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segunda-feira, 1 de julho de 2013

O REPETIR, A ATUAÇÃO E O ATO CRIATIVO

            Há duas semanas escrevi um texto chamado “Repetição Criativa”, ao qual abordava a repetição verbal, quando um paciente se percebia falando repetidamente sobre sua questão. Mas hoje eu gostaria de falar do “Repetir” de outra forma.
Estive estudando o texto de Freud “Repetir, Recordar e Elaborar” de 1914. Meu interesse se deu pelo fato de estar intrigada com os conceitos de atuação e repetição, ao observar alguns pacientes. Nas palavras de Freud:

“... podemos dizer que o paciente não recorda coisa alguma do que esqueceu e reprimiu, mas expressa-o pela atuação ou atua-o (acts it out). Ele reproduz não como lembrança, mas como ação; repete-o, sem, naturalmente, saber o que está repetindo.”

“Enquanto o paciente se acha em tratamento, não pode fugir a esta compulsão à repetição; e. no final, compreendemos que esta é a sua maneira de recordar.”

“Podemos perguntar o que ele de fato repete ou atua (acts out). A resposta é que repete tudo o que já avançou a partir das fontes do reprimido para sua personalidade manifesta – suas inibições, suas atitudes inúteis e seus traços patológicos de caráter. Repete também todos seus sintomas, no percurso do tratamento.”

            Ao longo do processo terapêutico ou em cada sessão podemos observar pequenas atitudes – atuações – de pacientes que, estando o terapeuta atento pode entender como repetições de suas dinâmicas, que ele não se percebe, ou não recorda senão apenas em forma de ações. Exemplos clássicos como sua forma de lidar com o compromisso na terapia (pontualidade, assiduidade, pagamento), como se posiciona perante o terapeuta... Ou ainda as repetições em sua história de vida, seus sintomas físicos, episódios repetitivos, sensações frequentes, e muitas outros.
            Freud continua o texto defendendo pela teoria da psicanálise, que o instrumento principal do processo analítico para trabalhar este fenômeno reside no manejo da transferência. Entretanto, me motivei a escrever este texto ao perceber na minha prática como arteterapeuta, que vejo o Ato Criativo também como uma atuação e consequentemente é por definição uma repetição dos padrões de comportamento.
            Quando o paciente tem dificuldade de iniciar um trabalho, quando este trabalho fica vazio ou cheio, demasiadamente organizado ou desorganizado, com cores intensas ou cores pastéis, se se debruça sobre ele ou o executa de forma rasa, seus movimentos corporais, ou até mesmo quando projeta em mim como terapeuta alguma sensação em meio à sua criação (ver texto “A transferência e Arteterapia”), são apenas algumas das maneiras do paciente atuar no ato criativo.
Enfim tenho visto que a arteterapia é uma técnica bastante propícia para que estas repetições se presentifiquem durante o processo terapêutico. A arteterapeuta Maria Cristina Urrutigaray também defende esta ideia em seu livro*. Em suas palavras:

“... atuação autônoma atualizada em comportamentos... encontram na arteterapia um continente adequado à sua manifestação.” (pag 79)

“A materialização, proporcionada pelas formas surgidas, propicia o confronto com realidades subjetivas não conscientizadas, apesar de atuadas nos comportamentos emitidos.” (pag 83)


 * "Arteterapia - A transformação pessoal pelas imagens"

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