetivo de divulgar os trabalhos desenvolvidos nos ateliês, além de incentivar o aprofundamento do estudo de imagens na área de saúde mental, através de palestras, cursos e grupos de estudo.

No dia 7 de junho às 16h, Martha Pires, coordenadora de artes plásticas da Casa das Palmeiras, apresenta a performance "Alegoria a Jaime". 

A exposição ficará aberta a visitação até dia 7 de junho, somente aos sábados.

Palestras

DIA 31 de maio - sábado às 17h
- Carlos Bernardi - analista junguiano, supervisor da Casa das Palmeiras - "Jung e o método Nise da Silveira"
- Patrícia Casqueiro Gois - artista teatral, especialista em Psicologia Junguiana - Arte e Imaginário, e coordenadora de teatro na Casa das Palmeiras - "A teatralidade do inconsciente"
- Flavia Hargreaves - arteterapeuta e professora de artes visuais - "Olhares possíveis"
Mediadora: Maria Teresa Martins - psicanalista e diretora técnica da Casa das Palmeiras.
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DIA 7 de junho - sábado às 17h
- Luiz Fernando Lobo - diretor teatral.
- Clara de Góes - psicanalista da Escola de Psicanálise Letra Freudiana; professora da UFRJ; e dramaturga  - "A poesia de lalingua"
Mediador : Jean Pierre Hargreaves - psiquiatra e presidente interino da Casa das Palmeiras.


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Local: Casa das Palmeiras
Rua Sorocaba 800 - Botafogo - Rio de Janeiro

Visitação: Sábados das 14h às 20h
Palestras: Sábados às 17h.

Tel.: 21 2266 6465
https://www.facebook.com/events/230029783854529/

segunda-feira, 19 de maio de 2014

"ARTETERAPIA: HISTÓRIA DA ARTE PARA QUÊ?" NO CONTEXTO ESCOLAR

  Henri Matisse. A Dança. 1909-10. Acervo Leningrado. Ermitage.

             O texto de hoje foi escrito por Mariana Cunha, aluna do curso "Arteterapia- História da arte para quê?" Módulo I: Pré-História e Primitivismo. Nele, Mariana articula ideias sobre a aplicabilidade do que vivenciou no curso em sua prática como professora de Artes Plásticas no contexto escolar, especificamente no ensino público, dando ênfase a dois pontos abordados no curso: Invasão e proteção / Domínio e identidade.
Bem-vinda Mari!


           Como professora de Artes Plásticas do Ensino Básico, considero a importância do aprendizado e da aplicação da Arteterapia em minhas aulas. Especialmente por lidar com crianças e adolescentes da rede municipal do Rio de Janeiro; indivíduos extremamente carentes. Meus alunos sofrem abusos psicológicos, físicos e até mesmo sexuais; além de um forte descaso familiar no que pertence ao afeto, ao cuidado da mente e do corpo.
O “primitivismo” traz consigo questões básicas e essenciais próprias de indivíduos que conviviam (convivem?) em grupos pequenos, em codependência e cooperação, e distantes das complexidades sociais que foram criadas conforme as tribos viraram povos e depois se transformaram em nações. Questões essas que foram sendo praticamente escorraçadas de nossas vidas, em uma tentativa de fugir ao máximo da animalidade, da emoção, do instinto e do desejo. Percebo uma fuga do tempo, quando tudo precisa ocorrer como se não houvesse um amanhã e o paradoxo de se viver para o futuro; a fuga da conexão entre tudo e todos, onde a individualidade é confundida com o individualismo; a fuga do olhar e do cuidar do outro.
Percebo diariamente a carência do primitivo em meus alunos e em suas famílias. Muitos confundem o termo com o sujo, com a falta de racionalidade e com a emoção pura. Porém, observando-se os indivíduos tribais ou “pré-históricos” noto o cuidado e defesa da prole até a independência e o encorajamento da mesma (hoje vejo o descaso quase que total na educação dos filhos), o respeito ao líder e o líder que respeita (hoje vejo pais e filhos se tratando à base de xingamentos e violência), dentre outros problemas. Isso tudo reflete diretamente dentro da escola nas relações aluno-professor e aluno-aluno. A seguir, considerações de pontos vistos no curso que mais despertaram minha atenção.

Invasão e proteção / Domínio e identidade
Percebo a invasão dos dois lados. Preciso estar atenta o tempo todo para não invadir ou ser invadida. Como os meus alunos são carentes e às vezes parecem enxergar em nós professores os seus tutores exigem atenção constante.
Essa questão deve ser vista dos dois lados: ao mesmo tempo que sinto a necessidade de também ensinar “por favores”, “obrigados” e “desculpas”, entendo que o resultado jamais será imediato. A paciência precisa ser exercitada o tempo todo e é importante cuidar para não invadir o outro com uma puxada de braço para entrar na fila, uma ameaça constante de castigo, uma humilhação e uma exposição pública. Entretanto, tais autoritarismos são frequentes na escola, ainda que de forma velada e negada pelos professores. E a invasão em mim acontece de duas formas: através da contaminação desses comportamentos “educacionais”, fazendo com que eu acabe agindo da forma que eu discordo; e através dos próprios alunos que me exigem sempre e me “contaminam” com suas carências afetivas, fazendo com que eu me envolva emocionalmente.

Por fim, relato brevemente uma aula experimental que acabou sendo pertinente às discussões sobre o círculo de proteção. Era uma turma de 1º ano do Ensino Fundamental do Ciep Almir Bonfim de Andrade, SME-RJ, com crianças entre 6 e 7 anos de idade. A aula foi simples: modelo vivo. A cada vez, um aluno faria uma pose simples para o restante da turma desenhar. Poderia ter deixado os alunos sentados em suas cadeiras mas optei por levá-los ao pátio e sentá-los em roda. Isso implicaria corridas e brincadeiras do tipo pega-pega e fugidas ao parquinho. Para evitar isso e não ter a necessidade de gritar, transformei a roda em algo lúdico. Quando consegui fazer com que todos sentassem em círculo, desenhei uma linha com giz em volta deles e disse: “quem sair do círculo vai pagar um mico no meio da roda”. Mesmo sendo “micos” muito leves, a introdução de uma regra com uma consequência para a desobediência os manteve dentro do círculo. Os tímidos evitaram sair. Os que queriam pagar o tal mico, jamais saíram correndo para fora do círculo: simplesmente levantavam um pouquinho para sentarem fora da linha e esperavam eu flagrar para enfim mandá-los ao centro e pagar a prenda. O círculo, enfim, serviu como uma proteção da própria aula. O ambiente ao redor deixou de ser sedutor, e todos ficaram atentos ao que estava sendo passado. O meu papel foi simplesmente ficar do lado de fora do círculo de giz, circundando os aluno, observando e incentivando os desenhos. Dessa forma, criei um segundo círculo de proteção.

Abaixo dois links de vídeos sugeridos por Mariana.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

AS PRIMEIRAS IMAGENS - Pré- História e Primitivismo

                                                                 Trabalho de aluna do Módulo I (com sua autorização)

Por Eliana Moraes e Flávia Hargreaves

“... a arte pouco tinha a ver com ‘beleza’ e nada tinha a ver com contemplação estética ... : era um instrumento mágico, uma arma da coletividade humana em sua luta pela sobrevivência.” (FISHER, 1981. P.45)


Em maio de 2014, com muito orgulho, concluímos a primeira e iniciamos a segunda turma do curso:  “Arteterapia, História da Arte para quê? Módulo I”, que trata da arte pré-histórica e primitiva articuladas à prática da Arteterapia. Mais uma vez tivemos a oportunidade de constatar a riqueza deste material como disparador de processos terapêuticos tanto individuais como em grupo, percebendo claramente a identificação com nossos ancestrais mais remotos em padrões de comportamento, angústias e temores contemporâneos.


“[... ] ao recriar as formas em nossa percepção, nós as modificamos subjetivamente, com nosso enfoque vivencial, projetando nossas experiências e nossos valores para a época e mentalidades diferentes das nossas. Apesar de todas essas distorções inevitáveis, entretanto, ainda resta um núcleo central de significados. É justamente no sentido mais essencial da arte, no sentido de valores e da ampliação de estados de consciência, que os desenhos pré-históricos nos enriquecem e nos comovem, a ponto de parecer-nos atuais para nossos problemas existenciais hoje. Encontramos, nessas imagens, o ser humano que desde o início se defronta com a dimensão de sua consciência. Ele se percebe e sabe da própria condição humana.” (OSTROWER, 1983. p.298. grifo nosso)

A História da Arte nos oferece recursos para amplificar ideias, conceitos, afetos e imagens ao ampliar as questões e as demandas do cliente à uma dimensão para além da história individual e familiar, relacionando-as ao Humano. Esta humanidade que se revela ao longo dos milênios através de imagens. Entrar em contato com este homem pré-histórico significa entrar em contato com o momento em que o homem se percebe no mundo, capaz de transformar a natureza em algo que lhe é útil, criando novas formas, funções e significados. São os primeiros passos em direção à civilização, à cultura e à arte.

“Essa magia encontrada na própria raiz da existência humana, criando simultaneamente um senso de fraqueza e uma consciência de força, um medo da natureza e uma habilidade para controlá-la, essa magia é a verdadeira essência de toda a arte. O primeiro a fazer um instrumento, dando nova forma a uma pedra para fazê-la servir ao homem, foi o primeiro artista. O primeiro a dar um nome a um objeto, a individualizá-lo em meio a vastidão indiferenciada da natureza, a marcá-lo com um signo e, pela criação linguística, a inventar um novo instrumento de poder para os outros homens, foi também um grande artista. O primeiro a organizar uma sincronização para o processo de trabalho por meio de um canto rítmico e a aumentar, assim, a força coletiva do homem, foi um profeta na arte. O primeiro caçador a se disfarçar, assumindo a aparência de um animal para aumentar a eficácia da técnica da caça, o primeiro homem da idade da pedra que assinalou um instrumento ou uma arma com uma marca ou um ornamento, o primeiro a cobrir o tronco de uma árvore ou uma pedra grande com uma pele de animal para atrair outros animais da mesma espécie – todos esses primeiros foram os pioneiros, os pais da arte.” (FISCHER, 1981. p.42)

Em breve estaremos iniciando o segundo módulo: Antiguidade Clássica e Classicismo, seguindo a jornada deste homem no caminho da civilização.


“Ao se afastar, mais do que os outros animais, das condutas determinadas pela espécie, ao quebrar laços instintivos que determinam sua conduta, o homem passou a estar condenado a própria liberdade: ele deve agora limitar a si mesmo, deve construir para si mesmo as determinações antes impostas pela natureza. Era este o sentido da palavra liberdade quando surgiu na Grécia antiga. [...] O homem é um ser que cria limitações para si mesmo. Sua grande liberdade é dizer não a si mesmo.” (MOSÉ, 2012. P.28).


Curso:
Arterapia: História da Arte para quê?
Módulo 1: Pré-história e primitivismo
Módulo 2: Antiguidade clássica e classicismo

Informações e inscrições: elianapsiarte@gmail.com


Referências Bibliográficas:
FISCHER, Ernst. A Necessidade da Arte. 8ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
MOSÉ, Viviane. O Homem que sabe. 4ªed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.

OSTROWER, Fayga. Universos da Arte. Rio da Janeiro: Editora Campus, 1983.