“A cor [ e/ou a forma
] é a tecla. O olho é o martelo. A alma é o piano de inúmeras cordas. Quanto ao
artista, é a mão que, com a ajuda desta ou daquela tecla, obtém da alma a
vibração certa.” Kandinsky
Desde que fui apresentada ao livro “Do Espiritual na Arte” (1954) escrito pelo
artista Kandinsky, estou encantada, lendo e relendo-o. Penso que todo
arteterapeuta deveria se debruçar sobre este livro que, muito antes de surgir a
técnica da arteterapia, já fala do quão profunda e pessoal é a experiência de
se fazer arte. Nas palavras do autor:
“Cada quadro encerra
misteriosamente toda uma vida, uma vida com seus sofrimentos, suas dúvidas,
suas horas de entusiasmo e de luz.
Para onde tende essa
vida? Para quem se volta a alma angustiada do artista, quando, também ela, participa
de sua atividade criadora? O que ela quer anunciar? `Projetar a luz nas
profundezas do coração humano, eis a vocação do artista` escreveu Shumann.” (p.
29)
Ratificando a proposta do nome deste blog, “não-palavra”
(ver em “Descrição do Blog”) Kandisky fala do potencial da arte de expressar
sentimentos tão profundos, aos quais as palavras não podem alcançar:
“Os sentimentos
elementares como o medo, a tristeza, a alegria, que teriam podido... servir de
conteúdo para a arte, atrairão pouco o artista. Ele se esforçará por despertar
sentimentos mais matizados, ainda sem nome. O próprio artista vive uma
existência completa, relativamente requintada, e a obra nascida de seu cérebro,
provocará no espectador capaz de experimentá-las, emoções mais delicadas, que
nossa linguagem é incapaz de exprimir.” (p. 28)
Este artista acredita que o fazer
arte proporciona uma experiência tão demasiadamente profunda, que ele a chama
de “espiritual”:
“A vida espiritual, a
que a arte também pertence e de que é um dos mais poderosos agentes, traduz-se
num movimento para a frente e para o alto, complexo mais nítido, e que pode
reduzir-se a um elemento simples. É o próprio movimento do conhecimento. Seja
qual for a forma que adote, conserva o mesmo sentido profundo e a mesma
finalidade.” (p 31)
Ele faz uma crítica à “arte pela arte”, que é contemplada com
um olhar frio e uma alma indiferente. E propõe uma “Mudança de Rumo Espiritual”
na arte:
“Quem quer que
mergulhe nas profundezas de sua arte, em busca de tesouros invisíveis, trabalha
para erguer essa pirâmide espiritual que chegará ao céu”. (p. 37)
Em breve trarei mais referências deste livro aqui no blog. Por
hora, convido você a ler este livro que tem me proporcionado uma profunda experiência
“espiritual na arte”.
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